Nesta época de distanciamento social provocado pela Covid-19, novas ou velhas estratégias de comunicação são colocadas em prática para diminuir a distância entre as pessoas.
Os gregos pensaram a metáfora como figura de linguagem capaz de facilitar a relação de compreensão entre significante e significado na demonstração da junção de símbolos diferenciados.
Mas se a metáfora desloca significados se faz necessário compreender a maneira como cada produtor simbólico age na produção de discursos.
Como o distanciamento social é uma das formas de combate à infecção por Covid-19, o que se tem observado nas mídias digitais é a predominância de lives – discursos produzidos nas mídias digitais – telefones, computadores – com a finalidade de reestabelecer o diálogo em sociedade.
As lives recuperam o presenteísmo do discurso em situações normais, quer seja de forma proposicional ou não, mas alimentando o curso do fluxo de opiniões de determinados grupos sociais que desejam continuar interferido na esfera pública – mesmo isolados fisicamente.
Todos os dias nos deparamos na Internet com uma torrente de discursos inscritos numa performance discursiva denominada lives, cujo objetivo é ‘informar’ – dar formar, organizar- a fala dos cidadãos na esfera pública, mas sabemos que por trás de cada discurso há uma intencionalidade e nichos políticos, econômicos, artísticos representados.
O problema está nesta ação comunicativa, porque precisamos entender – de forma simples – quem faz lives? A quem deseja falar? Qual a motivação? Estas questões podem ser respondidas a partir da Teoria do agir comunicativo de Jürgen Habermas, delineadas por José Luiz Aidar Prado, em seu livro, Habermas & Lacan – introdução crítica à teoria da ação comunicativa.
A preocupação de Habermas é compreender qual a motivação desse agir comunicativo entre os interlocutores, procurando verificar se a instrumentalização técnica anula a naturalidade da comunicação.
Se o agir comunicativo é voltado ao entendimento, de acordo com Habermas, se faz necessário que não seja estratégico, dominador, comunicação vertical que permeia as relações sociais.
Desta forma, as lives não podem ensejar a persuasão, tampouco a instrumentalização da percepção de mundo, a partir da ‘gramaticalização’ dos fatos sociolinguísticos.
As lives dever ter um caráter dialogal, interativo, capaz de demarcar o fluxo natural dos discursos, evitando o tom professoral e estratégico das especialidades.
Durante as lives deve ser exercitada uma ética do diálogo capaz de equilibrar a força dos repertórios simbólicos que cada envolvido dispõe.
Fugindo à arrogância dos sistemas peritos (aqueles nos quais reina o discurso dos especialistas), as lives devem buscar algo simples: o entendimento, cujo objetivo é decodificar, em forma de diálogos, a simbologia do mundo vital (o mundo da vida) prejudicada no distanciamento social pela perda das pontuações corporais in loco acrescidas ao agir comunicativo.
Por isto, as lives, antes de tudo, encerram uma ética discursiva capaz de unir diferentes imaginários sociais.