BRASIL

Natal sem carne: alta nos preços atinge população mais pobre no mês das festas

Brasil de Fato  – Há 11 anos no comando dos churrasquinhos Juninho Grill, no bairro Luzes, em Belford Roxo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o churrasqueiro Gerson Velame viu seu público cair em 30% nos últimos dias, depois de aumentar o espetinho de carne de R$ 5 para R$ 7. O aumento do espetinho vendido por Gerson não é caso isolado e, sim, acompanha os altos valores atingidos pela carne que encareceram o fim de ano dos brasileiros.

“Eu comprava o quilo da alcatra a R$ 17, mas agora ela subiu para R$ 35. Ainda assim, não repassei para o consumidor todo o prejuízo com esse aumento, deveria subir o valor do espeto para R$ 8, mas estou tentando manter os clientes”, conta o churrasqueiro, que ouve reclamações diárias da clientela pelo valor cobrado pelos espetinhos.

Apesar da alta oficial ser de 8,1%, alguns supermercados vêm praticando valores bem maiores, como atestou Gerson. A inflação de novembro foi a pior a atingir a população em quatro anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto os memes sobre churrasquinho de ovo e pedaços de carne sendo carregados em carro-forte proliferam na internet, o churrasqueiro – assim como grande parte da população – não vê perspectiva de voltar a consumir carne como alguns meses atrás sobretudo no mês das festas de fim de ano.

Economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Sicsú afirma que dificilmente o governo federal fará uma intervenção no preço da carne. Ele explica que a falta de controle do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação à desvalorização do real, diante do valor do dólar, é um dos principais fatores para a perda do poder de compra da população brasileira.

“Os frigoríficos estão exportando e recebendo mais por isso em função da alta do dólar. Agora, vendem aqui dentro praticando o mesmo preço para o exterior. O dólar não pode ter toda essa volatilidade, de R$ 2,20 para R$ 4,20. E o governo não tem nenhuma política ou ideia para controlar o preço da moeda estadunidense, isso o Banco Central poderia fazer”, avalia Sicsú.

Mais pobres

Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado na última terça-feira (10) apontou que as famílias de renda mais baixa, somando até R$ 1.643,78 por mês, são as mais atingidas pela inflação. Além dos alimentos, os gastos com moradia também atingem o bolso dos mais pobres, principalmente, a partir do aumento das tarifas de energia elétrica, com a mudança da bandeira verde para amarela nas contas de luz.

“Esse cenário é extremamente negativo para aqueles que ganham menos. Quanto menor o rendimento, maior o gasto em alimentos. São famílias que comprometem mais seus orçamentos com comida. Isso faz com que a inflação para o pobre seja maior”, acrescenta o economista da UFRJ.

Redação DiárioPB

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