Longe de casa, refugiados lutam pela sobrevivência
Indígenas encontram no artesanato uma forma de ganhar a vida e dizem que pretendem permanecer na Paraíba.
O cocá feito com material de EVA alaranjado, com desenhos feitos de caneta hidrocor preta, adornado com pêndulos de fios de linha colorida, pode ser um adorno improvisado, mas está sobre a cabeça de um líder da etnia Warao, população indígena originária do nordeste da Venezuela.
Trata-se do cacique Epifânio Moreno, 56 anos, que, juntamente com sua esposa Janira Moreno, 47 anos, e seus quatro filhos, encontram-se a milhares de quilômetros de casa, mais precisamente em uma casa abrigo em João Pessoa. A crise política, econômica e humanitária que o país de origem enfrenta desde 2013 obrigou Epifânio a fugir da comunidade em que vivia para procurar acolhida no Brasil. Na partida, ele deixou para traz mais seis filhos e outros 798 parentes da comunidade indígena. Depois de cruzar a fronteira e chegar ao Brasil em 2018, o cacique passou pelos estados de Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Pernambuco e desde 2020 está na Paraíba. “Na Venezuela, passava fome, então, vim para o Brasil”, explicou o cacique, que sonha
em trazer os outros filhos para o Estado e se estabelecer definitivamente no Brasil.
Na capital paraibana, a família de Epifânio mora em uma casa abrigo que foi batizada com o nome do cacique. Lá, eles dividem o espaço com cerca de 50 indígenas da mesma etnia, que também vieram ao Brasil em busca de melhores condições de vida. Nos planos de Epifânio, não há mais o desejo de retornar à Venezuela. “Queremos ficar aqui, ter uma casa para cada família, um trabalho
e escola para as famílias”, declarou Epifânio.
No local, eles produzem peças de artesanato como pulseiras e colares de miçangas (variam de R$ 40 a R$ 50), bolsas feitas com a palha do buriti (que custam entre R$ 100 e R$ 150) e redes feitas de nylon colorido (R$ 600). As peças, de trabalho minucioso, são uma fonte de renda para os indígenas, mas não têm público para serem vendidas na rua, em um trabalho ambulante. Segundo a coordenadora do abrigo, Goretti Rolim, que integra a Ação Social Arquidiocesana (ASA), da Arquidiocese da Paraíba, os artigos artesanais são divulgados de boca em boca junto aos conhecidos ou aos integrantes da rede de articulação que apoiam os indígenas Waraos.
Goretti Rolim contou que a situação dos indígenas não é fácil, mas que a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano (Sedh), juntamente com os órgãos parceiros, tentam fornecer materiais para eles praticarem o artesanato e realizar cursos para as famílias.
Entre as aulas que os grupos têm são de Português, já que os indígenas falam um dialeto próprio da comunidade onde viviam. “A gente também os incentiva a praticar alguns rituais da terra natal”, contou. O cacique Epifânio frisou que, mesmo no abrigo, eles cantam e fazem a dança Warao. “Somos um povo alegre”, frisou.
Cinco abrigos em JP
A Casa Cacique Epifânio, no bairro da Torre, é um dos cinco abrigos que acolhem os indígenas da
etnia Warao em João Pessoa graças a um convênio celebrado entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano (Sedh) e a Ação Social Arquidiocesana (ASA) da Arquidiocese da Paraíba. A coordenadora do setor dos Direitos Humanos da Sedh, Mônica Ervolino, explicou que a
iniciativa de acolher as famílias surgiu um pouco antes da pandemia como um serviço emergencial.
Antes da medida, as famílias viviam em situação de vulnerabilidade social. Segundo ela, foi firmada uma parceria entre a Sedh e a Asa da Arquidiocese da Paraíba para a locação e manutenção da
casa, assim como fornecimento de alimentação, medicamentos e material de limpeza dos abrigos.
Há também uma rede constituída por entidades e órgãos que atuam de forma articulada para oferecer melhorias de renda econdições de vida aos indígenas. Entre as entidades que fazem parte desta rede estão o Observatório Antropológico da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Ministério Público Federal e Defensoria Pública Estadual.
O convênio entre a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano, e a Ação Social Arquidiocesana (ASA), da Arquidiocese da Paraíba, foi firmadoem abr il de 2020 e abrigou a população indígena venezuelana que migrou para as cidades de Campina Grande e João Pessoa. A manutenção dos abrigos são frutos desta parceria no valor de R$ 1 milhão.
Abrigos Funcionam em João Pessoa:
Casa Abrigo Cacique Epifânio, localizado na Torre;
Casa Abrigo Cacique Avel, situado em Jaguaribe;
Casa Abrigo Cacique Minerva, em Jaguaribe;
Casa Abrigo Cacique Nelson, no bairro Jardim 13 de Maio;
Casa Cacique Rafael, no Ernani Sátiro.
Fonte: EPC – Jornal A UNIÃO
Alexsandra Tavares
alexsandra.madruga@epc.pb.gov.br
José Alves
josealves@epc.pb.gov.br