Inauguração de complexo industrial com investimento de US$ 1 bi reforça parceria Rússia-Brasil
O complexo localizado em Serra do Salitre (MG) visa produzir 1 milhão de toneladas de fertilizantes à base de fosfato anualmente, a partir de 2025
Sputnik Brasil – A Eurochem, líder global em fertilizantes, marca sua presença no Brasil com a inauguração de um complexo mineroindustrial de grande dimensão — o segundo maior da empresa no mundo — com investimento avaliado em US$ 1 bilhão (R$ 4,97 bilhões).
O complexo localizado em Serra do Salitre (MG) visa produzir 1 milhão de toneladas de fertilizantes à base de fosfato anualmente, a partir de 2025.
A produção representa mudança no mercado brasileiro, com promessa de reduzir a dependência do país em 15% em relação aos produtos importados da matéria-prima essencial para a agricultura.
A empresa foi fundada e possui maior parte de seus ativos na Rússia, ainda que sua sede tenha sido transferida para Zug, na Suíça, em 2015.
A vice-presidente Jurídica e de Desenvolvimento Corporativo da Eurochem, Marissol Sapatel, ressalta à Sputnik Brasil o potencial da iniciativa para fortalecer as relações entre Rússia e Brasil. “A Rússia detém a expertise de produção de fertilizantes e tem fornecido fertilizantes ao mundo. […] Isso faz com que o Brasil consiga melhorar os seus processos produtivos e consiga incrementar sua capacidade de produção de fertilizantes nacionalmente”.
“Acho que todas as iniciativas que suportem e apoiem o desenvolvimento de quaisquer países são sempre bem-vindas, sejam quais forem”, destaca ela, citando importância da transferência de conhecimento entre os membros do BRICS, e destacando benefícios mútuos que surgem dessas colaborações.
Questionada sobre a importância do setor agrícola brasileiro, Sapatel expressa sua confiança no potencial do país: “O Brasil não só detém recursos naturais, mas mão de obra capaz e reconhecidamente qualificada para contribuir com o aumento da produção de alimentos do mundo”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta quarta-feira (13) da inauguração da planta química do complexo.
O local recebeu licença para operação em dezembro de 2023. “Se o Brasil é um país agrícola de potencial extraordinário, por que a gente não é autossuficiente na produção de fertilizantes que precisamos?”, questionou.
“Por que tantas vezes se negou a esse país de ter as coisas que ele tem direito a ter e que um país soberano não pode abrir mão de ter? Não existe arma de guerra mais importante na face da terra do que o alimento. O alimento é a arma mais importante porque é a sobrevivência de todas as espécies vivas do planeta.”
Ele afirmou que fábricas de fertilizantes já foram fechadas no Brasil devido a “um complexo de vira-lata” e que o conflito na Ucrânia despertou a necessidade do país produzir fertilizantes. “O Brasil sabia da importância de fertilizantes. Todo mundo sabe da qualidade da terra que nós temos”, ressaltando os valores tecnológicos associados às commodities brasileiras.
A fábrica opera na exploração do minério desde 2018, quando ainda era da empresa norueguesa Yara.
Conforme reportagem publicada pelo Globo Rural, nos bastidores políticos, a planta foi considerada a ‘menina dos olhos’ do vice-presidente Geraldo Alckmin, por ser o maior projeto da companhia fora da Rússia, o que pode contribuir com o Plano Nacional de Fertilizantes.
QUAIS OS MAIORES PRODUTORES DE FERTILIZANTES DO MUNDO? – Atualmente, os maiores exportadores de fertilizantes são Rússia, China, Canadá, Marrocos, Estados Unidos e Arábia Saudita. Juntos, respondem por cerca de mais da metade dos fertilizantes. Somente os russos são responsáveis por mais de 15% da produção global.
O desenvolvimento do setor de fertilizantes no Brasil é visto pela VP Jurídica e de Desenvolvimento Corporativo da Eurochem, Marissol Sapatel, como crucial, considerando a crescente demanda do agronegócio.
A Eurochem iniciou suas operações no Brasil em 2016, e desde então tem aumentado gradualmente sua presença no país, diz.
O diretor de operações do complexo, David Crispim, explica que o complexo é integrado para a produção de fertilizantes fosfatados. “Aqui nós temos mineração, beneficiamento do minério, produção industrial de ácido sulfúrico, fosfórico e fertilizantes, e uma unidade de distribuição”.
Segundo ele, essa integração visa garantir uma cadeia de produção eficiente, desde a extração do minério até a distribuição dos fertilizantes diretamente para os agricultores.
ONDE SE UTILIZA O FOSFATO? – Na agricultura, fosfato é um dos três nutrientes primários das plantas, sendo componente essencial dos fertilizantes.
No caso da escolha de Serra do Salitre como localização para o complexo, a justificativa foi principalmente devido à proximidade da mina de fosfato, explicou Crispim. Esse fator geológico foi determinante na seleção do local para garantir eficiência na operação.
Crispim revela que o investimento de US$ 1 bilhão inclui desde a compra em fevereiro de 2022. “A expectativa é grande. Estamos muito orgulhosos por ver este projeto sendo concretizado e entrando em operação em breve. Acreditamos que trará desenvolvimento não apenas para a região, mas para o país como um todo.”
EUROCHEM REFORÇA PARCERIA RÚSSIA-BRASIL – Com unidades de extração, beneficiamento e mistura, o complexo com três unidades integradas poderá produzir diversos tipos de produtos importantes para lavouras de grãos, por exemplo. De acordo com a empresa, toda produção será destinada ao mercado brasileiro, em especial para Minas Gerais.
No mundo, a empresa produz atualmente 20 milhões de toneladas de adubo e responde por uma fatia de 4% da participação de mercado. O vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), afirma à Sputnik Brasil que a agricultura representa 24% do PIB estadual e a garantia de “um mínimo de auto sustentabilidade da na cadeia de insumos de fertilização é muito importante”.
Simões relata que o governo se esforçou para que o projeto fosse concretizado, apesar de imprevistos. “Tivemos alguns embaraços, apesar de um processo de licenciamento que correu bem. Quando as obras foram retomadas em 2020, fomos surpreendidos pela pandemia e as obras foram muito prejudicadas, talvez as mais prejudicadas do estado.”
“A gente tem desafios na cadeia de nitrogenados e potássio, mas a cadeia de fosfatados é muito forte. Já somos importantes produtores. Ainda assim, 1 milhão de toneladas no ano representa, numa única fábrica, 15% do consumo nacional de fosfato”, explica.
O político comenta que o investimento trará benefícios para Serra do Salitre e municípios próximos, com milhares de empregos diretos e indiretos.
Além disso, está previsto um ecossistema de projetos de melhorias e criação de rodovias, além da ampliação do fornecimento de energia elétrica. “Estamos inaugurando uma subestação da CEMIG que praticamente dobrará a capacidade de fornecimento da região para garantir a estabilidade. Um dos maiores desafios em Minas é garantir energia suficiente.”
“Temos uma série de providências ligadas a rodovias, porque todo o fosfatado vai sair dali por carretas, ainda que ele seja levado para Araguari, para ser transportado em trens”, completa, destacando que há obras em quase 500 quilômetros de rodovias mineiras.
Por fim, Simões opina que o conflito na Ucrânia trouxe à tona a importância em garantir que a produção de fertilizantes fosse feita em território nacional. “Demonstraram que a gente precisa garantir segurança na nossa cadeia de fornecimento. Nós temos, hoje, uma libertação.”
“A gente vê com esperança que a Eurochem possa expandir suas linhas no Brasil. Se enxergarmos a Eurochem como a maior fornecedora de fertilizantes, e a única das grandes que produz as três etapas, se ela vier para o Brasil também com as outras duas, a gente dá um passo em direção à autossuficiência.”