Em julho, Funesc lança o projeto ‘De Repente no Espaço’
A Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc) vai lançar, no dia 1º de julho, o projeto “De Repente no Espaço”. Em sua primeira edição, a atividade tem como convidados os repentistas Ivanildo Vila Nova e Rogério Menezes. O evento, que começa às 19h, tem como palco o mezanino do Teatro Paulo Pontes e a apresentação fica por conta de Iponax Vila Nova, que será o declamador oficial de todas as edições. A entrada é gratuita.
A ideia do projeto é abrir espaço para essa linguagem artística e literária, valorizando os poetas populares do Nordeste. A atividade será mensal, devendo acontecer sempre na primeira quarta-feira de cada mês. A cada nova edição, o público contará com diferentes atrações da Paraíba e de outros Estados da região.
Ivanildo Vila Nova – Nascido em Caruaru (PE), em 1945, Ivanildo Vila Nova cresceu acompanhando seu pai, o famoso cantador José Faustino Vila Nova, pelas noitadas de cantorias. Ao abraçar a Arte do Improviso, Ivanildo não queria apenas ser mais um no cenário da poesia. Foi um dos responsáveis pela profissionalização e a elevação do cantador à categoria de artista.
Os mais céticos apostavam que a cantoria, ao sair do sertão para ganhar espaço nos grandes centros, estaria fadada à extinção. Porém, a ascensão de Ivanildo e dos cantadores de sua geração (Geraldo Amâncio, Moacir Laurentino, Sebastião Dias, Severino Ferreira e Sebastião da Silva, entre outros) abriu fronteiras. O trabalho dessa geração saiu do sertão para a cidade, saiu do Nordeste para outras regiões, chegando a outros países.
Com mais de 30 participações em álbuns, entre vinil, CDs, DVDs e discos de festivais, destaca-se, segundo os especialistas, pela sutileza de seus versos, pela síntese de seus improvisos e pela variedade temática de seu trabalho. Em 2002, participou do CD multimídia lançado por Gereba, em comemoração aos 100 anos do livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. No CD, fez dupla, na faixa “A história fará sua homenagem”, com Gereba, autor da música, composta em memória à figura de Antônio Conselheiro. Em 2006, fez participação especial no CD “Cabeça elétrica, coração acústico”, do pernambucano Silvério Pessoa. Vila Nova foi eleito o cantador do século passado.
Rogério Menezes – Rogério Meneses Sobrinho nasceu no município de Imaculada, na Paraíba, onde iniciou sua carreira de repentista. É formado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (Fafica) e tem pós-graduação em Gestão Pública pela Associação Caruaru de Ensino Superior (Asces). Em 2008, foi eleito vereador pelo PT e atualmente está à frente da presidência da Câmara Municipal de Caruaru – Casa Jornalista José Carlos Florêncio.
Como poeta e repentista, tem quatro CDs gravados e participação em mais de dez coletâneas. Comanda diariamente o programa Canções de Viola, na Rádio Jornal do Commercio, em Caruaru, e apresenta o programa “Brasil, Cordel e Repente”, na emissora local de TV Nova Nordeste. Parceiro de cantoria de Vila Nova, Rogério Meneses é, sem dúvida alguma, um dos cinco maiores da atualidade. Juntos vencem oito de dez festivais que participam.
Iponax Vila Nova – Filho do repentista Ivanildo Vila Nova. Considerado um dos mais importantes recitadores da nova fase da poética popular nordestina, Iponax gosta de interagir com o público, permitindo a ele fazer parte de sua poesia. Convidado para participar ou mediar os maiores festivais de viola do País, o poeta traz na bagagem muita experiência e a referência dos principais cantadores do Nordeste.
Repente – No Brasil, a tradição medieval ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores – poetas populares que vão de região em região, com a viola nas costas, para cantar os seus versos. Eles apareceram nas formas da trova gaúcha, do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Ao contrário dos outros, o repente se caracteriza pelo improviso – os cantadores fazem os versos “de repente”, em um desafio com outro cantador. Não importa a beleza da voz ou a afinação – o que vale é o ritmo e a agilidade mental que permita encurralar o oponente apenas com a força do discurso.
A métrica do repente varia, bem como a organização dos versos: há a sextilha (estrofes de seis versos, em que o primeiro rima com o terceiro e o quinto, o segundo rima com o quarto e o sexto), a septilha (sete versos, em que o primeiro e o terceiro são livres, o segundo rima com o quarto e o sétimo e o quinto rimam com o sexto) e variações mais complexas como o martelo, o martelo alagoano, o galope beira-mar e tantas outras. Todos se baseiam em métrica, rima e oração poética. O extremo rigor quanto à métrica e a rima perfeita é característico na cantoria dos repentistas violeiros. O instrumental desses improvisos cantados também varia: daí que o gênero pode ser subdividido em embolada (na qual o cantador toca pandeiro ou ganzá), o aboio (apenas com a voz) e a cantoria de viola.
Cordéis musicados – O repente se insere na tradição literária nordestina do cordel, de histórias contadas em caudalosos versos e publicadas em pequenos folhetos, que são vendidos nas feiras por seus próprios autores. Uma tradição que, por sinal, inspirou clássicos da literatura brasileira, como o “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, e “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. O repente foi para o Sudeste em meados do século XX, junto com a migração de nordestinos para os grandes capitais. Chegou a São Paulo em 1946 com o alagoano Guriatã de Coqueiro (Augusto Pereira da Silva) e, no Rio, instalou-se na Feira de São Cristóvão.
Funesc