Mantega: o ‘otimista’ que despertou a ira do mercado

Guido MantegaQuestionada sobre se Mantega permaneceria em um eventual segundo mandato, Dilma respondeu: “Eleição nova, governo novo, equipe nova.”

As declarações foram feitas uma semana depois da notícia de que o Brasil entrou no que se convenciona por “recessão técnica” (dois trimestres seguidos de crescimento negativo) e em meio a pesquisas eleitorais que indicam empate técnico entre Dilma e a candidata Marina Silva, do PSB, no primeiro turno.

Mas não é de hoje que Dilma vem sendo pressionada a demitir Mantega. Há alguns anos, o ministro caiu em desgraça aos olhos dos mercados, investidores e alguns empresários.

Em dezembro de 2012, por exemplo, a revista britânica The Economist chegou a pedir a cabeça dele: “Quebra de confiança: Se quer mesmo um segundo mandato, Dilma Rousseff tem de mudar a equipe econômica”, defendeu.

Na ocasião, a presidente veio a público para defender o ministro. “Em hipótese alguma o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto dos brasileiros, vai ser influenciado por uma opinião de uma revista que não seja brasileira”, afirmou.

Hoje, ao lembrar o episódio, Michael Reid, editor para as Américas daEconomist, e autor de “Brasil: A Ascensão Turbulenta de uma Potência Global” (Editora Elsiever Campos), diz que os dados indicando “baixo crescimento, inflação refratária e investimentos em queda” falam “por si só”.

Identificado com a corrente dos economistas desenvolvimentistas, Mantega é o ministro da Fazenda que ficou mais tempo no cargo.

Ele foi nomeado ministro do Planejamento no primeiro governo Lula, em 2003, quando ajudou a impulsionar o projeto das Parcerias Público Privadas (PPPs).

Em 2004, passou para a presidência do BNDES. A entrada na Fazenda ocorreu em março de 2006, após a saída de Antônio Palocci – em meio ao escândalo envolvendo a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa.

Em 2008, o ministro foi um dos arquitetos da política anticíclica que ajudou a reduzir os efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Dentro dessa estratégia, o governo expandiu seus gastos e investimentos e ampliou o crédito dos bancos públicos, estimulando o consumo.

Para o economista André Biancarelli, da Unicamp, “esse pode ser considerado um dos grandes acertos de Mantega”.

“Hoje existe certo consenso de que essa estratégia ajudou a impedir que o país fosse arrastado pela crise”, diz.

Já no governo Dilma, o ministro assumiu a defesa dos esforços para se reduzir a taxa de juros – política abandonada quando a inflação começou a chegar muito próxima do teto da meta definida pelo Banco Central.

Dois fatores teriam, segundo analistas, deteriorado a relação de Mantega com investidores e empresários. O primeiro seria seu “excesso de otimismo”. O ministro ficou conhecido por fazer previsões que nunca se confirmaram.

É claro que não foi o único a errar em suas estimativas para o crescimento brasileiro, por exemplo, mas sempre evitou fazer correções mesmo quando tudo indicava um cenário mais pessimista.

“Suas previsões demasiado otimistas fizeram com que empresas e investidores que acreditaram nele perdessem dinheiro – o que acabou minando a credibilidade do governo”, opina Reid.

O segundo fator estaria relacionado aos supostos erros da política econômica, que estariam por trás da desaceleração.

Para os críticos, o governo teria carregado na mão no estímulo ao consumo, mas feito pouco para fazer deslanchar os investimentos. O desaquecimento e o rebote da inflação, por essa lógica, seriam consequência do esgotamento desse modelo.

Também há críticas sobre os supostos “artifícios” que o governo estaria usando para controlar a inflação – como a represa dos preços administrados – e para manter as metas fiscais (a chamada “contabilidade criativa”).

“As medidas anticíclicas foram corretas e eficientes em 2008 e 2009, mas deveriam ter sido interrompidas quando o crescimento foi retomado”, opina Reid.

Nesta sexta-feira, após as declarações da presidente Dilma, Mantega preferiu não dar declarações à imprensa. Já a candidata que aparece no topo das pesquisas junto à candidata do PT, Marina Silva (PSB), declarou que “talvez seja tarde para o movimento que ela (Dilma) está fazendo. A sociedade brasileira vai mudá-la e, mudando-a, a equipe econômica será outra”.

BBC Brasil

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