Le Monde aponta falta de transparência no combate aos incêndios na Amazônia
Da RFI – O desmatamento da Amazônia continua em destaque na imprensa francesa, com manchete de capa na edição de segunda-feira (9) do jornal Le Monde. “O presidente Jair Bolsonaro se gaba de lutar contra as queimadas, mas diariamente surgem novos focos de incêndio”, informa o jornal.
Além de ser evidente a falta de controle sobre o desmatamento, ao contrário do que as autoridades brasileiras insistem em propagar, o governo de extrema direita quer reduzir em 30% os recursos consagrados ao combate aos incêndios em 2020, adverte o jornal francês na primeira página.
O desmatamento da Amazônia quase dobrou entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. Mais de 6.404 km2 da floresta tropical viraram fumaça, o que representa duas vezes o território de Luxemburgo, diz a rádio France Info, uma das emissoras de maior audiência no país.
Apenas no mês de agosto, 1.700 km2 desapareceram, menos que em julho (quando os números quadruplicaram), mas três vezes mais que em agosto de 2018 (526,5 km2), segundo o Deter, sistema de alerta por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), detalha a agência France Presse. Especialistas estimam que o Brasil pode registrar 10.000 km2 de desmatamento pela primeira vez desde 2008.
Le Monde diz que Bolsonaro planeja fazer um discurso patriótico sobre a Amazônia na abertura da Assembleia Geral da ONU, daqui a três semanas, em Nova York. Mas a realidade é que por trás do tom “triunfal e nacionalista” com que ele pontua suas declarações, há muita improvisação e ninguém sabe exatamente o que está ocorrendo na Amazônia, diz o texto, com base em informações de Ricardo Abad, do Instituto Socioambiental. “As Forças Armadas controlam a comunicação sobre as operações anti-incêndio e impedem jornalistas de acompanhar o trabalho dos militares”, ressalta a reportagem.
Dados imprecisos
Os dados oficiais divulgados são imprecisos, acrescenta o Le Monde. O governo evoca dados fornecidos pelos satélites do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), mas especialistas dizem que este sistema não é confiável para monitorar incêndios, por ser utilizado sobretudo no controle das fronteiras. Tanto a quantidade quanto a qualidade dos meios mobilizados pelo governo para combater os incêndios são questionados.
Os militares afirmam ter despachado 6.000 soldados para lutar contra as chamas, mas a imprensa local cita de 2.500 a 3.000 homens. Em todo caso é pouco para uma floresta com tamanho cinco vezes superior à França, nota o respeitado jornal francês.
A péssima gestão da crise ambiental pelo governo Bolsonaro só dá pano para manga aos agricultores franceses, observa Le Figaro. O diário conservador mostra que o governo do presidente Emmanuel Macron está na mira do setor, que se reúne esta semana para um evento na cidade de Rennes (oeste). Os incêndios fora de controle na floresta Amazônica e a política ambiental de Bolsonaro como um todo, favorecendo o uso de agrotóxicos proibidos na Europa, são argumentos incontestáveis contra a ratificação do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.