Jessier Quirino para prefeito
Em um 19 de novembro, dia do poeta de cordel, recebi uma mensagem da professora Valéria Santos, que mora no Recife. Ela conta que estaria na cidade paraibana de Princesa Isabel para se submeter a concurso para professora do Instituto Federal de Tecnologia. Escolhida para ministrar aula sobre literatura de cordel no contexto histórico, me pede exemplares do folheto “Biu Pacatuba, um herói do povo paraibano”. O tema do folheto será usado para dar respaldo à sua aula sobre camponeses e repressão no campo durante a ditadura civil-militar.
Enviei o material e aqui aproveito a deixa para refletir sobre a importância da literatura de cordel no ensino da história, por exemplo. E mandar meus cumprimentos, com votos de admiração, para meu confrade Pádua Gorrion, professor em Itatuba, mestre cordelista e exemplo admirável de educador que faz integração escola-cultura.
Belchior já dizia: “Não estou interessado em nenhuma teoria”. Nem eu. Quero é saber da prática, do fazer na tora, sentindo que somos responsáveis pela continuidade dessa arte de fazer versos com gostinho da cantiga popular, contando histórias antigas e novas, fazendo rir, mostrando os dentes simplórios e construindo seus marcos imortais. Novos estudiosos estão teorizando sobre o cordel, livros estão sendo escritos e reescritos, perguntas e respostas estão aparecendo, junto com novas questões tais como: se o cordel saiu da feira, por que atracou na nave ultramoderna da internet? Enfim, se a internet é o penico do mundo, como quer o ex-alternativo Fausto Silva, o cordel é a fertilidade nessas quebradas, como uma espécie de poesia newage a fermentar o recheio dessas fezes.
Talvez a maior prova de que o cordel não morreu e, muito pelo contrário, está mais vivo, é uma professora largar seus livros de história e buscar no folheto o reforço didático para falar de nossa história recente. Certamente, ela sabe que ler cordel com os alunos é muito mais aprazível do que estudar súmulas enfadonhas. Eu sei que é difícil de acreditar, mas o mundo do conhecimento não gira só em torno da erudição acadêmica. Pode passar pela literatura de cordel e sua diversidade de ligações entre fatos históricos, culturais e sociais, com a dinâmica com que a linguagem poética se transporta no tempo, na geografia e nas dimensões entre o real e o imaginário.
Enfim, é muita honra para um pobre marquês circular na escola, como instrumento vivo da difusão do saber.
No ano de 2010, ganhei o Prêmio Patativa de Assaré de Literatura de Cordel, com o folheto “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”. Um dos leitores do folheto foi Vladimir Carvalho, meu conterrâneo de Itabaiana, ele mesmo historiador das lutas do povo com seus documentários, inesquecível humanista, falecido neste ano de 2024. Vladimir mandou um telegrama: “registro com alegria a notícia de sua premiação pelo Minc (Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010), com “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”, cuja leitura aguardarei quando de sua publicação. Parabéns por mais essa conquista. Um abraço do ‘conterrâneo’ Vladimir Carvalho”.
Por essa época, lancei no meu blog Toca do Leão uma enquete para saber quem as pessoas indicariam para prefeito de Itabaiana. Vladimir Carvalho mandou seu voto: “Prezado Mozart: A pesquisa da Toca do Leão é meritória. E vem em boa hora. Valho-me, entretanto, da ocasião para, independente de participar na forma como está posta, dizer que, sem nenhum desdouro pelos nomes apresentados na lista, o meu candidato seria inarredavelmente o de Jessier Quirino, por tudo que representa nesse momento com relação a Itabaiana, cuja bandeira tem levantado bem alto Brasil afora. Ele reúne todas as qualidades para liderar a recuperação física, econômica, social e administrativa de nossa terra. O que me diz dessa minha posição? Com todo respeito, Vladimir Carvalho”. Eu respondi: Ilustre Vladimir, concordo com sua opinião. Porém, o poeta Jessier é avesso à política. Jamais assumiria uma missão dessas. Seria um nome de alto nível e capacidade, sem dúvidas. E mais: com a cara de antipatia que o homem carrega, devido à timidez congênita, nem com reza forte de Madame Preciosa ele iria cair nas graças do populacho, que o zé povinho gosta mesmo é de um candidato folgado que só calça de palhaço, dadivoso, licencioso, caloteiro, feladaputista, tomador de meropeia, fingido e mentiroso que só cachorro de fateira.