JP contará com cirurgia de mudança de sexo no SUS em 2015. 49 transexuais estão inscritos; entenda
O Ambulatório de Transexuais de João Pessoa, o primeiro do Nordeste e quinto do país, deve contar já em 2015 com a cirurgia para mudança de sexo. “Nesse próximo ano pretendemos inaugurar o bloco cirúrgico no Clementino Fraga para podermos fazer a primeira cirurgia”, contou o gerente do Ambulatório TT, Sérgio Araújo. “O nosso ambulatório é o mais complexo, porque temos todas as especialidades da portaria do Ministério da Saúde. Nós somos referência no Ministério”, conta.
Araújo explica que essa foi uma luta do movimento LGBT da Paraíba. “O fórum LGBT e a diretora do Clementino Fraga quiseram implantar o complexo. Nós conseguimos ser aprovados antes mesmo da portaria ter sido publicada. Inauguramos dia 24 de julho e a portaria foi publica dia 19 de novembro”, lembra.
Antes dos transexuais terem o ambulatório próprio sofriam preconceito nos atendimentos nos postos de saúde. “Antes eles iam na unidade básica, na UPAs e a população ficava olhando com outros olhos, perguntando se é gay, mulher, homem. Muitas não tinham nome de registro identificado. Aqui no ambulatório chamamos pelo nome social. Paulo quer que seja chamado de Andréia, então é chamado de Andreia”, conta Araújo que ainda afirma que havia muita falta de respeito por parte dos funcionários e usuários do SUS.
No ambulatório hoje são seis especialistas, um endócrino, o médico mais procurado para fazer terapia hormonal. Também tem psiquiatra, psicólogo, nutricionista, fonoaudióloga e ginecologista. Os transexuais são recebidos por uma transexual feminina (Andreina Gama) na recepção e o gerente do órgão (Sérgio Araújo) é homossexual assumido. Facilitando a identificação dos transexuais.
Dois anos de acompanhamento – Para fazer todo o processo de mudança de sexo é necessário que o interessado seja acompanhado por dois anos por esses profissionais. O acompanhamento é necessário para saber quem está realmente apto para fazer a cirurgia. “Isso não quer dizer que todas que estão cadastradas para fazer a cirurgia vão fazê-la”, explica Araújo.
Hoje, das 77 pessoas cadastradas, 49 querem fazer a cirurgia. Destes casos 11 são mulheres (chamados homens trans) e 38 são homens (chamados mulheres trans).
Ainda segundo Araújo, a portaria do Ministério da Saúde 2.803 de 19/11/2013 deixa claro que para poder se submeter a cirurgia de adequação sexual é preciso ter no mínimo 21 anos e dois anos acompanhamento.
Após um ano funcionando – Com um ano de funcionamento o ambulatório agora poderá se habilitar para distribuição de hormônio (via oral ou gel), no momento o ambulatório apenas faz a prescrição para que os usuários comprem no mercado. O ambulatório também já faz a distribuição de medicamento para o HIV/AIDS.
Como funciona – Além do endocrinologista, que acompanha as mudanças hormonais necessárias para a mudança de sexo, os outros médicos também são importantes. Eles fazem o acompanhamento em áreas chaves.
A fonoaudióloga ajuda na manutenção do tom de voz. Com os hormônios, os trans começam a mudar a voz normalmente, mas ainda tem dificuldades de mantê-la de forma permanente. “Ela faz um tratamento a base de terapia e exercícios para que a voz fique mais feminino (no caso de uma mulher trans). O tratamento com a fonoaudióloga também é uma porta de entrada para poder fazer a tireoplastia, a raspagem do pomo de adão. “A gente já fez a primeira cirurgia. A raspagem do pomo de adão é feita para ficar menos saliente”, aponta.
Os psicólogos também auxiliam em toda a mudança, afinal a cirurgia não tem volta é, definitiva.
A cirurgia feita nos homens trans é a mamoplastia, que é a retirada dos seios e a esterectomia. O ambulatório não faz implante de pênis. “Os homens tomam hormônio masculino e alteram o clitores (aumentando). Isso é feito só a base de hormônio. Não vamos trabalhar com essa cirurgia de implantação do pênis”, ressaltou.
Como ser acompanhado – Os transexuais devem procurar o espaço LGBT, que fica na praça Dom Adalto e lá são encaminhadas para abrirem o prontuário no ambulatório, que funciona de segunda a sexta de 7h30 às 17h.
Reconhecimento – Em agosto, dia 31, a equipe do ambulatório está indo para São Paulo para mostrar tudo que foi feito pelo ambulatório na Paraíba, no Centro de Referencia LGBT paulista e no Hospital das Clínicas. “Vamos mostrar em 4 dias toda a nossa experiência”, comemora Araújo.
Portal Paraíba