A inflação de dois dígitos, a estagnação da economia, a alta do desemprego, do desalento e da fome, numa escalada que há muitos anos não se via no Brasil, e pior, sem nenhuma expectativa de melhora a curto e a médio prazo, têm dois culpados, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e o ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes.
A dupla Bolsonaro/Guedes nada fez para combater a inflação e resolver a crise, aquecendo a economia e gerando emprego decente, melhorando as condições de vida dos brasileiros, em especial os que ganham menos e têm menos oportunidades na vida.
Preocupado apenas em dar um golpe contra a democracia, se manter no poder e salvar a si próprio e a seus filhos da prisão, o presidente da República não tomou nenhuma providência para conter a crise econômica, muito pelo contrário, a alimenta com seus desvarios de poder.
Já Paulo Guedes quer agradar o mercado financeiro e só apresenta como soluções vender o patrimônio público e retirar direitos dos trabalhadores, como fez com a reforma da Previdência, e implantar a Carteira Verde e Amarela, como ocorreu recentemente com a Medida Provisória (MP) nº 1045, rejeitada pelo Senado.
Para entender por que Bolsonaro e Guedes são os culpados pela crise econômica, o Portal CUT ouviu especialistas que listaram algumas medidas que qualquer governo tomaria para minimizar, ou até mesmo resolver a crise econômica.
A solução está em conter a inflação dos alimentos, dos combustíveis, da energia elétrica e da água, essenciais para a sobrevivência. Por isso, pontuamos o que o presidente e o ministro da Economia deveriam ter feito para evitar a crise inflacionária, agravada pelos constantes aumentos desses itens, mas não fizeram.
Aumento dos alimentos
No Brasil, a insegurança alimentar ultrapassa 84,9 milhões de pessoas, mas o governo nada faz para estancar a inflação dos alimentos. De agosto de 2020 a agosto de 2021, a carne bovina e aves tiveram aumentos de quase 30%, assim como o arroz (30,5%), o feijão carioca (17,3%) e ovos (15,8%). O óleo de soja foi remarcado em quase 70%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para evitar essa disparada, o governo deveria:
1 – fazer estoque regulador, que é a compra por parte do governo de grandes quantidades de alimentos mantidos para em caso de alta muito grande nos preços ele “ libere” seu estoque, para evitar que aumente demais.
Bolsonaro faz ao contrário: O estoque regulador em 2011, era de 1,3 milhão de toneladas de arroz e 136,9 mil de feijão. No ano passado, o estoque de arroz era de apenas 21,5 mil toneladas e zero de estoque de feijão.
Na capital de São Paulo, o quilo do arroz, dependendo da marca e do supermercado em que é vendido, sai a R$ 5,89, e o quilo do feijão a R$ 8,98.
2- Intervir na taxa de câmbio
Os ataques à democracia têm feito tanto brasileiros como estrangeiros retirarem seus investimentos do país. Ao perceber que a crise econômica é também política, a busca pelo dólar para quem pode comprar aumenta e o resultado é a moeda norte-americana cada vez mais valorizada. De acordo com o câmbio dessa segunda-.feira (13) estava em R$ 5,25.
Governo Bolsonaro não interveio no câmbio, apesar de termos uma reserva para emergências de cerca de R$ 350 bilhões. A alta do dólar, que traz consequências nefastas para o equilíbrio da inflação, não é urgente para Bolsonaro, nem para Paulo Guedes.
3- taxar exportações
Com a alta do dólar, vale mais a pena para o agronegócio exportar e, por isso, está faltando arroz e feijão no mercado interno.
Bolsonaro não implantou nenhuma política de taxação às exportações, para que ao menos valesse a pena os produtores venderem no mercado interno.
Além disso, outros avisos de que poderia faltar arroz e feijão foram ignorados pelo governo federal como a seca e a queda de área plantada desses produtos.
De 2006 a 2020, a produção somada de arroz e feijão teve queda na área total plantada de mais de 10% para pouco mais de 5%, enquanto soja, cana de açúcar e milho, somados, saíram de patamares inferiores a 70% para mais de 80% do total da área plantada em 2020, segundo o Departamento de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a partir de dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, SIDRA-IBGE.
4- incentivar a agricultura familiar e pequenos produtores
Os pequenos produtores são responsáveis por cerca de 75% dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras e ainda contribuem para conservação de áreas florestais que fornecem água, energia e amenizam as mudanças climáticas, mas não têm o apoio devido.
O governo Bolsonaro não forneceu acesso a crédito, assistência técnica e comercialização e até agora não sancionou Projeto de Lei (PL) que garante o auxílio emergencial e outras medidas de auxílio para os agricultores familiares.
5- continuar reforma agrária
A reforma agrária que possibilita os pequenos agricultores a ter a sua própria terra para plantio e, consequentemente, aumentar a oferta de alimentos e baixar os preços, foi totalmente paralisada no governo de Bolsonaro.
Aumentos dos combustíveis
Os preços dos combustíveis pesam na composição do índice da inflação 7,12%, assim divididos: gasolina (5,98%), etanol (0,84%) e diesel (0,22%).
De dezembro de 2015 a setembro de 2021, a gasolina aumentou em média 65%. Foi de R$ 3,64, em média, no governo Dilma Rousseff (PT), para R$ 6,00 no governo Bolsonaro.
Para evitar esses aumentos, Bolsonaro e Guedes deveriam:
6- acabar com a Política de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras.
Apesar do Brasil ser um grande produtor de petróleo, Michel Temer (MDB-SP), em 2017, criou a Política de Paridade Internacional (PPI), que reajusta os combustíveis de acordo com o preço do barril de petróleo, cotado em dólar. Bolsonaro e Guedes em vez de acabarem com a Política de Paridade de Preços Internacional incentivam a crise, vendendo refinarias e atuando para privatizar a Petrobras.
7 – Estimular o uso do biodiesel
Mais uma vez na contramão do mundo, o governo Bolsonaro ao invés de estimular energia limpa, diminui a quantidade de biodiesel na composição do diesel.
Uma portaria do governo federal de abril deste ano, permitiu a diminuição de 13% para 10% a quantidade de biodiesel misturado ao diesel, o que aumenta ainda mais a poluição emitida pelos veículos.
Aumentos na conta de luz
A bandeira tarifária subiu 50% em agosto. Com isso em média, as famílias brasileiras terão um aumento em torno de R$ 24,00 em suas contas de luz. Os constantes reajustes na energia elétrica ,diz o governo, são provocados pela maior seca nos últimos 91 anos, mas na verdade, Bolsonaro e Guedes nada fizeram para diminuir a crise.
O que o governo não fez:
8 – incentivar o uso de energia eólica e solar
O Brasil por suas características geográficas tem a possibilidade de ser um grande produtor de energia solar e eólica, impulsionada pelos ventos. Mas, ao contrário de países mais desenvolvidos em que o uso dessas energias renováveis está sendo incentivado, o governo federal simplesmente deixou a Petrobras vender seus parques eólicos
9 – fazer Eletrobras voltar a investir
Desde 2017, no governo Temer, a Eletrobras está proibida de investir. Bolsonaro ao invés de retomar os investimentos da empresa decidiu vendê-la, contrariando a promessa que fez aos eletricitários durante a sua campanha eleitoral à presidência, em 2018.
Como os períodos de seca, como os de dezembro passado a maio deste ano, são previsíveis, faltou ao governo além de investir em energias renováveis, construir hidrelétricas reversíveis, comuns na Europa e Estados Unidos, nas quais são armazenadas energia para eventuais períodos de escassez. Os bilhões em caixa da Eletrobras poderiam ter ajudado nesses investimentos, mas o governo prefere distribuir os dividendos com os acionistas.
“A Eletrobras teve capacidade de R$ 30 bilhões para investimentos nos últimos três anos. O lucro no ano passado foi de R$ 6,4 bi. A estatal não usa dinheiro público para investimentos. Pelo contrário, paga dividendos”, diz o engenheiro elétrico da Eletrobras, Ikaro Chaves.
Crise hídrica
10- Uso da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
O governo de Jair Bolsonaro em nenhum momento se posicionou sobre a falta de ação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em relação à crise hídrica, que consequentemente, afeta o fornecimento de energia do país. A ANA tem papel de reguladora das águas de domínio da União (interestaduais, transfronteiriças e reservatórios federais), bem como regular os recursos hídricos (abastecimento humano e animal, indústria, irrigação agrícola, geração de energia, navegação, pesca, aquicultura e mineração)
É uma roda sem fim, a falta de chuva, causada também pelas queimadas que o governo não combate, impacta também na agricultura, que encare seus produtos, tanto pela quebra de produção como pelo aumento dos custos para se manter o gado com ração, já que o pasto seco não alimenta os animais.
Mas a dupla Bolsonaro/Guedes simplesmente tapa os olhos e só se interessa em privatizar o saneamento básico do país, o que vai encarecer ainda mais o custo da água.
Resumindo, o governo de Jair Bolsonaro estimula a degradação do meio ambiente com o uso de termoelétricas, que poderia ser evitado com mais investimentos da Eletrobras; acaba com o investimento da Petrobras em energia eólica, incentiva as grandes queimadas, acaba com a fiscalização contra o garimpeiros e madeireiros, privatiza o saneamento básico e outras medidas que acabam aumentado o custo dos transportes, da energia elétrica, da água e dos alimentos, numa roda sem fim que só faz a inflação crescer.
Por CUT – *Edição: Marize Muniz