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Ex-doméstica vira professora e dirige escola destaque no Enem na Paraíba

Marias das Dores BarbosaDo trabalho doméstico à direção de uma escola estadual de referência na Paraíba. Este foi o caminho percorrido pela professora Marias das Dores Barbosa, de 55 anos, natural da cidade de Areia, no brejo da Paraíba, onde morava em um sítio na Zona Rural da cidade com outros nove irmãos.

Segundo a professora, que começou a estudar apenas aos 11 anos, o sonho de ser uma profissional da educação a fez superar as dificuldades apresentadas pela vida. “Hoje eu quero que os jovens possam acreditar que é possível crescer e modificar a realidade, ter forças para ir até onde se pode ir. Não é fácil, mas você precisa acreditar, sonhar”, conta.

Maria das Dores é diretora-adjunta da Escola Estadual Sesquicentenário, a escola pública paraibana com melhor resultado nas provas objetivas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, conforme o ranking divulgado pelo MEC.

Mas a história de ‘Dorinha’, como é conhecida pelos alunos e colegas de profissão, começou em seu primeiro contato com os estudos, que aconteceu quando ela precisou se mudar da Zona Rural de Areia para a Zona Urbana.

Ela foi para um centro social da cidade após o agravamento do estado de saúde do seu pai. “Fui alfabetizada pela professora Maria Francisca, ‘Dona Francisquinha’, aos 11 anos. Ela era apaixonada pelo alunos e me fez me envolver. Para mim era encantador”, recordou Dorinha.

Antes disso, o contato com os livros acontecia apenas quando um tio levava a literatura de cordel até sua casa e através das histórias contadas pela mãe, como as de Monteiro Lobato.

Com a morte do seu pai, Dorinha conta que foi necessário contribuir com as contas de casa e trabalhar como doméstica, cuidando de crianças em algumas casas de família. Segundo ela, trabalhar durante o dia e estudar à noite se tornou uma rotina durante o Ensino Fundamental e até o 1º ano do Ensino Médio.

Foi uma satisfação, uma alegria que não sabia expressar, passei de um caminho duro e me tornei uma profissional, sendo colega de alguns que eram meus professores.”
Professora Maria das Dores

Durante este tempo, a professora disse ter encontrador professores que a fizeram admirar o ensino e acreditar que os estudos seriam uma saída para a realidade social em que estava inserida.

“Todos os meus professores foram espelhos para mim. A professora Maria de Lourdes, do Colégio Santa Rita, me transmitia sabedoria. Eu ficava encantada em receber o conhecimento, eu também queria ter isso para mim. Por outro lado, o [retorno] financeiro era muito pequeno. Minha mãe não tinha condição financeira nenhuma e eu desejava uma mudança de vida”, relatou.

Além das dificuldades, Dorinha lembra que não tinha muito incentivo para continuar os estudos. De acordo com ela, se tornar professora, sempre foi uma busca pessoal, pois para os seus familiares, o importante era ter foco apenas no trabalho. “O meu foco era trabalhar, sim. Entretanto, era também o de buscar o conhecimento”, frisou.

O início da formação
Após concluir o Ensino Fundamental e o 1º ano do Ensino Médio, a ex-emprega doméstica cursou o 2º e 3º ano do curso na época chamado de magistério, uma formação técnica para professores. Nesta época ela já tinha dois filhos.

O seu primeiro dia de trabalho como professora aconteceu na mesma sala de aula onde recebeu os primeiros contatos com a educação.

“Foi uma satisfação, uma alegria que não sabia expressar, passei de um caminho duro e me tornei uma profissional, sendo colega de alguns que eram meus professores”, comentou.

Atualmente, a professora é formada em pedagogia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Além disso, uma de suas filhas está cursando doutorado em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Ascenção para a gestão escolar
No ano de 1996 e com quatro filhos, Dorinha precisou se mudar para João Pessoa por problemas pessoais. A professora relata que assim que chegou à capital foi convidada pela então diretora do Sesquicentenário, sobrinha de uma das ‘ex-patroas’ de Dorinha em Areia, para ser professora na instituição. Ela trabalhou na alfabetização das crianças, foi contadora de histórias e também ajudava na formação de crianças com deficiências, o que a levou a um curso para educação especial.

Há cerca de 19 anos trabalhando no Sesquicentenário e desde 2011 como diretora-adjunta da instituição de ensino, ela se orgulha de perceber que contribuiu na formação de muitas crianças, que cresceram e se tornaram bons profissionais no mercado de trabalho, assim como aqueles que fizeram as provas do Enem e tiveram bons resultados.

“Sempre incentivei os alunos a buscarem os seus sonhos. Tudo aquilo que temos de melhor temos que passar para os outros”, diz a professora Dorinha.

Agora, a professora se orgulha em contar que conseguiu mudar a sua realidade, pois conquistou a casa própria, os filhos estão formados e trabalhando como profissionais no mercado de trabalho, tem netos e continua trabalhando na educação. Mesmo com o tempo passado, ela destaca que o amor às crianças, ao ensino e ao trabalho com a educação continuam vivos.

G1/PB

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