Em carta, Cícero renuncia à vida política, se mostra ressentido com o PSDB da PB, mas apóia Aécio

O senador Cícero Lucena (PSDB) anunciou em uma nota emitida no início da tarde desta segunda (21) que vai se afastar da atividade política na Paraíba, citou o ex-governador e pai do senador Cássio, Ronaldo Cunha Lima e declarou apoio apenas ao candidato à presidência, Aécio Neves (PSDB).

Em nota endereçada aos paraibanos, o senador cita a bíblia afirmando que ‘tudo tem seu tempo determinado’ e também mencionou Ronaldo no que poderia ser uma alfinetada nos correligionários da Paraíba: “Política se faz como sacerdócio e não como negócio”.

Lucena também comentou  a respeito dos inúmeros cargos eletivos pelos quais passou e do número de votos que recebeu para se eleger senador, mas afirmou que ‘todos esses cargos são passageiros’.

O senador questionou ainda por que não teve direito de tentar a reeleição. ‘Por que o PSDB não reconheceu como legítimo um direito que me havia sido conferido por quase 50% do eleitorado?’.

O tucano também se mostrou ressentido com o PSDB afirmando que durante todo o processo eleitoral, apresentou várias soluções e abriu caminhos para novas alianças, mas segundo ele ‘o desejo deliberado de me tirar do processo falou mais alto’.

Ao afirmar que está se afastando da atividade política Cícero completou: “Não concordo e não comungo com os procedimentos e as práticas que a contaminaram. Como nunca exerci o poder meramente pelo poder, não há prova maior de desapego que esta de não disputar qualquer mandato eletivo nestas eleições”.

Finalizando ele destacou que no plano nacional vai ‘caminhar com Aécio Neves’.

Veja a nota na íntegra:

AOS PARAIBANOS

Na vida pessoal, e desde muito cedo, aprendi que não se deve invocar o nome de Deus em vão. Na minha vida pública, tive sempre a clareza de não fazê-lo para avaliar comportamentos humanos, nem muito menos julgá-los. Mas, eis que neste momento peço permissão aos amigos e à opinião púbica do meu Estado para recorrer a uma citação bíblica: “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.

Hoje, passada esta primeira fase do processo eleitoral paraibano de 2014, em que os partidos escolheram seus candidatos para a eleição de outubro vindouro, é chegado o meu tempo de falar.

Devo fazê-lo com a serenidade que, graças a Deus, sempre me acompanhou; com a honestidade de propósitos que nunca deixou de comandar as minhas ações. E, finalmente, com a lealdade que dediquei, nos bons e maus momentos, aos correligionários, aos amigos, aos adversários e, sobretudo, ao povo da Paraíba.

Fui vice-governador, governador, ministro de Estado, secretário de Estado, prefeito de João Pessoa e estou concluindo o mandato de senador da República, cargo para o qual fui escolhido pela vontade livre de 803.600 paraibanos, aos quais sou eternamente grato. Tenho a exata dimensão do quanto todos esses cargos são passageiros. Afinal, o que fica, o que vale, e o que nos fortalece enquanto cidadãos, são as nossas ações, as nossas práticas.

Entrei na política, em 1990, pelas mãos honradas do meu saudoso amigo e irmão Ronaldo Cunha Lima, que entre outras coisas me ensinou: “Política se faz como sacerdócio, não como negócio”.

Este ano, pleiteei legitimamente disputar a reeleição para o Senado. Pelo que estabelece a tradição política do nosso país, era candidato-nato. Mas o meu nome não constará da cédula eleitoral. Na urna eletrônica, não estarei nem com a foto nem com as minhas ideias em defesa de dias melhores para a Paraíba e pelo Brasil.

Não tenho como deixar de enfrentar a pergunta que muitos se fazem e que, acreditem, eu também faço: por que não tive o direito de tentar a reeleição? Por que o meu partido, o PSDB da Paraíba, ao qual tanto me dediquei, não reconheceu como legítimo um direito que me havia sido conferido por quase 50 por cento do eleitorado?

Durante todo este processo eleitoral, que começou em outubro do ano passado, ofereci várias soluções que viabilizavam a indicação do meu nome na disputa pelo Senado. Abri caminhos e conversas preliminares para a formação de novas alianças, preocupei-me em garantir maior tempo de propaganda para o partido no guia eleitoral e, por fim, articulei entendimentos que ajudariam numa boa composição da chapa majoritária. Nada disso foi suficiente. O desejo deliberado de me tirar do processo falou mais alto.

Por várias vezes, surpreendi-me com as informações de bastidores dando conta de que os detentores do comando partidário negociavam com outros políticos paraibanos a indicação para a disputa pelo Senado. Vi se repetir, agora, o que já ocorrera em 2010, quando fui preterido da legítima postulação ao Governo em nome de uma aliança que hoje a Paraíba inteira sabe no que resultou, e quem tinha razão.

Coerente com a minha história pessoal, que a trajetória política confirma, fui leal o tempo todo. Fui sincero, honesto e transparente. Em nome do partido e da amizade, conciliei conflitos e aparei arestas… Inúmeras arestas. Não foi o que recebi de volta.

No último dia 29 de junho, o PSDB da Paraíba reuniu-se em convenção e indicou os candidatos majoritários e proporcionais. Uma chapa foi composta à minha revelia, sem que meu nome pudesse ser apresentado aos convencionais. É difícil compreender que as coisas tenham chegado a este ponto, mas chegaram.

A esta altura, renovando os agradecimentos aos meus familiares, sempre solidários ao longo tempo; aos meus verdadeiros e fiéis amigos que se revelam no olhar e nos gestos; e, finalmente, a todos os paraibanos que reconhecem a minha postura honrada em todo este episódio, devo informar que estou me afastando da atividade política na Paraíba. Não concordo e não comungo com os procedimentos e as práticas que a contaminaram. Como nunca exerci o poder meramente pelo poder, não há prova maior de desapego que esta de não disputar qualquer mandato eletivo nestas eleições.

Deixo claro que minha decisão é hoje, e sempre será, de respeito a quaisquer das opções que, de forma livre e legítima, serão abraçadas por familiares, amigos e correligionários no atual processo eleitoral do Estado.   

No plano nacional, gostaria de me dirigir àqueles que possam considerar um pedido: vou caminhar com Aécio Neves, que representa hoje a esperança de um Brasil melhor.

Como diz o Eclesiastes, “tudo tem o seu tempo determinado”. Tempo de falar e tempo de ficar calado.

Mas, sobretudo, sempre haverá tempo para os bons propósitos.

Para quem tem Deus, nunca é tarde pra recomeçar.

João Pessoa, 21 de julho de 2014

Senador Cícero Lucena

Redação com Portal Paraíba

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