OPINIÃO

Havia uma árvore no meio do caminho

Me surpreendi esta semana, quando deparei com um objeto de metal numa base de cimento no final, ou início, das “Três Ruas”, nos Bancários, em frente a uma escola. Quem conhece o lugar, sabe do que estou falando. Existia uma “árvore de verdade” exatamente no local onde agora se encontra uma pseudo-escultura que imita a aparência de uma árvore. Ela poderia até ser considerada bonita, mas incomparável a uma árvore real.

Sei que tem gente que prefere flores e plantas de plástico às naturais. “As flores de plástico não morrem jamais!”, já disse uma música dos Titãs. Não morrem, não são viveiro de pássaros e de outros animais, não produzem oxigênio, não favorecem o bem-estar climático, não salvam as nossas vidas. Mas, tem gente que vai só achar vantagem nas falsas. Por exemplo, elas não sujam, não soltam folhas.

Eu não sei onde aprendi a importância de uma árvore. Mas sei que desde criança eu já compreendia a lógica da natureza. Gostaria de saber onde esse pessoal que troca árvores de verdade por árvores de metal, de plástico, de concreto teve formação. Como foram formadas as mentes dessas criaturas que se julgam seres distintos da natureza?

Na escola, aprendi didaticamente a importância das árvores, sua função para o nosso planeta. Hoje, mais do que nunca, estamos discutindo as consequências do desequilíbrio ambiental, consequência do desmatamento, que resulta nesse calor extremo que estamos enfrentando e que destrói ecossistemas, entre outros. Uma enorme cadeia de destruição que vai sendo desencadeada pela ação humana.

Imagino a coerência, enquanto cidadãos estamos passando para as nossas futuras, e presentes, gerações. Meu filho de 12 anos comenta na saída da escola em frente ao desatino criminoso: esdrúxulo é isso, trocar uma árvore por isso aqui, apontando para a falsa árvore.

Mas, diria que a troca de uma árvore por um objeto de metal que parece uma árvore, ultrapassa a bizarrice que ataca a população pessoense e além. É preciso dizer que uma árvore não é de uma pessoa. Uma árvore é de todos que usufruem e necessitam dela. Dessa forma, nesse mundo de donos, até quem não sabe a importância de uma árvore, vai estar usufruindo dela. Seja aqui em João Pessoa ou do outro lado do planeta, a importância para nós seres vivos é a mesma. É tão óbvio, mas tem gente que ainda não entendeu que somos um só. Que somos natureza também e estamos nos matando ao matar uma árvore.

Eu acompanhei o processo da reforma nas “Três Ruas”. Vi pouco a pouco, árvores desaparecendo do local. Na rotatória, em frente a escola, vi uma das últimas árvores ser cortada/morta. Era uma castanhola no meio do círculo que não atrapalhava em nada a passagem dos pedestres e condutores. Desde então, minha preocupação tem sido constante. Fotografei. Falei com uma pessoa da obra. “E esta aí? O que vai acontecer? Vão retirar?? ” Me informaram que a árvore não estava na planta. Que provavelmente iria sair dali. Sair dali poderia ser uma transferência, se fosse numa “cidade de primeiro mundo”, como naquelas que o nosso prefeito fala frequentemente nos discursos sobre trem elétrico nos comparando a uma cidade desenvolvida. Desenvolvimento, não sabe o prefeito, está atrelado ao não-uso de poluentes; a preservação dos recursos naturais; ao manejo e replantio de árvores; antes de tudo, ao respeito à natureza.

Como eu vou dizer ao prefeito que calçar ruas, como ele promete fazer, não é uma obra de desenvolvimento, mas de destruição da permeabilidade do solo? Um prefeito do concreto, que quer cimentar tudo. Que troca uma árvore centenária por um arremedo de metal. Um prefeito que está indo na contramão do mundo. Que ao invés de cimentar, deveria arrancar as calçadas para plantar, como estão fazendo diversas cidades, corrigindo o erro que cometeram.

O prefeito do cimento ou “Cícero do Cimento” passa uma imagem de que é “amigo da criança”, mas como pode ser amigo contribuindo para destruir o futuro delas? Mais parece amigo da indústria do cimento.

Pouco vejo obras de preservação da natureza, mas da destruição dela.
É incabível que no momento que estamos vivenciando um aquecimento global, e suas consequências, não se repense, com urgência, as formas sustentáveis de governança.

Para o prefeito do concreto não adianta dizer que pesquisas científicas já certificam as dores das plantas ao serem cortadas, o sofrimento delas. Será que adianta falar do nosso sofrimento?

Ao final, na saída da escola, um pai comenta com seus filhos, bem que poderia ser uma “árvore de verdade”- E era, que ironia lamentável. A árvore de metal “plantada” no local onde existia uma árvore real, representa bem a gestão do nosso prefeito.

Por Fabiana Veloso, jornalista e fotógrafa

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Redação DiárioPB

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