Federer bate Nadal em final de titãs na Austrália
Quase seis anos após a última decisão em um Grand Slam, Roger Federer e Rafael Nadal se reencontraram em uma final dos sonhos no Aberto da Austrália. Se há poucos meses eles até brincaram com o fato de chegarem em Melbourne como “zebras”, depois de um período marcado por lesões e longe dos holofotes voltados para Novak Djokovic e Andy Murray, um roteiro improvável os colocou frente à frente. Nem eles acreditaram. O duelo marcado por reviravoltas e jogadas de mestre foi à altura daquele que pode ser um dos últimos capítulos de uma das maiores rivalidades da história do tênis. O protagonista da vez foi o fenômeno suíço, que, aos 35 anos, provou ter a genialidade como elixir da juventude. Com a vitória por 3 sets a 2, em parciais de 6/4, 3/6, 6/1, 3/6 e 6/3, em 3h37 de um jogo duríssimo, ampliou a coleção de Grand Slams para 18 e pulou do 17º lugar no ranking para o top 10.
Federer tenta aumentar a série de conquistas nos principais torneios há cinco anos, desde Wimbledon 2012, mas perdeu as três chances para Djokovic. Ele é o primeiro homem da história a ter pelo menos cinco troféus em três Slams distintos, incluindo o pentacampeonato na Austrália, sete títulos em Wimbledon, cinco no US Open e um em Roland Garros. A campanha de Federer em Melbourne contou com três jogos de cinco sets e quatro vitórias sobre tenistas top 10. A partida deste domingo foi a 100ª do suíço no país, marca alcançada apenas pelo americano Jimmy Connors. A última vez que havia sido campeão no local foi em 2010 – as outras foram em 2004, 2006 e 2007.
– Acho que nós dois não imaginávamos há quatro, cinco meses, que estaríamos em uma final de um Grand Slam. Estou feliz por você também. O tênis é um esporte difícil, feito por duelos. Se eu pudesse, dividiria o meu troféu com o Rafa. Conseguimos chegar até aqui, e eu só tenho a agradecer. Obrigado por tudo. A equipe de Rafa trabalhou duro e eu torço pelo sucesso de vocês. Aos que vieram e lotaram as arquibancadas, vocês nos motivaram a jogar cada vez mais forte. Venho aqui há quase 20 anos, e eu sempre gosto, a minha família também. Espero não ter esquecido de nada. Espero vê-los novamente no ano que vem, mas, se não der, agradeço pela longa jornada – afirmou Federer.
Antes de Melbourne, Nadal precisou se afastar para tratar uma incômoda lesão no punho esquerdo que o tirou de diversos torneios em 2016. O espanhol só voltou a jogar no fim do ano, quando venceu um torneio de exibição em Abu Dhabi. Em janeiro deste ano, caiu nas quartas de final do ATP de Brisbane e era uma incógnita para o primeiro Grand Slam da temporada. Federer, por sua vez, passou quase seis meses longe do tênis devido a uma lesão no joelho esquerdo, sofrida justamente na Aberto da Austrália do ano passado, não dentro das quadras, mas, dando banho nos filhos. Operou, voltou, sentiu novamente as dores e, por precaução, não disputou nenhuma competição no segundo semestre. O retorno foi recente, na Copa Hopman, em Perth, no início do mês, e o desafio de voltar à forma ideal foi cumprido a tempo.
– Melbourne sempre estará no meu coração. Eu tive tempos difíceis sem chances de competir em totais condições. Trabalhei muito forte para estar onde estou hoje, foi uma grande partida. Obviamente Roger foi melhor do que eu. Eu vou continuar tentando. Sinto que voltei a um nível muito alto. Espero uma grande temporada e depois voltar aqui outras vezes para levar esse troféu pela terceira vez, vou continuar tentando ter o troféu de volta comigo no futuro. Obrigado por todo apoio da família, das pessoas que nos ajudam, os patrocinadores que possibilitam este grande evento. Falei muito, vou deixar Roger receber o troféu. Até o próximo ano – disse Nadal.
m dos clássicos do tênis, a final em Melbourne foi marcada pelo equilíbrio, apesar do nervosismo inicial. O suíço venceu o seu primeiro game acertando apenas um saque, e Nadal segurou a pressão ao permitir 30/30 no seu serviço, mas retomou as rédeas da situação. Eles iam confirmando os serviços, sem dar nenhuma chance no saque. No sétimo game, depois de grandes jogadas, como em um voleio e um smash, o suíço se beneficiou de um erro não-forçado de backhand do espanhol para conseguir a primeira quebra da partida: 4/3. Os ralis tornaram-se mais intensos, com ataques precisos no fundo de quadra, digno de uma batalha de gigantes. Nadal queria devolver a quebra, mas o adversário resistiu. Com um backhand bem angulado, Federer fechou o primeiro set em 6/4 para ganhar moral.
Nadal sentiu que era preciso fazer mais para derrotar o eterno rival. Voltou mais agressivo e passou a variar mais as jogadas, surpreendendo o suíço. Federer acabou falhando na paralela no fundo, e Nadal tratou de mandar um ace no segundo saque para levar o game e largar na frente no segundo set. Era o que ele precisava para crescer na partida. E deslanchou. O suíço, por sua vez, tinha dificuldades e sofreu duas quebras. Se no primeiro set, o aproveitamento era de 93%, no segundo, caiu para 40%. Os erros também aumentaram para Federer – foram 7 no primeiro e, no segundo, 17. Muito consistente no fundo de quadra, o Toro Miúra abriu 4/0. Federer reagiu, voltou a encaixar um forehand poderoso e devolveu a quebra no game seguinte com um winner de devolução. O espanhol sacou bem e confirmou o seus serviços, freando o rival. Depois de ter o triplo set point, Nadal aproveitou uma direita para fora do rival e fez 6/3.
O suíço voltou melhor para o terceiro set e, mesmo errando dois voleios, algo incomum, escapou do break point com um ace, largando na frente. Com um bom volume de jogo, ele acertou uma esquerda na cruzada e ampliou para 3/0. Nadal arriscou no saque e confirmou o seu serviço com um winner no fundo para diminuir o prejuízo: 3/1. O suíço passou a jogar mais solto. Confirmou o serviço e mandou duas esquerdas indefensáveis no contra-ataque para levar outra quebra em um momento decisivo: 5/1. Federer sacou para fechar o set e precisou lutar muito para não ser quebrado em um longo game. Nadal teve algumas chances, desperdiçou e viu o suíço ganhar mais um set com um voleio curto e venenoso: 6/1, abrindo 2 a 1.
Depois de tomar uma lavada do suíço, o espanhol voltou para o quarto set com outra postura. Concentrado, o Toro Miúra voltou a sacar com profundidade e pôs o rival para correr. Após um erro de voleio, Federer cedeu a quebra no quarto game 3/1. Com uma boa variação, Nadal se defendeu e afastou o perigo, sem sofrer nenhuma ameaça em seu serviço. Quando sacou para fechar o set, se beneficiou de um erro não-forçado em uma direita do suíço para chegar a 6/3 e forçar o quinto set.
Nadal elevou o seu tênis ao limite e mostrou muito controle emocional. Depois de conseguir uma quebra importante logo no primeiro game, sofreu, mas confirmou o saque na sequência para abrir 2/0. Era hora de Federer abrir o leque e colocar em jogo o seu arsenal de jogadas para voltar à disputa. No terceiro game, deu uma aula de tênis, indo bem no fundo e nas subidas de rede para confirmar o saque. Sentindo a coxa direita, o suíço pediu o atendimento médico, mas seguiu firme. Lutou muito para devolver a quebra e quase conseguiu depois de uma paralela sensacional de esquerda, mas Nadal se salvou com um winner de backhand e confirmou com uma devolução para fora do suíço: 3/1. E quando tudo parecia perdido, a genialidade de Federer deu o ar da graça, levando-o à quebra e ao empate por 3/3 depois de intensos ralis.
O duelo era de titãs, com uma jogada mais incrível do que a outra. Federer confirmou o saque e deu muito trabalho ao rival no oitavo game. Após sequências de igualdades e jogadas de tirar o fôlego, Federer venceu dois games seguidos e sacou para fechar o jogo. Mais uma vez, um game sofrido, com uma sequência de igualdades. Depois de conseguir outro match point com um ace, uma bola na linha no fundo do suíço foi declarada fora pelo juiz. Ele pediu o desafio, Nadal fez pouco caso, mas ficou provado que a bola era boa. Federer foi às lágrimas ao vencer a sua 28ª final em um Grand Slam, mais um recorde para a conta.
Após o jogo, ele deixou a quadra central da Rod Laver Arena para ir à Margaret Court prestigiar o público que lotou a outra quadra para ver a final pelo telão. Este foi o 89º título de sua carreira.
GE