Música da Paraíba terá Festival
Um lauto café da manhã reuniu um público seleto para o lançamento do Festival de Música da Paraíba na manhã da última terça, 12, no mezanino do Espaço Cultural. Os convidados se confraternizaram animadamente ao som de um quarteto sinfônico da Orquestra Jovem. Gestores públicos, músicos e artistas locais prestigiaram o evento matutino que contou com a presença luxuosa do governador Ricardo Coutinho.
Numa rápida entrevista exclusiva, ele me disse que o festival seria uma forma que o Poder Público encontra para dar mais visibilidade à música produzida aqui. Disse que essa arte é uma das manifestações artísticas de maior qualidade produzida na terra que abrigou Zabé da Lóca, a pifeira falecida recentemente, que empresta nome a essa primeira edição.
Quem nasce, vive e cresce na Paraíba pode se orgulhar de usufruir de uma das melhores músicas produzidas no Brasil e não é de hoje. Não se sabe bem o porquê, mas na Paraíba a música aflora de modo sui generes, com uma beleza e força extraordinárias. Digo isso na condição de quem ouve música paraibana genuína desde a infância e de quem a profissão empurrou para a música através do rádio, desde 1983, quando assumi a mesa de controle da Rádio Constelação FM, no topo do Monte Virgo, na saudosa Rainha do Brejo.
O festival, que vai oferecer premiação de até R$ 10 mil, aparece como um plus no cenário da produção cultural local. De maneira ainda tímida, face à demanda crescente, o Governo da Paraíba tem dado, entretanto, passos firmes nesse quesito dos incentivos públicos à produção musical. A pancada do bombo parece ter mudado depois da passagem de Chico César pela Secretaria Estadual de Cultura, que foi desmembrada da pasta da Educação com sua posse.
Políticas públicas nítidas, como o projeto PRIMA, são exemplo desse esforço. O Governo percebeu que a música é um insumo farto e que precisa de melhor tratamento. E não basta possuir um “celeiro” rico se não puder dar condições de circulação dessem bem cultural. Daí surge ações louváveis como o Caminhos do Frio e Music from Paraíba, que fizeram os produtos dos nossos talentos chegaram nos interiores do estado e em vitrines espetaculares da música mundial.
O Festival de Música da Paraíba surge nesse cenário com um diferencial interessantíssimo: o suportes das Rádios Tabajara, numa surpreendente iniciativa da presidenta Maria Eduarda Santos. “Eu fico emocionada em ver esse projeto sair do papel”, disse ela na ocasião do lançamento. Para Duda, o advento das mídias sociais, as emissoras públicas passaram a alcançar públicos novos e diferenciados e isso fará toda diferença na difusão do festival.
Sandra Belê, uma das celebridades que prestigiaram o brunch de lançamento, diz que a iniciativa é oportuna e que os músicos, compositores e cantores devem aproveitar para tirar das gavetas suas produções, sem medo da avaliação. Já para Ilsom Barros, vocalista da banda Pau de Dar em Doido, há uma expectativa de que a curadoria do festival seja composta por pessoas que consigam analisar os concorrentes sem modelos musicais pré-concebidos, evitando o engessamento do festival. Natália Bellar também comemorou o lançamento do festival e disse que a Paraíba precisa conhecer seus novos talentos. “A gente quer que o festival venha pra ficar”, asseverou.
Além das Rádios Tabajara, o festival terá o suporte da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Fundação Espaço Cultural (Funesc). Poderão se inscrever artistas que residam na Paraíba, com idade superior a 14 anos, e com música autoral inédita. As inscrições começaram no dia 12 e terminam no dia 31 de outubro. A divulgação dos selecionados será feita no dia 21 de novembro. A primeira eliminatória está marcada para o dia 13 de janeiro de 2018, em Sousa, Sertão paraibano. A segunda etapa será em Campina Grande, em 20 de janeiro e final será no dia 27, em João Pessoa. O primeiro colocado levará R$ 10 mil, o segundo R$ 5 mil e o terceiro colocado fatura R$ 3 mil. Tem ainda R$ 2 mil para o/a melhor intérprete. Mais detalhes no hotsite www.festivaldemusica.pb.gov.br
Música versus Alzheimer
Um documentário (Alive inside) disponível no Netflix mostra como nossa memória afetiva pode ser facilmente ativada pela música. O filme mostra a saga de Dan Cohen, fundador de uma ONG (Music & Memory), que luta contra um sistema de saúde desumanizado e tenta demonstrar a capacidade da música de combater a perda de memória.
Os realizadores mostram como o ser humano depende da música desde os primeiros momentos de sua concepção, depois com a batida que ouvimos do coração da mamãe enquanto estamos no ventre. A música, certamente, é a primeira e a mais forte expressão da cultura humana. Ela cria marcadores emocionais na memória afetiva mais inconsciente. Eu lembro, por exemplo, que sempre usei a música como terapia nas recuperações durante e depois das minhas grandes crises falcêmicas.
Havia um período que eu até dormia ouvindo músicas. Desafortunadamente, jamais aprendi a tocar qualquer instrumento musical. Mas a música me faz muito bem e conviver com músicos ou num ambiente musical faz toda a diferença.
Adeus a Elias
A morte, ainda inexplicada, do professor Elias Bezerra da Silva, no sábado passado, na praia do Bessa, nos pegou a todos de surpresa. O corpo surgiu no mar um dia após ele ter saído de casa para uma pescaria de arrasto ainda mal contada.
Aos 67 anos, Elias era uma daquelas figuras meio folclóricas por quem as pessoas nutrem uma empatia quase instantânea. Alegre, brincalhão, cabeça, revolucionário, de bem com a vida, assim podia ser descrito. No carnaval passado nos deu uma força na organização do Bloco As Cuecas, que rende homenagens a Livardo Alves.
Elias nos contava histórias fantásticas de sua aventuras em Angola e de quando morou no sudeste do país. Era fanzoca de Chico Buarque e roqueiro extemporâneo. Seu último desejo (a cremação) não foi atendido, por razões que desconheço. Para os amigos de boemia fica apenas a certeza de que a tribo dos “malucos beleza” ficou menor e mais triste.
por Dalmo Oliveira