Legalização do tapa na cara
O debate estéril e histérico sobre descriminalização de drogas (no caso, só maconha) revela não só a estupidez abissal de “autoridades” e jornalistas sobre a extensão e profundidade do tema, mas um desconhecimento simplório da etimologia das palavras, o que é grave, porque nada mais é do que desonestidade intelectual, aliada a um fundamentalismo atávico, “misturar as bolas”. Vamos lá, a diferença entre descriminalização e legalização, para os que não sabem, ainda; legalizar é o ato de tornar algo legal, descriminalizar significa absolver de crime determinadas situações.
Antes de falar da decisão do Senado, alguns dados que omitem, ou por má fé ou mau caratismo pseudo religioso; dos 36 países das Américas (sul, norte e central); 8 descriminalizaram TODAS as drogas, 7 descriminalizaram a maconha. Na Europa, países como Alemanha, Espanha, Portugal, entre outros, avançaram em suas legislações (menos punitivistas). Para o viralatismo dos cegos pelo imperialismo dos EUA, em 2020 foi, aprovqda, de forma ousada, a medida 110, descriminalizando TODAS as drogas até uma certa quantidade, recebendo apenas uma multa em caso de flagrante.
Dados científicos negam o discurso limitado (beirando a indigência intelectual) do autor da PEC 45, batizada PEC das Drogas, Rodrigo Pacheco e de Efraim Morais (relator) de que “a maconha é porta de entrada pra outras drogas” ou que “aumenta a criminalidade”. Os dados não mentem, mas jamais reconhecerão, são preconceituosos demais pra entender ciência. Mas tem mais, os estudos e pesquisas não se limitam a maconha e suas inúmeras utilidades (comerciais e medicinais), além do “barato” (recreação). Os dados sociais, policiais (segurança pública) e do sistema prisional brasileiros são um tapa na cara cotidiano. Pretos, pobres periféricos, negros e minorias compõem a massa encarcerada. É a mesma massa que é abordada “preferencialmente” pela polícia. Sempre acompanhada de um “bom” tapa na cara. E isso só vai piorar com esse projeto “anencefálo”.
Os que festejaram a aprovação no senado dessa aberração jurídica, que se contrapõe ao Artigo 5° da Constituição Federal, acreditam que a “autoridade” policial terá o discernimento, imparcialidade e respeito aos direitos humanos para definir se alguém pego com um “baseado” será fichado como traficante ou usuário. A realidade mostra exatamente o contrário, sem generalizar, mas destacando a banalização do racismo e outros preconceitos em situações de abordagens policiais, amplamente difundidas nos noticiários e redes sociais. E aqui cabe a comparação com a “lógica” do armamentismo, “se nos armarmos, a violência diminui”, diziam, uma mentira confirmada pelos estados dos armamentistas de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e Ibaneis Rocha, governador de Brasília, que, além de bolsonanazifascistas, viram a taxa de crimes envolvendo CACS subir mais 700% nos últimos quatro anos. Dados da própria polícia militar de SP/DF (via Lei de Acesso à Informação).
O jogo meramente político do Senado, uma afronta ao STF (tipo menino birrento), coloca o Brasil na contramão do mundo moderno e civilizado e revela o óbvio sobre o pior congresso da história pós redemocratização, a “representação” de excrescências políticas denominadas bancadas da “bala”, do “boi” e da “bíblia”. Não necessariamente nessa ordem. Nunca o obscurantismo foi tão claro! Golpistas, negacionistas, terraplanistas, anti meio ambiente, racistas, misóginos e outras aberrações (cognitivas) políticas afrontam o país e nossa inteligência diariamente. Eis o problema de quem acha que não vale a pena participar da política, aqueles que têm dinheiro e são ávidos por poder (mas desprovidos de caráter e consciência social) participam e decidem por você! Não importa sua crença, cor, origem ou orientação política e social. Aliás, VOCÊ não importa absolutamente em nada! Apenas, claro, nas eleições, quando o político profissional (familista hereditário) aparece na sua porta pra te dar outro “tapa na cara”.
Por Ulisses Barbosa