“Invocação do Mal 2”: O terror que assombra a Europa.

Invocação do mal 2O filme “Invocação do Mal 2” (2016), dirigido pelo malaio James Wan, tornou-se um fenômeno de bilheteria em todo o mundo, seguindo um formato que parece ainda longe de sua exaustão. Os filmes deste gênero resistem, ainda, impiedosamente a uma cena de terror, apesar da crise financeira que insiste em assombrar o Ocidente (em primeira instância) desde o ano de 2008.

Por conta da notoriedade conquistada pela película da franquia que deu origem a esta continuação, “Invocação do Mal 2” demonstra como as narrativas cinematográficas do gênero de terror são prodigiosas em perceber o que circula na malha social das culturas urbanas: um mundo em pleno estado de choque, mas é incapaz de compreender racionalmente aquilo que lhe afeta, no medo ou no desespero, na fantasmagoria da vida na era pós-industrial.

A analogia é um mecanismo de leitura que pode auxiliar na interpretação deste campo de linguagem que é o cinema. Vejamos. A emergência da situação econômica global está em processo de fragmentação. Isto implica em simular uma outra tipologia textual, com uma nova linguagem que dissipe a ideia no debate público do abismo que nos espera. Por conseguinte, esta nova linguagem descritiva poderá acometer o imaginário social de um terror que só seria capaz de resolução fora da política democrática. O que aflige as transnacionais desde muito tempo é a dificuldade de manutenção de suas premissas econômicas nas democracias aparentes. O terror se torna mais eficaz quando a indústria cultural determina o imaginário social.

O primeiro filme da franquia “Invocação do Mal”, também de Wan, é um primor de técnica e de criação surpreendente de sequências de alta tensão. Elas se prolongam com intensidade e direciona o público a entrar no clima de uma horripilante trama de bruxas, assassinatos, distúrbios psiquiátricos, suicídios e, claro, a expulsão de uma família média americana de sua casa, tal qual a gênese da nova crise.

No segundo filme da série, o terror atravessa o Atlântico e chega à Inglaterra. A narrativa não apresenta a variedade de sensações que marcaram o primeiro da franquia. Mas, algo significativo surge diante de nossos olhos: a primeira cena contundente (e talvez única) é o momento em que, na televisão, surge a figura de Margaret Thatcher em um de seus discursos. Isso antecipa toda a trajetória do enredo em torno de uma família da classe trabalhadora inglesa, em meio a situação delicada que vivia esse segmento após a implementação da política econômica neoliberal. O terror, portanto, é para as massas o que o suspense é para todo aquele que torcia pelas mudanças econômicas na Inglaterra daquele período, em que o terror somente cabia como espetáculo.

Talvez o sucesso alcançado pelos filmes de terror estejam na impressão de que algo de pior ainda esteja por vir, nos bombardeios diários de informações que instrumentalizam as sensações. Mais que a racionalidade reflexiva, a nossa percepção é afetada por essa nova tipologia do convencimento: nenhum terror e situação é tão ruim que não possa se estabilizar. Esta tanto seria a mensagem da narrativa da franquia, quanto dos recados velados da indústria cultural: o instrumento de figuração do capitalismo tardio. Do terror do primeiro “Invocação do Mal”, a afetação autêntica surge pela surpresa. Enquanto a estabilidade afetada do “Invocação do Mal 2” possui as sensações outrora experimentadas e agora se consagra como perpetuação. A crise do capitalismo é uma casa com um porão escuro de onde surge todo o terror.

Por Jair de Oliveira

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