Entrevistando Otto Cavalcanti
Tive a honra de conhecer pessoalmente o artista plástico Otto Cavalcanti, um criador singular, nome importante do panorama artístico da Europa, ele que era radicado em Barcelona, Espanha. Otto Cavalcanti nasceu em Itabaiana, de onde saiu aos vinte anos de idade para ganhar o mundo com sua arte, seguindo o caminho do seu conterrâneo não menos famoso, mestre Sivuca. O “gran maestro brasileño” faleceu em 2 de julho deste ano, em Barcelona
Em um dia qualquer de 2009, fui entrevista-lo para o documentário que estou produzindo, cujo título é “Itabaiana, terra de bamba”. O mestre nos presenteou com várias gravuras que estamos expondo no Casarão dos Azulejos até 30 de setembro.
Otto contou sobre sua infância em Itabaiana, quando se descobriu apaixonado pelas cores e imagens. Desenhava os heróis das fitas de cinema, depois foi fazer a vida no Rio de Janeiro, trabalhando em jornais e revistas. De lá foi para a Europa, onde se estabeleceu com sua pintura.
Erico Veríssimo afirmava que a melhor chave para a alma de um país são as obras de seus artistas. Os quadros de Otto Cavalcanti ainda hoje trazem a marca de suas origens rurais, de seu universo itabaianense. Ele viveu na Idade de Ouro de Itabaiana, por assim dizer. Na década de 40/50, a cidade era abastada, tinha glória. A arte e a literatura eram incentivadas e prosperavam. Havia jornais diários, editoras, clubes literários, bandas filarmônicas. O próprio Otto estudou solfejo, iniciou-se nos caminhos da música, tocava piano. Nessa rica e próspera Itabaiana viveram Sivuca, o cinegrafista Vladimir Carvalho, os poetas Bastos de Andrade e Zé da Luz, o grande bandolinista Artur Fumaça, os mestres professores Maciel e Marieta Medeiros, o genial Pingolença e tantos outros artistas. Otto Cavalcanti lembrou de Manoel de Tino, um formidável artesão que fabricava armas de fogo. Otto esculpia as gravuras que adornavam as coronhas das espingardas de Manoel de Tino. Adolescente, já ganhava dinheiro pintando os animais da roda do “jogo do bicho”, loteria popular que ainda hoje persiste.
O pintor estudou na escola de dona Marieta, aprendendo os rudimentos do latim e inglês com um professor chamado Maciel. “Mestre Maciel era tetraplégico, mas tinha um cérebro privilegiado, uma memória fantástica”, lembra.
Pena que a entrevista foi estragada por falha técnica. Otto Cavacanti voltou para a Espanha com sua esposa, Margarita Solari. Sua maior vontade: disponibilizar o acervo para que sua arte seja conhecida na sua terra, assegurando para as novas gerações a oportunidade de estimular a atividade criadora diante da obra marcante do grande mestre. Faltaram receptividade e mentalidade arejada aos nativos. Morreu sem ter seu sonho realizado.
Fábio Mozart