CRÔNICAS DO COTIDIANO

“NÃO OLHE PARA CIMA” – O FILME

Duvido que os negacionistas brasileiros contemporâneos consigam perceber as oportunas mensagens contidas no filme NÃO OLHE PARA CIMA, de Adam McKay. E os que perceberem se recusam a aceitar as sátiras e críticas muito bem elaboradas, nele colocadas. Os negacionistas, em razão do contágio de cegueira intelectual de que foram acometidos, teimam em não admitir as verdades inquestionáveis que a ciência tem nos oferecido. Um advogado, amigo meu, tentando justificar seu comportamento negacionista, me perguntou: mas, afinal de contas, o que é a ciência? A medicina pode ser considerada uma ciência? Lógico que nem me dei ao trabalho de responder tão absurda e estapafúrdia interrogação.

O filme aborda com absoluta maestria o estágio de ignorância a que parte da sociedade está se adaptando. Essa trágica comédia expõe como as pessoas, estimuladas por lideranças com posições políticas ou econômicas no exercício do poder, ousam questionar o que nos ensina a ciência quando apresenta fatos que não se permitem serem refutados. É natural que existam sempre opiniões contrárias e favoráveis sobre tudo que mereça um debate. Porém, insistir no negacionismo científico, apenas por uma motivação ideológica é, antes de qualquer coisa, uma atitude que beira à irracionalidade.

Mas, voltemos ao filme. Ele mostra o quanto as pessoas se dedicam a determinado ativismo político, sem conhecimento de causa, movidas por interesses pessoais ou de grupos. A oportunidade de alcançar a fama e o poder, influenciando comportamentos, moldando o caráter de alguns, encantados pela possibilidade de obter privilégios que são destinados às elites. A semelhança com a realidade que estamos vivendo não deve ser apenas uma coincidência. É, sem dúvidas, propositadamente uma crítica inteligente aos que acham que a ignorância é uma benção, quando pode ser útil a proveitos políticos.

É uma proposta reflexiva que agride os que se negam a enxergar o óbvio e se encaminham com vendas nos olhos para saltar no abismo. É uma advertência para aqueles que rejeitam observar a realidade das coisas, principalmente no campo político e social, com manifestações de pensamentos flagrantemente incoerentes e nocivos a si próprios.

A parte mais interessante do filme, é quando, no final, vemos dois comícios distintos. Um liderado pela presidente dos Estados Unidos, buscando convencer os americanos de que o meteoro não é uma ameaça, porque tudo está sob controle. Algo muito parecido com a forma como está sendo tratada a pandemia do coronavirus em nosso país. E, do outro lado, os cientistas querendo levar a verdade para o povo, como forma de adverti-los do perigo iminente.

O filme, portanto, tem causado grande alvoroço. Ele põe o dedo na ferida de forma contundente e verdadeira, dialogando com os tempos atuais. Vale a pena assistir.

Rui Leitão

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Rui Leitao

Rui Leitão nasceu em Patos e é radicado em João Pessoa. Jornalista, já foi responsável pela superintendência da Rádio Tabajara. Atualmente é Diretor de Rádio e Tv da EPC - Empresa Paraibana de Comunicação.

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