Mortalidade materna pode dobrar em João Pessoa
Movimentos sociais apontam racismo institucional
O alerta surgiu com a morte da relações públicas Adjane Ferreira, 29, falecida depois de um ataque cardíaco em casa depois de ser liberada, sem passar por observação médica. O óbito foi registrado no último dia 4 em João Pessoa e piorou a estatística da mortalidade materna na capital paraibana. Agora temos dez mulheres que morreram devido a complicações durante ou logo após o parto.
“É um prognóstico preocupante, haja vista que a Secretaria de Saúde havia previsto cinco óbitos em 2015, mas ocorreram dez. E esse ano poderemos chegar à doze ou mais”, disse Jordane Reis, membro do Conselho Municipal de Saúde, representante da UFPB/NESC.
Adjane estava grávida de poucos meses e procurou a Cândida Vargas depois de se sentir mal na madrugada daquele mesmo dia. “Ela recebeu um carão do médico que a atendeu. Ele disse não ser um caso de urgência e que ela deveria ter ido para o PSF da sua região. Recebeu soro e foi liberada”, relata Fabiana Veloso, uma amiga da vítima.
Segundo Veloso, a jovem tinha uma saúde bastante frágil. Ela sofria de pressão alta, diabetes, artrose e problemas da tireoides, entre outros. Além disso, ela já estava com sintomas de infarto a vários dias. “Por estar grávida, ela necessitaria de uma atenção especial, no entanto, não obteve nem a atenção convencional do sistema público, que qualquer pessoa necessitaria ao sentir-se mal”, acrescenta.
RACISMO INSTITUCIONAL
Por trás de mais um óbito materno em João Pessoa tudo indica que há um agravante extra nesta questão. Ativistas dos movimentos sociais de mulheres compareceram à reunião de hoje no CMS-JP para alertar que Adjane pode ter sido mais uma vítima do chamado “racismo institucional”.
Não é a primeira vez que se tem notícia de descasos e até maus tratos de mulheres negras na rede pública de saúde. Depois que o caso foi relatado numa rede social, muitas mulheres declararam já ter sido vitimas de violência obstétrica, que é quando a pessoa é vilipendiada durante as consultas com profissionais de obstetrícia e ginecologia.
Terlúcia Silva, coordenadora da ONG Bamidelê (uma entidade que lida com a questão das mulheres negras na Paraíba), disse que o racismo atrapalha o atendimento médico e que alguns profissionais se recusam inclusive a tocar nas pacientes negras. “É uma questão séria que precisamos ter coragem de enfrentar”, disse a ativista que está organizando um protesto público defronte à maternidade municipal.
O Conselho de Saúde decidiu realizar uma nova reunião, nos próximos dias, onde vai convidar a direção do hospital e representantes do Comitê Estadual de Morte Materna da Secretaria Estadual de Saúde. “Trata-se ainda de uma questão ética, por isso queremos ouvir a posição do Conselho Regional de Medicina e as entidades que representam os profissionais de enfermagem. Certamente o fator racial está interferindo no atendimento das mulheres negras e essa prática não deve ser mais tolerada”, disse o vice-presidente do CMS-JP, Dalmo Oliveira. O órgão pretende ouvir também a direção da maternidade Frei Damião, essa gerida pelo Governo da Paraíba.
Redação