Felipão’: Chegou a hora. Vamos juntos, é o nosso Mundial’

Felipão brasilSÃO PAULO – — Pronto! Foi assim que o técnico Felipão respondeu à primeira pergunta da coletiva de ontem, véspera da estreia do Brasil na Copa. O autor queria saber se a seleção estava pronta para o jogo contra a Croácia. O treinador brasileiro respondeu antes que o jornalista terminasse a pergunta. Mas não era ansiedade. A 25 horas do primeiro jogo do Mundial, Felipão parecia um poço de tranquilidade. Nada a ver com o personagem irritadiço, tenso, de 12 anos atrás, quando a seleção brasileira estreou na Copa de 2002, contra a Turquia.

Aos 65 anos, o treinador tem motivos suficientes para estar sereno, confiante. A preparação da seleção transcorreu sem qualquer incidente. Ninguém se machucou, nenhum jogador reclamou, não teve uma discussão sequer nos 17 dias de treinos. Tudo saiu como a comissão técnica planejou. Daí o discurso leve, descontraído, de Felipão.

— Foi muito bom. Nós evoluímos em todos os quesitos. Estamos em boas condições para passar por essa primeira fase e seguir adiante — afirmou o treinador brasileiro, numa concorridíssima coletiva, que lotou a sala de entrevistas do Itaquerão.

Antes de começar a responder as perguntas, Felipão agradeceu a algumas pessoas que mandaram mensagem de incentivo à seleção. Misturou presidente, ex-presidentes e candidatos à Presidência da República.

— Agradeço em nome da seleção à presidente Dilma, que mandou mensagem, ao senador Aécio, que telefonou, aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique e aos milhares de fãs que enviaram cartas de incentivo e demonstraram carinho neste período. A todos quero dizer que chegou a hora. Vamos juntos, é o nosso Mundial.

Os 12 anos que separaram a Copa de 2002 da de 2014 fizeram muito bem a Felipão. O treinador aprendeu a conviver com a pressão e a encarar momentos decisivos como parte integrante do seu trabalho. O próprio Felipão reconhece que hoje está bem mais light:

— Eu dormia menos em 2002 do que agora, sem dúvida. Talvez se tivesse um Neymar pela frente perdesse algumas horas de sono tentando encontrar uma forma de pará-lo. Isso não quer dizer que não estou ansioso. A gente passa muitos dias treinando, é uma angustia só. Está na hora de começar, colocar em prática o que foi treinando. Mas não é nada que afete meu comportamento no dia a dia.

Apesar da confiança e da tranquilidade, Felipão não tem a menor dúvida de que a partida contra a Croácia será difícil, complicada, um teste para os nervos. Dele e dos torcedores. Nada diferente do que tem sido as estreias do Brasil em Copas. De 1958, quando venceu a Áustria por 3 a 0, para cá, apenas três vezes a seleção venceu por mais de um gol de diferença no primeiro jogo. Contra o México em 1962 (2 a 0), diante da Tchecoslováquia em 1970 (4 a 1) e contra a Rússia em 1994 (2 a 0). Nas demais, sempre vitórias apertadas e dois empates. O primeiro em 1974 (0 a 0 com a Iugoslávia) e o segundo quatro anos depois (1 a 1 com a Suécia).

— Não tem jeito. Estreia é sempre muito complicado.

Força para seguir em frente

A coletiva durou cerca de 35 minutos e por diversas vezes Felipão elogiou Neymar, que estava a seu lado. Mas fez questão de frisar que o craque brasileira faz parte de um time e, portanto, não conseguirá nada sozinho.

— Eu espero que o Neymar seja mais um no nosso grupo. Se for mais um, fará sempre a diferença. E ele, normalmente, faz a diferença.

Desde o início dos treinamentos, Felipão vem batendo na tecla que os dois jogos mais importantes da Copa são a estreia e a final. Estrear com uma vitória é muito importante, pois permite que o time jogue a segunda partida com mais tranquilidade. Não mudou o discurso na véspera da estreia.

— Eu penso sempre no jogo de amanhã, no próximo adversário. Já falei aos jogadores que temos sete degraus para subir. Mas tem que ser um de cada vez. Não podemos saltar. Portanto, o que falo para eles é que precisamos passar pelo primeiro degrau.

Foi inevitável comparar as seleções de 2002 e 2014. Felipão vê muitas semelhanças entre os dois grupos, mas reconhece que há 12 anos tinha mais nomes de peso no elenco.

— Coletivamente sãos equipes bastante parecidas. Como agora, existiu muita dedicação dos atletas em 2002. Gente com personalidade para realizar coisas que não estavam habituadas a fazer no campo e a ajudar a seleção. O Neymar mesmo não é de marcação, mas está motivado para ajudar neste sentido — elogiou.

Apesar da tranquilidade e da descontração demonstrada não só ontem, mas aos longos dos 17 dias de preparação, Felipão sofreu dois duros golpes no período. Perdeu um cunhado e um sobrinho. Mas seguiu em frente.

— Não tem jeito. A vida segue e fazemos o que temos que fazer. Encontro forças no trabalho dos jogadores. Se dedicam e trabalham. Isso tudo faz com que a gente, mesmo numa situação de tristeza, encontre beleza em muitas coisas. O apoio do torcedor também alivia. Temos recebido apoio em todos os lugares por que passamos. Foi assim na saída da Granja, na chegada a São Paulo e agora no estádio. Você acaba deixando a tristeza de lado e vendo o lado positivo das coisas.

O Globo

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