Eduardo Campos: Morre mais um salvador da pátria???
Se fossemos criar uma imagem do Brasil, seria a de uma vaca leiteira. Todos os que dela se aproximam querem encher o seu balde (inclusive o bezerro!). Aqui se encaixa muito bem o “Complexo de Gabriela”, quem não lembra? Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim… Em termos de política,no Brasil, isso nunca muda: os pobres trabalham e se ferram (com a devida licença do termo) e a elite, sobretudo, a elite política usa e abusa literalmente do fruto do nosso trabalho.
Como escreveu o escrito Lima Barreto, o Brasil em termos de política funciona da seguinte forma: ‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os advogados, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’.Claro que ele não citou os políticos, porque esses todos já o sabiam; nem “os romancistas” incluíam ele; pois, não veiculava a ideologia da elite. Segundo o Bossuet, teólogo e teórico político francês do século XVII,a política tem por fim tornar a vida cômoda e os povos felizes. No Brasil, dizia Lima, ocorre o inverso: A política tem por fim tornara vida incômoda e os povos infelizes. E arrematava: E os partidos têm por programa um único: não fazer nada de útil. Claro que existem raríssimas exceções.
Pois bem, o candidato à presidência da república, pelo PSB, Eduardo Campos, após o trágico e fatal acidente, foi alçado a salvador da pátria ou a candidato a santo. A gente simples de Pernambuco chorava e lamentava seu desaparecimento, outros diziam ser ele o próprio pai. Essas pessoas que nada têm a não ser a possibilidade de esperar, mesmo contra toda a esperança, acolhem qualquer um da elite (sim, porque pobre odeia pobre) que lhe sorri com simpatia, se bem que um sorriso interesseiro (sim, porque político não sorri gratuito). Calma gente, vamos devagar! Quem acompanhou, ainda que de longe, os quase oito anos do governo de Eduardo em Pernambuco, sabe por A+B que estava longe de ter sido um bom governo. Que ele fosse um grande pai e grande amigo, não porei em questão aqui tal mérito, mas isso era lá para os seus. Coisa que qualquer um pode ser. O político deve ser ético e eficiente.
Vale relembrar duas frases usadas por ele, à exaustão, na campanha: “O Brasil tem jeito” e “Não vou desistir do Brasil”. Essas frases de efeito só funcionam ou para quem está interessado em, mamar nas tetas do estado ou para quem é como essas pessoas que choram por ele: alienadas e sem outra perspectiva de vida a não ser endeusar seus algozes; entenda-se, alguém da elite. O eleitor consciente, não vai nessa. Todos sabemos que o país tem jeito, o que não tem jeito é a política nacional, desde sempre. Essa é como a cantiga da perua: é de pior a pior. Desistir do Brasil ninguém desiste, aliás, somente os holandeses e os franceses é que foram OBRIGADOS e desistirem. O Brasil rende muito dinheiro, poder e prestígio para alguém desistir dele, assim… E o que é que os candidatos buscam?! Apenas chamarei a atenção para esses salvadores da pátria e suas frases de efeito. Alguém ainda se lembra da campanha eleitoral de 1989, sua sequência e consequências? A caça aos marajás nos diz alguma coisa?! Os antigos diziam que “para bom entendedor mais palavra basta”. Pois bem, tentemos ter memória, senão o angu desanda, ainda mais. Os antigos também diziam que: quando a esmola é grande o santo desconfia.
Mas como político, vamos aos fatos do então governador. Recorrerei apenas a dois:do seu segundo mandato. Várias famílias sofreram para obter a liberação dos corpos de seus entes queridos, que demorava como sempre. E sabiam que os corpos estavam apodrecendo pelo simples fato de que o IML estava sucateado e como se não bastasse várias geladeiras não funcionavam. E esta situação perdurou por vários meses. Um outro fato: o prédio da secretaria da segurança pública estava igualmente sucateado, inclusive com goteiras, riscando perder-se todos os dados, digitais inclusos, de todos os pernambucanos. Esses dois fatos formas noticiados na impressa televisiva ao menos em nível estadual. O último, depois de vários meses, voltou a ser denunciado, é claro, porque não tinha sido resolvido.
Então, caro leitor, um administrador que não consegue administrar dois edifícios com suas respectivas repartições, iria dar jeito no Brasil? Que seu fim foi trágico ninguém nega, mas por isso, e só por isso, canonizá-lo, é muito, não? Mais uma vez evoquemos os antigos quando diziam:“quem quiser ser bom, morra ou faça viagem”. Pois, sentimental e não reflexivo nosso povo não desce aos fatos apenas boia no sentimentalismo. E assim, um certo figurão morre hoje, amanhã já lhe são creditados milagres! Se há algo que nos caracteriza é que somos um povo sentimentalóide, e dentro disso somos também arrogantes com os fracos e submissos para com os fortes, desses sofremos opressões e ainda choramos a morte.