Glória às meninas do meu Macaco Autino
O time feminino do Auto Esporte de João Pessoa sagrou-se campeão e está na Série B do Campeonato Nacional da modalidade. Salva de palmas para essas meninas valentes, protagonistas de uma conduta esportiva digna das maiores bravuras da história desse time fundado em 7 de setembro de 1936, primeiro clube paraibano a disputar um campeonato nacional, a Taça Brasil, e único a fazer excursão pela Europa. Campeão estadual seis vezes, sendo que na primeira vez, em 1939, conquistou o campeonato de forma invicta. As garotas do Auto ganharam o campeonato sem premiação, sem salários, sem campo de treinamento, sem nenhuma estrutura digna. Por enfrentar e vencer esses obstáculos, elas são supercampeãs, dignificando a história desse clube fundado por motoristas.
Sobre dificuldades na vida do Auto Esporte, escrevi esta crônica no meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”:
Laércio Becker é um estudioso do futebol paraibano, escrevendo retalhos históricos deste esporte, histórias e curiosidades deliciosas. Na parte que fala do meu Auto Esporte Clube, humilde time da capital paraibana, tem um trecho onde ele conta uma peripécia acontecida com o “macaco”, time fundado em 1936. Foi quando o Auto Esporte viajou à Itabaiana para jogar uma partida amistosa contra selecionado local, no dia 1º de dezembro de 1959, há sessenta anos.
A “marinete” em que viajava o elenco sofreu uma pane nas imediações de Pilar, devido aos inúmeros buracos da estrada. Para quem não sabe, “marinete” era uma espécie de micro-ônibus, quase uma van atual. A comitiva não teve outro jeito senão pegar a estrada a pé. Após um quilômetro de poeira, eis que aparece um ônibus “de linha”, o velho Mercedes Benz de Reimar, a “sopa” que carregava, aos sopapos, os passageiros de Itabaiana a João Pessoa. A delegação foi “acomodada” na parte superior do ônibus, no lugar da bagagem. Mais na frente furou um pneu traseiro, então os jogadores e comissão técnica tiveram que fazer o resto do percurso a pé até o estádio Severino Paulino, local da contenda.
Após esse “aquecimento”, começou o jogo. Pelo Auto Esporte, brilhavam: Agostinho, Gavião e Kleber; Marajó, Américo e Negrinho; China, Macau, Chiclete, Élcio e Piau. Na seleção de Itabaiana, os craques eram Peludo, Machinho, Toinho de Iracema, Índio, Vaqueiro e Joca, tendo Cabo Totô na direção técnica. Aos vinte minutos do segundo tempo, o goleiro do Auto Esporte machucou-se. Na regra antiga, só o goleiro poderia ser substituído. O juiz então aproveitou para marcar pênalti contra o Auto, alegando que o goleiro reserva havia entrado em campo sem autorização. Manifestações dos jogadores do Auto: “safado, pilantra, ladrão, ordinário!”. Da “barreira”, lugar estratégico onde ficava a torcida local, voavam pedras, sapatos, paus e outros projéteis. A segurança era feita pelo “João Guarda”, mas esse valente vigilante, aos primeiros sopapos, furou a cerca de avelós que cercava o campo e desapareceu para as bandas da estação ferroviária.
O jogo terminou por falta de segurança com 0x0 no marcador. Pior foi o retorno, com os jogadores exaustos e demais membros da comissão técnica avariados pela refrega. A pé, retornaram ao local em que ficou a “marinete”. O juiz apitou descaradamente de forma tendenciosa e os torcedores rivais não foram nem um pouco hospitaleiros. Foi a pior partida jogada pelo Auto Esporte em seus oitenta e três anos de existência. Depois dessa sapatada em Itabaiana, o Auto perdeu o rumo, custou a se aprumar.