Lula quer reconhecer Vietnã como economia de mercado e buscar acordo com o Mercosul
País asiático já é um mercado mais importante para o Brasil do que Portugal, França e Reino Unido
Durante visita de Estado ao Vietnã nesta sexta-feira (28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a intenção de reconhecer o Vietnã como economia de mercado e anunciou que o Brasil trabalhará, durante sua presidência rotativa do MERCOSUL a partir de julho, para firmar um acordo comercial equilibrado com o país asiático. As declarações foram publicadas pelo Palácio do Planalto e fazem parte de uma agenda estratégica para consolidar a Parceria Estratégica entre as duas nações.
“O Brasil exporta mais para o Vietnã do que vende para Portugal, Reino Unido e França”, destacou Lula. “Por isso, meu governo tem interesse em reconhecer o Vietnã como economia de mercado”, afirmou, ao lado do presidente Luong Cuong, em Hanói. A fala do presidente reflete o crescente peso do país asiático nas exportações brasileiras, especialmente nos setores de alimentos e commodities.
Vietnã como novo centro de gravidade comercial
A parceria comercial entre os dois países já movimenta quase US$ 8 bilhões por ano, e a abertura do mercado vietnamita à carne bovina brasileira foi destacada como um dos principais avanços da visita. Segundo Lula, isso deve impulsionar investimentos de frigoríficos nacionais no Vietnã, que poderá se tornar uma plataforma de exportação para todo o Sudeste Asiático.
Além da carne, o governo brasileiro aposta em uma pauta de exportações mais sofisticada, incluindo aeronaves da Embraer, que poderiam atender à conectividade regional via Vietnam Airlines. A inserção do Brasil no mercado asiático, segundo Lula, é estratégica para diversificar parcerias e reduzir a dependência de mercados tradicionais.
Parceria Estratégica 2025–2030
A visita oficial marca também a implementação do plano de ação da Parceria Estratégica Brasil–Vietnã, válida até 2030. A proposta, formalizada em novembro de 2024, inclui cooperação em áreas como ciência, tecnologia, educação, energias renováveis e meio ambiente.
Lula destacou que a cooperação em tecnologia de ponta — incluindo semicondutores, inteligência artificial, biotecnologia e tecnologias digitais — será fundamental para fortalecer a relação entre os dois países. O presidente também mencionou que universidades brasileiras e vietnamitas deverão promover o intercâmbio de estudantes e professores.
Clima, café e sustentabilidade
Lula também chamou a atenção para os efeitos das mudanças climáticas nas lavouras de café, setor em que Brasil e Vietnã são os dois maiores produtores mundiais. “Estamos determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a resiliência da cultura do café”, declarou.
O presidente propôs ao Vietnã a adesão ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, idealizado pelo Brasil, que remunera países em desenvolvimento por seus esforços de preservação ambiental. A cooperação ambiental será uma das pautas centrais na COP30, que o Brasil sediará em Belém no final do ano. Lula também convidou o Vietnã para participar da Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro.
Combate à fome e aproximação cultural
Outro ponto importante da agenda bilateral foi a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que contará com a participação do Vietnã e será coordenada por países em desenvolvimento. A iniciativa brasileira busca implementar soluções concretas em segurança alimentar.
Encerrando sua fala, Lula celebrou o sucesso da seleção vietnamita no Campeonato da ASEAN e homenageou o atacante Rafaelson, brasileiro naturalizado vietnamita. Segundo o presidente, ele é “um exemplo do que o Brasil e o Vietnã podem conquistar unindo suas forças”.