Kirchner se compara a goleiro maltratado diante de crise de dívida
Enquanto a Argentina garante vitórias na Copa do Mundo, a presidente Cristina Kirchner lida com uma crise de dívida e se sente como um goleiro que enfrenta uma eterna disputa por pênaltis e um árbitro que favorece o outro time.
“Posso ser goleira, porque a verdade é que cobram pênaltis contra mim, tiros livres, marcam com a mão, tenho o árbitro que nos prejudica em dois terços do tempo, mas cá estamos: impedindo os gols”, afirmou Cristina ao final de seu discurso sobre a indústria automotiva da Argentina.
Cristina não mencionou a atual batalha com investidores que se recusaram a participar de reestruturações de dívida depois do catastrófico default da Argentina em 2002, que deixou milhões de pessoas na pobreza.
Mas ela criticou os credores no passado, chamando-os de abutres, que compraram os títulos a um preço baixo para levar a Argentina aos tribunais e cobrar seu valor completo.
Seu governo também criticou os tribunais dos Estados Unidos por levar a terceira maior economia da América Latina à beira de um novo default.
Mas depois de um importante revés legal nos tribunais na semana passada, Cristina suavizou o tom e aceitou negociar com os detentores de dívida não reestruturada, algo que ela havia prometido que não faria.
A Copa do Mundo no Brasil está ofuscando a saga sobre a dívida para muitos na Argentina, onde a estrela Lionel Messi carrega as esperanças de um terceiro título.
“Continuamos”, disse Cristina, rodeada por imagens da ex-primeira dama Eva Perón. “Vamos continuar jogando no campo e em um ataque podemos fazer outro gol.”
Entenda
Após a notícia de que teria que quitar a dívidas, o governo da Argentina anunciou que não poderá pagar a parcela já negociada, prevista para 30 de junho. Com isso, na prática, o país pode dar um novo calote em parte de seus credores (investidores que compraram papéis da dívida do país).
O novo imbróglio argentino remonta à crise de 2001, quando em meio a grave crise econômica e política, a Argentina anunciou um calote em sua dívida pública, que era de cerca de US$ 100 bilhões.
Quatro anos depois, no governo Nestor Kirchner, o país tentou recuperar a credibilidade oferecendo a quem tinha sido prejudicado pelo calote pagamentos com descontos acima de 70%. Mais de 90% dos credores aceitaram a proposta e vêm recebendo esses pagamentos em parcelas (a dívida reestruturada). Os que não aceitaram, no entanto, recorreram a tribunais internacionais.
Em 2012, um dos casos, movido por fundos especulativos, recebeu uma decisão favorável da Justiça dos Estados Unidos, que determinou que a Argentina deveria pagar US$ 1,33 bilhão aos fundos. O governo argentino recorreu, e o caso chegou à Suprema Corte dos EUA, que decidiu manter a condenação, derrubando uma medida cautelar que suspendia os efeitos da determinação judicial anterior.
“A suspensão do ‘stay’ (medida cautelar) por parte da Justiça impossibilita o pagamento em Nova York da próxima parcela da dívida reestruturada [as parcelas pagas aos credores que aceitaram o desconto] e revela a ausência de vontade de negociação em condições distintas às obtidas na sentença ditada pelo juiz Griesa”, disse o ministério da Economia argentino.
G1