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Fidel Castro completa 90 anos

Fidel CastroO ex-presidente cubano Fidel Castro completa 90 anos de idade neste sábado (13), marco que está sendo amplamente celebrado pelo regime, apesar de ele mesmo, ao longo de sua trajetória, já ter dito ser contra o culto à sua imagem — uma de suas primeiras proibições após o triunfo da revolução foi determinar que não haveria estátuas suas, nem ruas com seu nome.

Não há um evento oficial de aniversário previsto, mas, desde o início do ano, o governo cubano tem organizado homenagens que vão de exposições fotográficas a documentários. Também foram publicados livros de seus discursos, foram feitos shows e foi lançado um vídeo musical, como informa reportagem do jornal americano “Nuevo Herald”.

A revista cubana “Bohemia” vai dedicar uma edição inteira a Fidel e o site Cubadebate criou uma página para relembrar seu trabalho. O programa da TV cubana Mesa Redonda dedicou uma de suas recentes edições a uma conversa sobre a “lendária capacidade de Fidel de prever o futuro”. Além disso, adesivos com o slogan oficial das celebrações, “Fidel, 90 y más “(Fidel, 90 e mais) estão por toda parte.

O aniversário serviu até para que uma universidade da província de Santa Clara anunciasse, em 17 de julho, o lançamento de um aplicativo com o mesmo lema com dados biográficos, frases e anedotas, apesar do acesso limitado à internet na ilha.

A campanha para transformar seu aniversário em 13 de agosto em algo especial ganhou mais impulso depois que Castro fez o que foi interpretado como um discurso de despedida, em abril, no VII Congresso do Partido Comunista de Cuba.

“Logo devo fazer 90 anos, nunca me ocorreu tal ideia e não foi fruto de esforço, mas um capricho da sorte. Logo serei como todos. Para todos chega a vez… Talvez seja uma das últimas vezes que fale nesta sala”, disse Castro, com voz entrecortada.

Aposentado há 10 anos, Fidel Castro é praticamente inacessível. Só recebe visitas esporádicas de personalidades em sua casa em Havana — que poucos conseguem localizar — e ainda mais escassas são suas aparições públicas ou fotos tiradas recentemente.

Uma presença discreta que contrasta com as cinco décadas em que esteve à frente da ilha, exercendo um comando onipresente antes de ficar doente e ceder o poder a seu irmão Raúl. Gerações de cubanos cresceram com a imagem e presença próxima de Fidel, o mesmo que pregou sua rejeição ao “culto à personalidade”.

“Sou hostil com tudo o que possa parecer um culto a pessoas (…) e não há uma só escola, fábrica, hospital ou edifício que leve meu nome. Não há estátuas, nem praticamente retratos meus”, disse Castro ao jornalista francês Ignacio Ramonet em um livro de conversas publicado em 2006. Mas o líder da revolução não pôde evitar que sua imagem lhe escapasse das mãos.

O revolucionário tinha 32 anos quando entrou triunfante em Havana. Era 1959, usava barba e uniforme e vinha da derrota de um exército de 80 mil homens contra uma guerrilha que em seu pior momento contou com 12 homens e sete fuzis. Sem passado militar, Castro expulsou do poder o general e ditador Fulgêncio Batista, na luta que começou com o fracasso da tomada do quartel Moncada, em 1953.

Castro aplicou uma “doutrina militar própria” e conseguiu “transformar uma guerrilha em um poder paralelo, formado por guerrilheiros, organizações clandestinas e populares”, disse à agência AFP Alí Rodríguez, ex-guerrilheiro e atual embaixador venezuelano em Cuba.

O mandatário cubano derrotou conspirações apoiadas pelos EUA e enviou 386 mil cubanos para lutar em Angola, Etiópia, Congo, Argélia e Síria. Ao longo de 40 anos (1958-2000) escapou de 634 tentativas de assassinato, escreveu Fabián Escalante, ex-chefe de inteligência cubano, segundo o veículo de informação alternativa Cubadebate.

A Ignacio Ramonet, Castro confessou que quase sempre carregava uma pistola Browning de 15 tiros. “Oxalá todos morrêssemos de morte natural, não queremos que se adiante nem um segundo a hora da morte”, declarou em 1991.

Repressão
“É o homem dos ‘E’s: ególatra, egoísta e egocêntrico”. Assim o ex-presidente é definido pela dissidente Martha Beatriz Roque, de 71 anos. Quem se opôs, acrescenta, enfrentou uma tripla resposta: “a prisão, os espancamentos e os protestos de repúdio”. Como mandatário, desafiou dez presidentes dos Estados Unidos e governou com mão de ferro.

Em 1959, condenou a 20 anos de prisão o comandante de Sierra Maestra, Huber Matos, por insurreição. Na “primavera negra” de 2003 mandou prender 75 dissidentes, incluindo Martha Beatriz Roque, e nesse mesmo ano foram fuzilados três cubanos que roubaram uma lancha para fugir dos Estados Unidos.

Castro sempre negou os pedidos internacionais para uma abertura política e considerou os opositores “mercenários”.

Em um país onde o cristianismo se mistura aos cultos africanos, os cubanos atribuíram a Castro a proteção do orixá Obatalá, o deus pai, o mais poderoso. Viam-no como um homem inabalável, que tinha solução para tudo, era considerado quase imortal até adoecer em 2006. Apesar da gravidade, sobreviveu.

A figura paternal do “comandante”, tão respeitada como temida, é onipresente. Castro visto tanto no meio de um furacão, quanto ensinando a preparar uma pizza.

Nem sempre Castro venceu. Após um esforço titânico, não conseguiu, como tinha proposto, produzir 10 milhões de toneladas de açúcar em 1970. Mas conseguiu que Cuba derrotasse o analfabetismo em apenas um ano.

Também se propôs a fazer de Cuba uma “potência médica”, quando tinha somente 3.000 médicos no país. Hoje tem cerca de 88.000 especialistas, um para cada 640 habitantes. Na ilha, proliferaram os “planos Fidel”, experimentos sem sucesso para criar búfalos, gansos ou transformar Cuba em produtora de queijos de qualidade, quando ainda tinha um déficit de vacas.

Também não conseguiu que os Estados Unidos devolvessem o território de Guantánamo, cedido há um século, mas conseguiu trazer de volta o menino Elián González, levado clandestinamente em uma embarcação por sua mãe, que morreu na tentativa de chegar a Miami e cuja custódia provocou uma queda de braço entre Havana e Washington.

Castro completa 90 anos em um país que implementa uma abertura modesta para a iniciativa privada, tenta adotar políticas de descentralização e busca aproximação com seu arquiinimigo de décadas, os Estados Unidos. Embora muitos aspectos econômicos e sociais não tenham mudado, a Cuba de hoje é muito diferente daquele que ele liderou durante 47 anos.

Ao longo da última década, centenas de milhares de cubanos se tornaram pequenos empreendedores, abandonaram seus postos de trabalho estatais, e ompraram ou venderam casas, veículos e empresas, algo que Fidel Castro sempre viu, de sua perspectiva estatizante, com desagrado, embora tivesse tido que fazer pequenas concessões aperturistas nos anos 90.

“Vivemos em uma época globalizada, que nos permite saber de tudo. Há muito mais informação do que 50 anos atrás”, disse à agência Associated Press Ernesto Gonzalez, diretor de relações públicas de um grupo de dança. “O jovem cubano não quer que as coisas cheguem para ele, mas vai atrás delas”, disse o rapaz, para quem Fidel Castro é uma “inspiração”, com todos os seus “defeitos e virtudes”.

“Extrapolando o que ele (Castro) fez antes (o triunfo da revolução em) de 1959, agora cabe a nós fazê-lo em 2016: nos fortalecer, para encontrar nossos caminhos para o desenvolvimento deste país”, disse Gonzalez, que tinha apenas 15 anos quando Castro deixou o poder nas mãos de seu irmão Raúl.

G1

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