Juiz decide manter Nuzman preso por tempo indeterminado

Nuzman é presoO juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, aceitou nesta segunda-feira (9) o pedido do Ministério Público Federal (MPF) e decretou a prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman, presidente afastado do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Ele está preso desde quinta-feira (5) e o prazo para a prisão temporária, de cinco dias, terminaria nesta segunda. Agora, a detenção se dá por tempo indeterminado.

Bretas também prorrogou prisão temporária de Leonardo Gryner, braço-direito de Nuzman e ex-diretor do COB e do Comitê Rio 2016. Ele também foi preso na segunda fase da operação “Unfair Play” (jogo sujo, do inglês), na quinta.

Segundos os investigadores, Nuzman e Gryner intermediaram o pagamento de propinas para que o Rio fosse escolhido a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Também estão envolvidos no esquema, investigado em cooperação com procuradores da França, o ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro, e o empresário Arthur Soares, o “Rei Arthur”, que está foragido.

De acordo com o pedido do Ministério Público Federal, a possibilidade de Nuzman responder às acusações em liberdade “é medida absolutamente insuficiente para impedir que atue no sentido de interferir na produção de provas”.

O pedido recente de cooperação internacional com a Suíça, para identificar o patrimônio ocultado de Nuzman em um cofre em genebra, também aparece como elemento para que os procuradores tenham pedido a transformação da prisão em preventiva.

“A diligência em questão pode ser evidentemente prejudicada pelo acesso ao referido cofre e movimentação dos bens lá armazenados”, argumenta o texto.

Em outro momento do pedido do MPF, fica claro que Nuzman utilizou dinheiro da Rio 2016 para pagar o escritório de Nélio Machado, seu advogado. Em e-mail mandado em 25 de setembro de deste ano, portanto após ter sido levado coercitivamente para prestar depoimento, Nuzman afirma que a Diretoria Estatutária do Comitê Rio 2016 determinou aprovação do contrato de prestação de serviço com o escritório de advocacia, no valor de R$ 5,5 milhões.

A deliberação para aprovação ou não ocorreria apenas dois dias depois. O documento, segundo o pedido dos procuradores, prova que Nuzman “continua a atuar em benefício próprio, usando os instrumentos do Comitê Olímpico Brasileiro, bem como sua influência sobre as pessoas que lá trabalham”.

O advogado Nélio Machado disse que já havia atendido a Rio 2016 no ano passado e que sua atuação junto ao Comitê não tem qualquer irregularidade. De acordo com o advogado, ele foi contratado para atuar na defesa da Rio 2016 e o contrato incluía defender, se necessário, os integrantes do conselho gestor, entre eles Carlos Arthur Nuzman.

Nélio Machado diz que, em setembro, ao saber que dois dos conselheiros haviam questionado o contrato, ordenou que seu escritório cancelasse a nota de pagamento. Diz ainda que não recebeu nenhum honorário e que está atendendo Nuzman em caráter humanitário e que Nuzman não usou qualquer poder na Rio 2016 para contratar advogados.

Barras de ouro

O pedido de prisão foi feito pelo MPF após uma tentativa de ocultação de bens no último mês, de acordo com os procuradores. Entre as ações, Nuzman teria tentando regularizar, com uma retificação de declaração à Receita Federal, valores em espécie e 16 quilos em barras de ouro, que estariam guardados em um cofre na Suíça.

A ação é um desdobramento da “Unfair Play”, uma menção a jogo sujo e que é mais uma etapa da Lava Jato no Rio. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Intimação ao COB

Na decisão, o juiz Marcelo Bretas também intimou o Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê Organizador Rio 2016 para que apresentem, em 24 horas, o conteúdo integral da caixa de email de Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso, secretária de Nuzman.

O magistrado pede ainda que sejam esclarecidas as razões que levaram à impossibilidade da extração dos dados na quinta-feira (5), quando foram cumpridos os mandado de busca e apreensão.

O depoimento da secretária, obtido pelo Fantástico revelou que a cúpula do Comitê Olímpico da Rio 2016 tinha conhecimento que ela sofria pressão do empresário senegalês Papa Diack por pagamentos. O africano, segundo os investigadores, cobrou milhões de dólares em troca de votos para trazer a Olimpíada para o Brasil.

Papa Diack é filho do ex-presidente do Comitê Internacional de Atletismo, Lamine Diack, e apontado pelo ministério público de finanças francês como um dos principais elos num esquema de compra de votos.

Nas quatro páginas do depoimento, a secretária de Nuzman disse que, antes mesmo da eleição, em 2 de outubro de 2009, Papa dizia que Nuzman lhe devia algum pagamento. Disse que achava que o pagamento seria para restauração de pistas de atletismo na África, que Papa era insistente, mas que Nuzman alegava não saber do que se tratava e que não tinha nada a ver com isso.

Os contatos, segundo ela, aumentaram depois que o Rio conquistou a vaga. Papa Diack ligava insistentemente, inclusive em horários absurdos, de madrugada. De acordo com os relatos de Maria Celeste, por e-mail, Diack reclamava que o dinheiro combinado não havia sido depositado em contas que ele mantinha no Senegal e na Rússia.

A secretária disse que estranhou que um dinheiro que supostamente seria para pistas de atletismo na África fosse enviado a uma conta russa.

Em outro e-mail, que aparece no pedido de prisão feito pelo MPF, Papa Diack cobra diretamente a Nuzman o que seria o pagamento do restante da propina. Diz que isso estava causando constrangimento entre as pessoas com quem ele havia se comprometido em Copenhague, onde foi realizada a votação para a sede da Olimpíada. Diz ainda que tentou, sem sucesso, falar com o então diretor do COB, Leonardo Gryner.

Os investigadores querem saber agora quantos votos foram vendidos para que o rio pudesse sediar a Olimpíada.

G1

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