Intolerância religiosa derruba Terreiro em Cabedelo
O que levaria uma prefeitura a ordenar a derrubada imediata de um único imóvel situado numa área onde existem diversas outras unidades habitacionais construídas, num terreno que, supostamente, seria uma ocupação urbana? Será que o fato deste imóvel abrigar um ilê axé (terreiro de candomblé) justificaria tal arbitrariedade? Essa é a pergunta que religiosos de matriz africana deverão fazer ao prefeito de Cabedelo no próximo dia 8, quando ocorrerá um ato público contra a intolerância religiosa. O ato público deverá ocorrer a partir das 8h30.
O evento está sendo organizado pelo Fórum de Diversidade Religiosa da Paraíba, que é composto por representantes de diversas religiões e credos, por entidades agnósticas e defensoras do ateísmo, que prestarão solidariedade ao babalorixá Pai Joelson, zelador do Ilê Axé Iemanjá Ogunté, localizado na Rua 23, Quadra 28-B, do Lote 25, na Praia do Jacaré, na orla fluvial de Cabedelo.
No dia primeiro deste mês, por volta das nove horas da manhã, homens e máquinas a serviço da Prefeitura Municipal de Cabedelo demoliram a casa onde funcionava o terreiro de Nação Ketu, sem qualquer ordem judicial ou outro documento oficial que o valha. Após a demolição houve um saque generalizado protagonizado por desconhecidos das vizinhanças. Durante o ato, o responsável pela casa religiosa, ou qualquer outra pessoa ligada a Pai Joelson não se encontravam no imóvel.
“A demolição foi feita sem que fosse dada oportunidade para retirada de bens que se encontravam no seu interior. Na mesma rua existem aproximadamente 100 casas que também ocupam a mesma área que a Prefeitura diz ser sua”, informa o babalorixá. Segundo a vítima, há grande possibilidade do terreno, na verdade, pertencer à União.
Segundo o Pai de Santo, a demolição teria sido motivada a partir de denúncias falsas e anônimas, conforme relatos informais de funcionários da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão, ligados à Coordenadoria de Fiscalização,
A demolição ocorreu, entretanto, sem que haja nenhum processo judicial promovido pela Prefeitura Municipal de Cabedelo reivindicando a área, nem ordem judicial determinando a demolição. Durante a ação ilegal, foram destruídos e danificados diversos objetos de culto aos orixás e a outras divindades afrobrasileiras, imagens religiosas, fundamentos sacros, instrumentos musicais sagrados utilizados nas cerimônias religiosas, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos. Alguns documentos pessoais também desapareceram depois da demolição.
Quatro religiosos que residiam no Ilê ficaram desalojados pela ação oficial. O Ilê Axé Iemanjá Ogunté havia sido construído há cerca de três anos. A construção ocorreu em regime de mutirão, contando com a participação de várias pessoas da religião que freqüentava o ilê. “O modo como o ilê foi erguido, a mobilização que houve para ficar de pé, o ilê enquanto sonho coletivo, o trabalho braçal de muitos, dia e noite para deixá-lo de pé, isto também conta muito”, diz uma das freqüentadoras da casa de fé.
“Estamos vendo um crescer de atitudes de intolerância religiosa no país inteiro. O mais grave nesse caso de Cabedelo foi que quem pratica a intolerância é o poder público, uma prefeitura que desconhece totalmente os preceitos de laicidade do Estado”, diz Saulo Gimenez Ferreira Ribeiro, um dos coordenadores do Fórum. No último dia 14, no Rio de Janeiro, uma menina de 11 anos foi apedrejada ao sair de uma atividade religiosa do candomblé.
SERVIÇO
ATO PÚBLICO CONTRA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
LOCAL: IMEDIAÇÕES DA PREFEITURA DE CABEDELO
DATA: 08/07/2015
HORÁRIO: 8H30
Diário-PB – Por Dalmo Oliveira