Exercícios físicos regulares diminuem o risco de câncer de próstata
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 71.730 novos casos da doença serão diagnosticados por ano no Brasil para o triênio 2023-2025
Um estudo realizado com mais de 57 mil homens aponta que a prática regular de exercícios físicos aeróbicos pode reduzir o risco de desenvolvimento de câncer de próstata – o segundo tipo de câncer mais comum (atrás apenas do câncer de pele não melanoma) e também um dos mais letais em homens. Cerca de um em cada oito homens será diagnosticado com câncer de próstata durante a vida, de acordo com a American Cancer Society. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 71.730 novos casos da doença serão diagnosticados por ano para o triênio 2023-2025. Por aqui, ele é a segunda causa de óbito por câncer em homens.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores recolheram dados de 57.652 homens suecos que tinham participado de pelo menos dois testes de aptidão física para ver se aqueles que eram mais ativos tinham menos probabilidade de desenvolver o câncer. No período analisado, 1% deles desenvolveu a doença e 0,08% morreu tendo o câncer de próstata como causa primária de morte. Os pesquisadores concluíram que aqueles que melhoraram o condicionamento físico ao longo dos anos tinham menos risco de serem diagnosticados com a doença.
A idade é o principal fator de risco para o câncer de próstata, sendo mais incidente em homens com mais de 60 anos. Além disso, homens de raça negra e pessoas com histórico familiar desse tipo de câncer também têm risco aumentado para desenvolver o tumor.
Os pesquisadores ressaltam que dados americanos apontam que, se todos os adultos nos Estados Unidos cumprissem as diretrizes recomendadas de atividade física, os diagnósticos de câncer poderiam diminuir em cerca de 3% – cerca de 46 mil casos – todos os anos.
A importância do exercício
Em 2019, uma revisão do American College of Sports Medicine apontou que a atividade física regular reduz significativamente o risco de câncer de bexiga, mama, cólon, endométrio, de esôfago, rim e estômago. A mesma análise também descobriu que ter o hábito regular de exercício físico estava ligado a melhores resultados do tratamento e ao prolongamento da esperança de vida dos que já viviam com câncer.
Agora, esse novo estudo endossa a importância do exercício físico na prevenção do câncer de próstata. Levar isso para a prática clínica exige uma abordagem completa e personalizada, integrando a atividade física como uma ferramenta essencial na prevenção, no tratamento e nos cuidados a longo prazo para pacientes com câncer.
“Os resultados desse estudo reforçam os impactos positivos dos exercícios na saúde global, para além dos benefícios cardiovasculares já conhecidos, fortalecendo a conscientização sobre a importância da atividade física em diversas áreas da saúde. A colaboração multidisciplinar entre profissionais de saúde também é fundamental para criar planos de exercícios individualizados, adaptados às necessidades de cada paciente”, disse Leonardo Borges, uro-oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, que acrescenta ainda que é fundamental incorporar a discussão sobre a atividade física como uma parte integral das consultas clínicas, incentivando cada vez mais o engajamento contínuo do paciente.
De que forma o exercício físico ajudaria a prevenir o câncer de próstata? Segundo Borges, a relação entre o exercício físico e a prevenção do câncer está associada a várias hipóteses, incluindo o fortalecimento do sistema de defesa da pessoa – o que faria com que o organismo reagisse de forma mais eficaz contra as células cancerígenas.
“A prática regular de exercícios tem sido estudada por seus efeitos benéficos em vários aspectos. Uma das teorias que sustentam a conexão entre a atividade física e a menor incidência de câncer é a melhoria do sistema imunológico, que aumenta a atividade de células de defesa, como linfócitos e células natural killer (células que agem na defesa do organismo contra doenças, como cânceres). Isso poderia ajudar na detecção e eliminação de células cancerígenas”, explicou.
Borges acrescentou ainda que a atividade física regular também tem sido associada à redução da inflamação crônica no corpo – fator que pode contribuir para o desenvolvimento de várias doenças, incluindo o câncer. Além disso, os exercícios físicos são uma ferramenta importante para o controle do peso corporal e a obesidade está associada ao maior risco de vários tipos de câncer, entre eles, o de próstata.
Outro fator importante, de acordo com o médico do Einstein, é que a prática regular de exercícios também pode melhorar a saúde metabólica, incluindo a sensibilidade à insulina – isso pode ser especialmente relevante na prevenção de cânceres associados à resistência à insulina, como o câncer de cólon e o de mama. “É importante notar que esses mecanismos não atuam isoladamente e podem interagir de maneiras complexas. As pesquisas têm caminhado no sentido de explorar essas relações para fornecer uma compreensão mais abrangente de como o exercício influencia a prevenção do câncer”, alertou o urologista.
Quanto fazer de exercício?
As diretrizes de atividade física mais amplamente difundidas incluem fazer pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada por semana ou pelo menos 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente de atividade moderada e vigorosa. Exemplos de atividades aeróbicas incluem caminhada rápida, corrida, ciclismo, natação e dança, entre outras. As atividades de fortalecimento muscular envolvendo grandes grupos musculares devem ser feitas em dois ou mais dias por semana: musculação, levantamento de peso, ioga, pilates etc.
Borges lembra que essas são diretrizes gerais e ressalta que a quantidade ideal de exercício pode variar de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como idade, saúde geral, condições médicas específicas e metas individuais. “Qualquer quantidade de atividade física é melhor do que nenhuma e pequenas melhorias na atividade podem levar a benefícios significativos para a saúde.”
Câncer curável
Se descoberto em suas fases iniciais, o câncer de próstata tem mais chances de cura, já que a detecção precoce permite intervenções médicas antes que o câncer tenha se espalhado, aumentando as chances de sucesso no tratamento. O exame de rastreamento comum para o câncer de próstata envolve a dosagem do PSA no sangue (antígeno prostático específico) e o exame da próstata através do toque retal.
No entanto, segundo o uro-oncologista, mesmo com a disponibilidade de métodos simples de detecção precoce, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos para conseguir fazer esse diagnóstico precoce, entre eles a falta de sintomas nas fases iniciais, que pode levar à demora na busca por cuidados médicos e consequentemente ao diagnóstico tardio.
Segundo o médico, a falta de abertura para discutir a saúde sexual masculina e o estigma relacionado ao exame de toque retal podem contribuir para a hesitação em procurar exames de rastreamento. Há também fatores socioeconômicos, que podem afetar o acesso a cuidados médicos e, consequentemente, impedir o diagnóstico e tratamento em tempo oportuno.
O médico finaliza dizendo que hoje em dia não podemos falar de câncer de próstata apenas durante campanhas como a Novembro Azul, o mês dedicado à prevenção desse tipo de câncer. “Cada vez mais, precisamos incentivar ações e falar sobre a prevenção e mudanças de hábitos simples, que potencialmente protegem os pacientes”, finalizou.