João Pessoa ganha projeto de formação gratuita em música clássica
A partir desta quinta-feira (27), João Pessoa fará parte de uma rede nacional de núcleos de formação gratuita em música clássica para jovens de comunidades carentes. É que será lançado, no bairro do Alto do Mateus, o projeto Ação Social pela Música do Brasil (ASMB), uma parceria da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da Fundação Cultural (Funjope), com patrocínio da Petrobras.
O lançamento será feito pelo prefeito Luciano Cartaxo, às 15h, no Centro de Formação Diácono João Batista (na Rua Padre João Félix), onde mais de 80 crianças e adolescentes estão aprendendo instrumentos de corda (violino, viola, violoncelo e contrabaixo), num sistema de jornada complementar à escolar.
Inspirado no consagrado modelo venezuelano El Sistema, que já formou mais de 300 mil instrumentistas ao redor do mundo, o ASMB monta o seu primeiro núcleo em João Pessoa – e décimo no Brasil.
Benefícios – Além das aulas, realizadas de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h, os aprendizes assistem a aulas de reforço de Português e Matemática e recebem lanches e cestas básicas mensais, tudo condicionado à frequência mínima de 90% às aulas escolares. O projeto é homologado pela Organização das Nações Unidas, por meio da Unicef.
Na última segunda-feira (24), a presidente da ONG, Fiorella Solares, conheceu o trabalho de perto e se emocionou com a evolução dos pequenos. “Esta primeira impressão é magnífica! Vejo que eles estão aprendendo muito rápido, graças ao empenho e confiança de toda a equipe”, reconhece.
“O que esses meninos estão aprendendo aqui é uma lição para toda a vida. Mesmo que não persistam na música, ter lidado com a arte numa idade tão tenra expande o conhecimento, a capacidade de concentração e a sensibilidade para as demais áreas da cultura. No momento, eles estão em contato com uma das capacidades artísticas humanas mais seletivas, que é saber tocar um instrumento. Em curto prazo, isso vai se reverter em ganhos no aprendizado escolar – com melhor desempenho em Matemática, Química e Física, por exemplo”, enumerou Samuel Espinoza, coordenador técnico do programa. “Espero que, com esse potencial, eles rumem daqui direto para a faculdade de música”, completa. Em setembro, vão ser abertas novas inscrições para turmas nos quatro instrumentos.
Aprendizado sem demora – Com o regime intensivo de aulas, o manuseio do arco e o posicionamento dos dedos no instrumento, processo que geralmente leva meses num curso de música tradicional, os jovens instrumentistas conquistaram em menos de um.
De tão dinâmica, esta metodologia fez com que os meninos já formassem uma orquestra. “À primeira vez que escutei o seu som, me encantei. Espero um dia ser bombeiro e professor de contrabaixo”, suspira David Felipe, de 9 anos, quase meio metro menor que o instrumento.
O foco da ASMB é implantar futuramente mais núcleos de ensino em música pela cidade, com a construção de centros localizados nas áreas mais carentes. “É um projeto fundamental para a formação cidadã e estímulo à autoestima desses jovens, na medida em que lhes apresenta a música numa idade ideal ao aprendizado”, exalta o diretor-executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Maurício Burity.
A entidade coordena atualmente nove outros núcleos no Sudeste e Norte: cinco só na capital carioca (nos morros do Chapéu Mangueira, Dona Marta, Complexo do Alemão, Macacos e Cidade de Deus, englobando 19 comunidades pacificadas), mais Petrópolis e Piraí (RJ), e Ji-Paraná (RO).
“Esperamos que a parceria entre o Ação Social pela Música do Brasil e a Prefeitura de João Pessoa represente um passo em direção à formação cidadã de todos esses jovens, que os dê perspectivas de futuro e que eles se tornem multiplicadores da arte por onde passem”, destaca o prefeito.
História – A Ação Social pela Música do Brasil nasceu há 21 anos, fruto da ideia do maestro David Machado, que morreu precocemente aos 57 anos. Em 1994, inspirado no programa de formação musical venezuelano El Sistema, Machado havia fundado a ONG Ação Social pela Música, com a proposta de democratizar a música erudita no Rio de Janeiro. Um embrião dele havia sido lançado na cidade de Campos. Desde a sua morte, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca, o projeto tem sido tocado pela viúva, a violoncelista Fiorella Solares, ex-integrante do corpo de músicos do Teatro Municipal do Rio.
A ONG transformou-se rapidamente no maior projeto social de música clássica da cidade do Rio, levando educação pela música a quase mil crianças e adolescentes, a maioria de comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Além de atender 19 favelas, por meio de quatro núcleos (Cidade de Deus, Morro dos Macacos, Complexo do Alemão e Dona Marta), o projeto tem um braço em Petrópolis, um em Piraí e outro em Rondônia, na cidade de Ji-Paraná.
Assessoria