Hoje aniversaria um “zé ninguenzinho”
Em 25 de outubro de 2055, Fábio Mozart completará cem anos sem maiores flatuosidades, agradecendo à infidelidade da sorte por ter cumprido tão longo roteiro de vida perdida, como diria meu desafeto Maciel Caju.
Estimados leitores e diletas leitoras da Toca do Leão, obrigado pelas mensagens de congratulações, especialmente ao meu compadre Geraldinho que afirmou cavalheirescamente: “Parabéns, compadre Fábio Mozart! Você está conseguindo ganhar mais uns cabelos prateados! O ouro vem aí pelo especial desempenho na arte de sobreviver sem ofender o planeta nem sujar o prontuário”.
O filho do meu compadre Marcos Veloso, o radialista Marcos Fernandes, também lembrou do aniversário do velho Leão: “Parabéns, amigo e mestre. Quando eu crescer, quero ser uma barata do seu ninho do programa ‘Rádio Barata no Ar”.
O que é a natureza! Um dia desses eu era um garoto tão tímido que quando olhava no espelho, me sentia mal ao ver minha imagem, achando superior ao original. Hoje sou a mesma pinoia, só que com uma série de dores pelo corpo e a cara de maracujá de gaveta.
Mas, é como eu digo: só há um Fábio Mozart no mundo, mesmo porque, dois esse planeta não comportaria. Antigamente eu comemorava meu aniversário no Bar Mil e Uma Moscas. Hoje, o fígado não permite essas festinhas. Exercendo meu mandato de aposentado, recolho-me à rede velha para ler Rubem Braga, recordando o tempo em que era rei. Todo bêbado é rei. Eu fui destronado. Só que neste específico domingo, 25 de outubro de 2020, comemoro meu niver numa cama de hospital, aguardando cirurgia. Adianto aos que, inadvertidamente ou de caso pensando, eu tenha enchido o saco ou o útero, que me perdoem se algo der errado e o velho Leão passar a régua e fechar a conta.
Tirando a modéstia de lado, como cantou Noel Rosa, já construí muitos sonhos pela vida afora. Agora, entretenho-me só virando vento como anjo aposentado. Espero, entretanto, nunca zerar minhas contas oníricas. Já estou queimando óleo 40, fico só na toca feito caranguejo velho em maré baixa. Tenho idade bastante para não comemorar mais nada. E no leito hospitalar, a gente só celebra resultado de exame.
Encontrei outro dia meu amigo Chico, que há muito não via. Nessas ocasiões, cada um de nós tem o prazer mórbido de constatar que não envelheceu sozinho. Enfim, definho sem remorsos, como um elemento altamente banal, um zé ninguenzinho, como diria Maciel Caju, mas contente da vida por ter a sorte de ainda granjear amizade dos parças e produzir minhas coisinhas. Agora mesmo estou lançando o cordel Anticandidato Bento Filho saúda os insensatos e pede passagem, um gracejo com meu compadre e parceiro Bento Júnior, elemento que constrói comigo e com o ator Osvaldo Travassos Sarinho o programa “Rádio Barata no Ar”, grande sucesso lá em casa e nas rádios comunitárias Zumbi, Ganga de Maceió, DiarioPB Web de João Pessoa, Ji-Paraná de Rondônia, Esplanada de Brasília (frequência 90.1) e Rádio Noroeste de Goiânia.
Enfim, quem tiver fé e quiser rezar por mim, minha gratidão. Só recuso as preces do pastor Malafaia, pastor Everaldo, Missionário Valdomiro, irmão espírita João de Deus, Bispo Edir Macedo e a pastora Flor De Lis. Na aceleração da expansão espiritual do universo, essa gente talvez represente o resíduo.
Comunicado especial para uma estrela que será eterna no meu radiotelescópio: “E quando meu amor pela vida estiver se apagando, vem você e me reinicia. E se o mundo parar de girar, e se, uma por uma, as estrelas se apagarem, simplesmente voaremos para longe…” (If – Bread)