Múcio avalia saída do Ministério da Defesa e Lula insiste: “Segura a onda”
Presidente tenta manter o ministro no cargo, destacando seu papel na estabilização das relações com as Forças Armadas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu pessoalmente ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que permaneça no governo, mesmo diante do desgaste e do cansaço manifestados pelo titular da pasta. A informação foi publicada originalmente pela colunista Vera Rosa, do O Estado de S. Paulo, em reportagem que traz detalhes sobre as pressões e negociações nos bastidores de Brasília.
Segundo a apuração do jornal, Múcio, há meses, vem sinalizando que deseja deixar o cargo para ter mais tempo com a família, afirmando inclusive que gostaria de “cuidar dos netos”. Ao perceber que o tema da reforma ministerial voltou à pauta do governo, o ministro encontrou a oportunidade para discutir com Lula a possibilidade de sua saída. No entanto, o presidente pediu a Múcio que “segurasse a onda” e permanecesse no comando da Defesa, em especial pelo papel apaziguador desempenhado junto às Forças Armadas depois dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Além do pedido para que Múcio continue, o Planalto avalia o impacto de um projeto de lei enviado ao Congresso na terça-feira, 17, que estabelece idade mínima de 55 anos para a aposentadoria de militares a partir de 2032. Hoje, é possível ir para a reserva após 35 anos de serviço, com salário integral. A proposta integra o pacote de medidas de ajuste fiscal e cortes de gastos. Essa mudança vem preocupando o meio militar, que teme perda de investimentos e cortes em projetos estratégicos – até mesmo na aquisição de uma nova aeronave presidencial. A tensão crescente no setor reforça a importância, na visão de Lula, de manter Múcio, considerado um político habilidoso, capaz de manter pontes entre o governo e os quartéis.
No mesmo dia em que o texto chegou ao Legislativo, o ministro da Defesa se reuniu com Lula em São Paulo, a fim de avaliar o “ambiente na caserna” após a prisão e o indiciamento do general da reserva e ex-ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, acusado de envolvimento em tentativa golpista. A expectativa, segundo relatos atribuídos a Múcio, era de que a punição a Braga Netto já fosse considerada certa entre os comandantes militares, o que reduz o potencial de sobressaltos no atual cenário.
Apesar do respaldo do presidente à permanência de Múcio, o PT pressiona por mudanças na Defesa, considerando necessário um nome mais alinhado às diretrizes do partido. Nos bastidores, ventila-se a possibilidade de o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), hoje titular do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, assumir a pasta da Defesa. Alckmin, que tem boa relação com oficiais de alta patente – é amigo pessoal do comandante do Exército, general Tomás Paiva –, já foi cotado para o cargo ainda durante o governo de transição, ao final de 2022.
Outro nome que circula nos corredores de Brasília é o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixará a Presidência da Casa em fevereiro. Na mesa de negociações, Pacheco poderia tanto assumir a Defesa quanto a pasta hoje ocupada por Alckmin. Já o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, segundo o Estadão, não deverá sair do seu posto, embora recentemente tenha sido alvo de especulações sobre um deslocamento para outro ministério.
Com Brasil 247