MÚSICA

Morre no Rio aos 72 anos o cantor e compositor Moraes Moreira

O Dia – Morreu na madrugada desta segunda-feira no Rio de Janeiro o cantor e compositor baiano Moraes Moreira, aos 72 anos. Segundo parentes, o artista foi vítima de um enfarte enquanto dormia. Na tarde do último dia 18 de março, o artista publicou um cordel em sua conta no Facebook, composto durante os dias de quarentena, na Gávea, Zona Sul do Rio, onde vivia.”Oi Pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos. Cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para a apreciação de vocês. Boa sorte”, escreveu. Confira a letra no fim deste texto.

Com nome de batismo Antônio Carlos Moreira Pires, Moraes Moreira nasceu na cidade de Ituaçu, na Bahia. Ao se mudar para Salvador, durante a juventude conheceu o compositor Tom Zé. Fundou o grupo Novos Baianos com Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, o qual fez parte entre 1969 e 1975.
Após seguir carreira solo, Moreira se tornou pioneiro no Carnaval da Bahia, ao ser o primeiro cantor em trios elétricos, no Trio Armandinho, Dodô & Osmar. ‘Pombo Correio’, ‘Eu Sou o Carnaval’ e ‘Chame Gente’, são alguns de seus sucessos.
A última apresentação do artista foi na casa de shows Manouche, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, no dia 13 de março. Data em que vários artistas cancelaram shows por conta da pandemia do coronavírus. No show “Elogio à inveja”, Moraes cantava, segundo ele, canções que gostaria de ter feito de autores como Herivelto Martins, Lupicínio Rodrigues, Wilson Batista, Assís Valente, Dorival Caymmi, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Garoto, Vinicius de Moraes, entre outros.
QUARENTENA (Moraes Moreira)

Eu temo o coronavírus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a Pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo…
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade

Redação DiárioPB

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