Jovens do mundo deram as mãos em Sochi, no Festival Mundial da Juventude
Brasil 247 esteve representado no Festival Mundial da Juventude
Por Leonardo Sobreira, de Sochi (247) – No coração do vibrante distrito olímpico de Sochi, cidade de veraneio russa aninhada às margens do Mar Negro, teve lugar um grandioso evento de magnitude e significado que transcendeu fronteiras, línguas e culturas. O Festival Mundial da Juventude, uma celebração global que reuniu cerca de 20 mil jovens de mais de 188 países, foi não apenas um espaço de intercâmbio, mas também um testemunho vivido da resiliência contra a tentativa de isolamento internacional imposto à Rússia pelas elites ocidentais após a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Este encontro, um verdadeiro mosaico humano de mais de 300 grupos étnicos, destacou-se como um desafio direto às narrativas que buscavam marginalizar o maior país do mundo, demonstrando que, apesar das ameaças de represálias por militantes ucranianos extremistas, a vontade de construir pontes, compartilhar experiências e aprender uns com os outros permanece mais forte do que qualquer tentativa de segregação.
A presença brasileira no festival foi expressiva, com uma fusão de jovens lideranças políticas, ativistas e trabalhadores que, juntos, representaram com orgulho a rica tapeçaria cultural do país. A delegação, com sua imensa maioria inclinada à esquerda, não apenas compartilhou sua própria herança cultural com o mundo, mas também se imergiu nas tradições de outros. Esta troca intercultural foi, em muitos aspectos, a essência do festival, refletindo a visão compartilhada de uma Rússia, e um mundo, onde a diversidade é celebrada como uma força, não como um divisor.
Durante o festival, o presidente Vladimir Putin reiterou, em discursos nas cerimônias de abertura e encerramento, a importância da diversidade cultural como um valor civilizacional profundamente enraizado na história russa. As performances artísticas, variando desde a música tradicional russa e brasileira até danças indianas e africanas, também serviram como uma manifestação palpável dessa visão, cada uma delas um fio multicolor que o evento aspirou tecer. Mais do que uma simples exibição de talentos, essas apresentações encarnaram a mensagem de que a diversidade cultural não é apenas tolerada, mas ativamente cultivada e valorizada como uma fonte de riqueza e inovação para a construção de um mundo verdadeiramente multipolar.
O festival também se propôs a confrontar e questionar as narrativas predominantes no discurso geopolítico ocidental. Através de exposições como a que detalhava os ataques sofridos pela população russófona da Ucrânia e a história de agressões promovidas pela OTAN, os organizadores buscaram iluminar aspectos omitidos ou distorcidos pela mídia mainstream. Ao fazê-lo, desafiaram os participantes a olhar além das simplificações binárias que caracterizam as relações internacionais dominadas pela unipolaridade ocidental, incentivando um entendimento mais nuanceado das complexidades do mundo moderno.
A unidade foi uma mensagem poderosamente simbolizada pela marcha de solidariedade que reuniu brasileiros, palestinos, cubanos, venezuelanos e muitos outros, todos unidos em cantos contra o imperialismo. Esta marcha, ao redor do parque olímpico, sede do festival, além de ser um ato de protesto, foi uma celebração da solidariedade internacional, ressaltando a convicção de que, juntos, é possível resistir às forças que buscam dividir e dominar. Os brasileiros lideraram os chamados contra a guerra genocida promovida por Israel na Faixa de Gaza, atraindo os abraços e agradecimentos dos palestinos, que não contiveram suas lágrimas.
“A energia e as vibes do festival foram muito boas. Aprendemos muito com a Rússia, que oferece muitas oportunidades para a África. Estamos buscando uma nova parceria com a Rússia que buscaremos ser na base do ganha-ganha”, relatou o jovem empreendedor sul-africano Christian Kadibu, que tem uma startup de energia limpa.
Apesar da mensagem geral de diversidade e união, o discurso de encerramento de Putin deixou alguns desapontados, devido à ênfase em valores tradicionais que não necessariamente ressoam com todos os participantes, especialmente aqueles da comunidade LGBT. Contudo, mesmo neste momento de dissonância, a mensagem subliminar de que a diversidade é uma força que fortalece os ideais compartilhados manteve-se firme, ecoando o espírito inclusivo que o festival se esforçou para promover.
Nesse sentido, o brasileiro Guilherme Rodrigues, estudante universitário na Universidade de Kursk, avalia que a ambiguidade na mensagem do presidente Putin é reflexo do ano eleitoral na Rússia: “Estávamos todos muito entusiasmados de ouvi-lo, mas o discurso deixou um pouco a desejar. Ele acabou não tocando em assuntos mais atuais, como o BRICS e a OTAN. O Putin tentou dar boas-vindas às nações presentes, mas ao mesmo tempo pontuou algo que a Rússia vem tentando construir há alguns anos, que é o discurso sobre família e tradição, o qual vem se intensificando a partir de 2022, esse discurso sobre a construção da família”.
“Ele também vem trazendo isso na sua campanha como candidato à presidência. A defesa dos valores ortodoxos russos casa muito com esse ano, que é o ano da família. Não esperava que ele fosse trazer essa parte da política russa para o evento, mas não é muito de se espantar. É uma política complicada, pensando em toda a história da Rússia. Muitas famílias aqui são formadas apenas por mulheres, que muitas vezes não vão entrar nesse discurso de família adotada pelo governo. Não necessariamente estamos falando da população LGBT”.