Lula convoca comunidade internacional a ampliar metas ambientais para a COP30
Presidente pressiona grandes economias por metas mais ousadas e destaca papel da Amazônia na luta contra o aquecimento global
Em discurso firme nesta quarta-feira (23), durante a Cúpula Virtual sobre Ambição Climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo direto aos líderes das 35 maiores economias do mundo: é hora de apresentar, até setembro, novas metas de redução de emissões compatíveis com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Lula ressaltou que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém, representa “a última chance” para evitar uma ruptura irreversível no sistema climático da Terra. Ele alertou que “o planeta já não espera para cobrar da próxima geração”, colocando pressão sobretudo sobre os países desenvolvidos.
O presidente instou as maiores economias a anteciparem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou, no máximo, 2045. Também defendeu que os países em desenvolvimento apresentem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) que abranjam toda a economia e todos os gases de efeito estufa, e não apenas setores isolados.
Lula afirmou que o Brasil, na condição de anfitrião da COP30 e atual presidente do G20, vem articulando esforços diplomáticos com potências como China e membros da União Europeia para aumentar o grau de ambição climática global. Segundo ele, os próximos meses serão decisivos para consolidar uma resposta coletiva à altura do desafio climático.
A escolha de Belém como sede da COP30 não foi casual. Lula destacou a importância da Amazônia como centro estratégico da luta ambiental e alertou para o risco de savanização da floresta caso o aquecimento global continue avançando. Para ele, é preciso fazer dos próximos dois anos um período de virada, em que promessas sejam finalmente traduzidas em ações.
Ao finalizar sua fala, o presidente reforçou que a COP30 marcará o décimo aniversário do Acordo de Paris, e que essa data precisa ser celebrada não com declarações de intenção, mas com resultados concretos. “Não há mais tempo a perder”, concluiu.
Confira o discurso na íntegra:
Cumprimento o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e todos meus colegas, chefes de Estado e de governo que aceitaram o nosso convite para esta Cúpula.
Nosso encontro ocorre em um momento particularmente triste, em razão do falecimento do Papa Francisco.
Tenho certeza de que seus ensinamentos sobre a necessidade de uma “ecologia integral”, que enxergue a natureza e o ser humano como uma totalidade, vão nos servir de inspiração.
A menos de sete meses da COP30, que o Brasil sediará em Belém do Pará, o planeta parece estar entrando em território desconhecido pela ciência.
O aquecimento global está ocorrendo em ritmo mais acelerado do que o previsto.
Em 2024, a temperatura média da Terra ultrapassou pela primeira vez o limite crítico de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.
Muitos ecossistemas, como as florestas, as geleiras e os mares, correm o risco de atingir um ponto de não retorno.
A Amazônia registrou a pior seca da sua história e o calor extremo tem provocado o branqueamento massivo de corais no oceano.
Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer.
Precisamos assegurar que o multilateralismo e a cooperação internacional sigam como pedra angular da resposta global à mudança do clima.
Apesar das investidas contra o Acordo de Paris, foi graças a ele que revertemos as projeções mais pessimistas de elevação da temperatura, que previam aumento de quatro graus até o fim do século.
No Brasil, quando queremos mobilizar esforços em torno de um objetivo comum, utilizamos uma palavra de origem indígena chamada “mutirão”.
Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos.
Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás.
O planeta já está farto de promessas não cumpridas.
Neste ano, todos os países devem apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, com metas de redução de emissões de carbono até 2035.
O Brasil apresentou sua NDC na COP de Baku. Prevemos redução de 59 a 67% de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.
Internamente, estamos formulando um Plano Clima que contemplará estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática.
Não se pode falar em transição justa sem incorporar a perspectiva de setores historicamente marginalizados, como mulheres, negros e indígenas, e sem considerar as circunstâncias do Sul Global.
A arquitetura de preparação das NDCs é suficientemente flexível para combinar metas ambiciosas e as necessidades de desenvolvimento de cada Estado.
Os países ricos, que foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono, precisam estar à altura de suas responsabilidades.
Está em suas mãos antecipar metas de neutralidade climática e ampliar o financiamento até o objetivo de um trilhão e trezentos bilhões de dólares.
Faço um chamado especial por apoio a quatro iniciativas que devem pavimentar nosso caminho até Belém nos próximos meses.
A primeira delas é um esforço que chamamos de Balanço Ético Global. O Brasil e a ONU reunirão lideranças jovens e religiosas, artistas, povos originários, cientistas e tomadores de decisão em torno de um novo pacto com o planeta.
A segunda é a Aliança Global de Combate à Fome e a Pobreza. Junto com a FAO, elaboramos um guia para a inclusão de políticas sociais e de transformação de sistemas alimentares nas NDCs.
A terceira é a Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima, em parceria com a UNESCO, que visa a valorizar a ciência e combater a desinformação.
Por fim, temos o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a ser lançado na COP30, que vai remunerar países em desenvolvimento que preservam suas florestas.
Esta cúpula representa o início de um amplo movimento rumo à COP 30.
No ano em que celebramos o 80º (octogésimo) aniversário das Nações Unidas, convido a todos para um diálogo franco, aberto e genuíno sobre o que é preciso fazer para avançar na luta contra a mudança do clima.
Muito obrigado.