Fidel Castro: De cuba para a história
Chega ao fim material a vida do último grande americano (por americano entendo todos aqueles que nascem no grande continente americano) e um dos homens mais importante do mundo no século XX, Fidel Castro. Contudo suas ideias socialistas e materialistas continuam mais vivas que nunca. Sua importância é tamanha, para a sociedade como um todo; inclusive, determinado historiador disse que agora é que o século XX findou-se. Quanto ao termino do século XX, vale frisar que eu não estou seguro se daqui a alguns anos não ocorra outro fato que os teóricos, historiadores ou sei lá quem, não voltem a dizer que o século XX tenha terminado naquele momento. O século em questão é tão problemático ou problematizado que cada intelectual define seu início e seu fim seguindo sua própria grei. Eric Hobsbawm diz que o século XX foi o mais curto da história, pois iniciou-se em 1914, com a Primeira Guerra Mundial e terminou em 1989, com a queda do Muro de Berlim. Assim sendo, o século XX existiu em função de guerras… uma vez que há uma ligação direta entre a Primeira Guerra Mundial e a construção do Muro de Berlim.
Agora, alguém vem dizer que terminou na segunda década do século XXI, com o falecimento de Fidel. Eta século elástico!
Em 1959, Fidel junto com Raul, seu irmão, Che Guevava e outros companheiros comanda a ação revolucionária contra o ditador entreguista Fulgêncio Batista, toma o poder e assume-o formalmente como premier do novo regime. Neste mesmo ano anuncia a nacionalização das grandes fazendas e um plano de reforma agrária. Cortando assim o barato da elite e dos Estado Unidos que transformaram Cuba em um grande cassino, onde meia dúzia de apaniguados em torno de Fulgêncio, incluindo as igrejas, tinham tudo e a grande população vivia na mais completa miséria. Esta é a origem do ódio que os opositores alimentam contra Fidel.
Antes disso, em 1953, aos vinte e seis anos, ao lado do irmão Raul, Fidel Castro lidera um grupo de 150 homens em ataque frustrado ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Três guerrilheiros são mortos e 80 são capturados. A maioria dos detidos é executada. Capturado, Fidel é condenado a 15 anos de prisão. Mas ele não desiste e para sua surpresa consegue ser libertado pouco tempo depois.
Fidel simplesmente busca a todo custo por em prática sua ideia de por fim à corrupção, quebrar o monopólio da elite submissa e seviciada pelos EUA e diminuir drasticamente o fosso que separava os pobres da elite. Ouvir certa vez, ouvi uma senhora negra afirmando que o fenômeno Fidel Castro foi a salvação para os pobres de cuba porquanto só assim ela conseguiu sua casa e seus filhos uma boa educação. Por isso, ele colecionou inúmeros inimigos figadais, inclusive dentro de sua própria família: ele era de família rica, fazendeira. E, claro, parte de sua família não queria perder os privilégios típicos da elite, como sua irmã, Juanita Castro, que no início da década de 1960 auto exilou-se em Miami e lá até hoje vive em uma mansão, e disse entender quem comemora a morte do irmão. Com efeito, segundo as informações de que dispomos, ela foi a única da família a discordar frontalmente dos irmãos Fidel e Raul. Assim, ela defendia seu poderio mesmo em detrimento humano da imensa legião de miseráveis que povoava a Ilha, vítima do colonialismo desumano dos Estados Unidos, da ganância dos próprios cubanos: da elite subserviente à prática predatória estadunidense.
Fidel é figura emblemática não apenas para a América Latina, mas para todo o mundo, pois ele encerra em si vários mitos milenares, por exemplo o mito do pequeno que enfrenta e de alguma forma vence o gigante, a exemplo de Davi e Golias; o mito do Farol e mito da Fortaleza permeiam as personalidades de Fidel e Che, etc. Fidel, assumindo o poder central da Ilha de Cuba e enfrentando os Estados Unidos, retirando sua influência dos affaires da Ilha, demonstrando quem era quem, e quem “dava as cartas” em seu país, pouco importando e tamanho de um e outro país, assim reeditava o mito de Davi que, garoto e pequeno, enfrentou e venceu o gigante Golias. E os Estados Unidos “perdeu a parada”, assim como perdeu, logo em seguida, para o pequeno país do Vietnam, isto é, teve de se retirar da Ilha e só alquebrou Cuba através da retaliação covarde: o embargo comercial, a partir do qual, apenas a União Soviética negociaria com Cuba. Assim, a Ilha viu-se isolada e entrou em colapso econômico. E os EUA tinham força, mas moral nenhuma, aliás, criminoso covarde nunca tem teve moral!
Mas, mesmo assim, tornou-se referência em educação, saúde, justiça social. Erradicou o analfabetismo. Filhos de pobres e de negros tiveram acesso à universidade, tornando-se médicos e outros profissionais de peso, antes monopólio da elite (como é no Brasil). Desenvolveram medicamentos e práticas terapêuticas não comum à América Latina. Implementou eficiente reforma agrária que retirou o excesso de terra dos latifundiários, que controlavam a produção agrícola sem compromisso com a alimentação do povo, e a distribuiu para quem de fato queria a terra para seu sustento e alimentação do pequeno consumidor. A terra foi utilizada para o equilíbrio estruturação do Estado, e bem-estar social, como deve ser em qualquer país que respeite o povo.
Mas Fidel Castro aliado a Che Guevara, na busca de libertar Cuba, implementam a revolução socialista na América Latina, encarnando o Mito do Farol e da Fortaleza. O Mito do Farol expresso em Che, simbolizado pelo expandir a revolução e seus efeitos para toda a América Latina, numa tentativa de suplantação do capitalismo e seu males através do socialismo e sua eficácia na conservação da vida e na dignidade do homem inteiro, como escreveu Santo Irineu de Lyon, no século II da era Cristã: “A era glória de Deus é o homem vivo”, e vale ressaltar que este “vivo” não significa vegetando, mas em vida plena. Fidel encarna o Mito da Fortaleza, isto é, a estruturação política, a organização social e a sequência da construção de um novo paradigma sócio humano político que reorientaria a evolução cubana para uma sociedade em que o homem seja sua preocupação e seu patrimônio mais valioso.
Por esse viés é possível fazer uma aproximação entre Fidel e Che, na busca do bem, da justiça social e do igualdade, e Pedro e Paulo, estes, considerados as duas colunas da Igreja, confiada a esses dois apóstolos pelo próprio Jesus, segundo a Bíblia, ainda que por processos distintos.
Dentre esses quatro vultos tão marcantes em seus campos de atuação, cada um assume um desses dois mitos supracitados: Che Guevara e São Paulo, o Mito do Farol, personalidades inquietas que irradiavam ação e expansão da ideias anunciadoras e conquistadoras de pessoas para um projeto que visava ao bem comum; Fidel e São Pedro, o Mito da Fortaleza, personalidades mais contidas e sistemáticas, voltadas para a conservação, manutenção e organização.
No seu afã de fazer a Igreja nascente tornar-se de fato Católica, (do grego: kata=juntos + holos=todos, ou seja, que abrange tudo e reúne a todos) isto é, universal, termo utilizado pela primeira vez em relação à Igreja no século II, por Inácio de Antioquia, São Paulo lançou-se numa série de viagens, ao todo três, pela região em torno do Oriente Próximo e extrapolando os limites deste. Na primeira viagem (entre os anos de 45 a 49), acompanhado de Barnabé e Marcos, partindo para Chipre, passa pela Panfília, pela a atual Turquia e retorna a Jerusalém. Na segunda (entre 49 a 52), acompanhado de Silvano, passa pelas cidades de Derbe, Listra, Icônio e Antioquia; chega à Galácia, Tróade (onde se lhes junta Lucas), Neapolis, Filipos, Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto, onde permaneceram dois anos, tendo depois voltado a Antioquia. Na terceira (entre 53 a 58), Paulo partiu de Antioquia com Tito e Timóteo e talvez também com os macedónios Gaio e Aristarco. Seguiram para Éfeso onde Paulo permaneceu durante três anos, pregando na escola do reitor Tirano em Éfeso. De Éfeso seguem para Laodiceia, Colossos, Gerápoles, Tróade, Macedônia, Antioquia e depois para Jerusalém; quando chegado a esta cidade foi preso pelos chefes religiosos dos judeus. Temendo pela vida, Paulo apela para Roma, onde anos depois fora decapitado (não era permitido crucificar um cidadão romano). Por trás de toda essa resistência em longas viagens, está o desejo e a missão de levar uma mensagem a ele confiada, como forma de luzeiro ou farol que aponta para seu mestre Jesus, na busca da implantação do Reino de Deus, pregado pelo Mestre.
Che Guevara, médico argentino, que tocado profundamente pela miséria crescente que assolava a América Latina ao lado do enriquecimento e luxo da elite, e objetivando implantar a justiça social para se chegar a uma igualdade sonhada entre as pessoas, deixou seu país e saiu pelo continente instruindo sobre o socialismo como forma de política administrativa mais próxima da fraternidade anunciada e não vivida pelas igrejas ditas cristãs. Chegando a Cuba alia-se aos irmãos Castros e outros que buscavam a transformação da Ilha. Depois de salvo o país das garras de Batista, após Fidel assumir o poder central, Che assume vários cargos importantes no governo, principalmente na área econômica como presidente do Banco Nacional e Ministro da Indústria; e na área diplomática encarregado de várias missões internacionais.
Convencido ele da necessidade de estender a luta revolucionária a todo o Terceiro Mundo, Che Guevara impulsionou a instalação de grupos esquerdistas em vários países da América Latina. Entre 1965 e 1967, encontra-se lutando no Congo e na Bolívia, onde foi capturado e assassinado de maneira clandestina, sumária e cruel pelo exército boliviano, em colaboração com a CIA, em 9 de outubro de 1967. De fato quem o captou e o assinou foram os EUA, através da captação da iradiação do calor de seu fogareiro, por meio da tecnologia de satelite. E assim ele encontrou seu fim no afã de ajudar as pessoas se libertarem.Vejamos, quando o objetivo é calar os que lutam pelo bem do povo e pela liberdade, os EUA não poupam dinheiro, para assim manter seu império oprimindo o mundo e sugando suas riquezas.
Como não tinha a persoanlidade expansiva, tampouco a intelectualidade, a fluência e o trânsito nos meios poderosos e refinados feito São Paulo, São Pedro, limitado pescador de tino organizador e adminsitrativo, encarnava o Mito da Fortaleza, apenas viajou até Roma e lá se impôs como gestor da Igreja nascente, apontando o caminho com mão firme no timão, conduzindo o barco eclesial no mar revolto que era a depravada Roma dos Césares. E ele seguiu firme à frente da comunidade cristã até ser crucificado de cabeça para baixo (este não era cidadão romano), deixando a instituição organizada e consolidada. Não por a caso, ele é iconicamente representado segurando um molho de chaves, como símbolo de quem tem o poder para vigiar a passagem e a capacidade de autorizar quem entra e quem não em determinado ambiente.
Na dificil travessia de Cuba das mãos de Batista, a serviço dos EUA, para a administração de autonomia longe das garras predatórias dos yankes, Fidel foi o comandante em chefe, o capitão da esquadra e à la fois o timoneiro de pulso firme que conduziu o país com ordens decisivas para reconduzir sua política interna e externa, a adminstração e a economia, ao encontro das necessidades prementes do povo que jazia esquecido, necessitado e expoliado pelas elites, desde a invasão da Ilha pelos europeus. Para isso, o comandante teve de eliminar privilégios, cortar hábitos arraigados, como vícios, na adminstração pública e reformular prioridades. E claro, os primeiros privilégios a serem cortados foram os da Igreja, por isso que Roma diabolizou seu regime. Como em toda sociedade, a religião tinha papel importante na vida das pessoas e como todas gostam de privilégios e regalias, a Sancta Mater Ecclesia não é diferente, vivia a custa do suor e da miséria dos trabalhadores, assim como a elite parasitária. Nos seus 49 anos de gestão (1959-2008), o grande comandante encarnou o Mito da Fortaleza organizando, estabelecendo e conduzindo o novo regímem político, com mão firme e objetivos claros.
O comandante tinha propósitos bem mais amplos que os que conseguiu implatar na Ilha. Viu suas ambições sociais serem tolidas pelo golpe imposto pelos Estados Unidos, usando como testa de ferro a ONU, o embargo comercial-econômico mergulhou a Ilha em profunda crise econômica. Contudo, não impediu Fidel de promover uma revolução sócio-política. E tornou-a referência em saúde, educação e promoção dos pobres, não só para a América Latina como para todo o mundo. Vi uma senhora negra dar entrevista durante o velório do camandante. Interrogada sobre o que representou Fidel Castro, simplesmente disse: “Para mim, Fidel foi a melhor coisa que aonteceu: graças a ele consegui minha casa e meus filhos têm educação de qualidade”. No Brasil, quem é que tem educação de qualidade? E qual é o pobre que conseguiu casa própria fora do programa de governo do PT? É por isso que dizer que os governos do PT não prestam! Mas foi porque deu certa atenção a pobres! Cuba, ainda hoje, exporta médicos para várias partes do mundo, sobretudo para a América Latina. Ademais, os médicos cubanos além de preparadíssimos são humanizados, não são mercenários como a maioria dos médicos brasileiros.
Che e Fidel estão para o socialismo e a esperança da pátriagrande dos latino-americanos, assim como Pedro e Paulo estão para o Cristianismo e a Grande Igreja, como a chamavam os membros da Patrística dos primeiros quatros séculos do Cristianismo. Estes, seguindo a orientação do Mestre Jesus para, anunciando a “Boa Nova”, disseminar sobre a terra “Reino de Deus” implantado e querido por Jesus; aqueles, seguindo orientações teórico-metodológicas do materialismo dialético do Velho Marx, que via acima de tudo o bem do ser humano, lutaram com todas as forças e crenças possíveis, enfrentando a resistência e a violência dissimulada de todos, especialmente dos poderosos, para implantar na sociedade o bem-estar social e a igualdade entre os homens, que nada mais é do que a versão humanizada e terrena do “Reino de Deus”, pelo qual Jesus foi assassinado. Destino que os dois latino-americanos experimentaram de alguma forma: Che foi trucidado pelos EUA, ao passo que Fidel sempre foi repudiado pela elite, pelos pobres alienados e sobretudo pela parte tradicional passadista das igrejas.