TOCA DO LEÃO

Eu nasci quando o mundo começou

Leitora deste blog adverte para o pecado da vaidade. Ela imagina que sou muito ansioso em ter reconhecidos meus próprios méritos, ou os que julgo ter. Isto porque sempre estou postando frases elogiosas de meus compadres e comadres tão generosos. Portanto, peço permissão à minha nobre amiga que me censura brandamente pelo egocentrismo, mas tenho que citar mensagem que recebi de minha ex-professora Irene Marinheiro:

“A sociedade como um todo, não só a itabaianense, tem que ter orgulho de um ser humano como Fábio Mozart, pois ele tem contribuído para a melhoria dela e por um mundo melhor, mais fraterno e mais igual, sem tantas injustiças e tantas misérias. Se a sociedade não o reconhece como o grande homem que ele é, certamente é cega, surda e burra. Tenho muito orgulho de ter sido sua professora e de muitas vezes ter-lhe tido como confidente e sempre como amigo. Mais satisfeita fico em ver como defende insistentemente suas ideias de um ser político, indiferente a tudo o que já passou. Eu e Zenito somos seus eternos admiradores – Irene Marinheiro”.

Pronto, a imodéstia toma conta de novo da Toca do Leão. No embalo, leio que o arcebispo irlandês James Ussher (1581-1656) descobriu que, baseado na cronologia da Bíblia, o mundo foi criado exatamente no dia 25 de outubro do ano 4.004 antes de Cristo, um domingo. Justamente no dia em que eu vim ao mundo. Um saudável senso de ironia é outro atributo deste que vos escreve daqui desta cidade mesopotâmica entre o Atlântico e o Sanhauá.

Portanto, exercendo meu sagrado direito ao sentimento egoísta, esse “eu” maravilhoso de cada um, que é o centro superior da consciência, vou publicando por aqui os elogios recebidos. Não é presunção, apenas registro do que as pessoas pensam a meu respeito. Pecado da vaidade? Já disse o cronista: pecado não passa de uma malandragem das convenções, de uma safadeza do establishment, de um engodo ideológico.

Meu pecado é ser honesto. E humilde. Não fora esse detalhe, seria perfeito! Eis que recebo telegrama eletrônico do meu compadre Bebé de Natércio vazado nos seguintes termos, como se falava no tempo dos telegramas: “Esse Mozart é um fenômeno de criatividade na radiofonia do Brasil. Dá prazer escutar seu programa ‘Rádio Barata no Ar”. Meu compadre e parceiro Bebé de Natércio foi escandalosamente bondoso comigo. É muita areia pro meu caminhãozinho, mas eu aceito, que elogio é feito peruca: quase sempre é falso, mas massageia o ego do freguês prestigiado. Ainda não fui vacinado contra aplausos e glorificações dos amigos, que isso é bom para a autoestima, mesmo se correndo o risco da egolatria.

Para todos os que educadamente e amizadamente me desejaram suportáveis dias de reclusão nesses infelizes tempos de mortes e atrasos civilizatórios, resta comunicar que tomei vacina contra coronavírus. Eu e meus inflamados órgãos esperamos pacientemente, até que acabamos por nos proteger do mal virótico.

Antes de morrer de infarto, o cordelista Moraes Moreira escreveu um cordel que começa assim:

 

Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

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Fábio Mozart

Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba. Autor teatral, militante do movimento de rádios livres e comunitária, poeta e cronista. Atualmente assina coluna no jornal “A União” e ancora de programa semanal na Rádio Tabajara da Paraíba.

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