Dois pesos e duas medidas de uma mídia reacionária
Eu já disse aqui nessa mesma coluna que a direita não faz mais segredo de suas ideias políticas, de suas tendências administrativas corruptoras, excludentes e de favorecimento espúrio; e até mesmo de suas gatunagens na política, na administração e nas ações sociais que deveriam ser em prol do bem comum especialmente dos mais pobres e que são sempre pensadas e postas em prática privilegiando os mais ricos.
Pois bem, um fato ocorreu ontem (20/06/2016) no noticiário matinal Bom dia Brasil, veiculado pela todo-poderosa Rede Globo, o qual num comentário do apresentador (não cito o nome para não fulanizar), deixou mais uma vez cair a máscara e demonstrar todo o alinhamento direitista, retrógrado, reacionário e antipopular da empresa. Não é novidade o reacionarismo ditatorial desta empresa de comunicação, que sempre usou seu aparato e funcionários para o bem próprio e o favorecimento da classe dominante que sempre rapinou os cofres públicos no mais sórdido assalto às arcas do governo, que desde a invasão portuguesa, há mais de quinhentos anos, se pratica nesta terra, legando a quem de fato trabalha a miséria, a fome e o aviltamento. Repito: não é novidade o alinhamento reacionário da Globo. Não é preciso ter formação em Análise do discurso para perceber a ideologia veiculada em sua programação.
Apenas um fato para refrescar a memória: A Globo, na pessoa do seu fundador o “coronel” Roberto Marinho, apoiou integralmente o golpe militar que mergulhou o país na mais absurda treva do regime de cerceamento e exceção. E não foi um erro casual, pois esse tipo de erro se observa e se corrige logo após, o que não foi o caso. Haja visto que em 1984, após vinte anos, portanto, o sobredito ditador da Globo publicou editorial de primeira página, no seu jornal homônimo, reafirmando o apoio ao golpe e a todos os seus atos, ao que que ele denominava de revolução; mesmo após todos as atrocidades cometidas, corrupções e desmandos praticados pelos ditadores, que em vinte anos desfilaram pelo poder nacional. Não precisamos de muitas informações para sabermos quem foi, é e será a Globo.
O tal fato levado ao ar pelo apresentador oficial do noticiário matutino, diz respeito à situação do novo delator da Lava-jato, o empresário e ex-senador do PSDB, e que depois passou para o PMDB e também ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Esse anjo de honestidade informou oficialmente que desviou mais de 100 milhões de reais para o PMDB, PSDB e outras legendas. Essa delação foi o golpe que faltava para periclitar o governo interino e demostrar em que esgoto chafurda(va) o senhor usurpador, que se diz presidente, Michel Temer, e toda sua malta.
Na reportagem, o Bom dia Brasil mostrar a Mansão de Sérgio Machado em que ele cumprirá prisão domiciliar por dois anos e meio. Mal saiu da tela a reportagem, o apresentador começou a falar da pena branda infligida ao delator, das mordomias que ele teria, da capacidade da garagem da mansão de receber até dez carros, da piscina que ele terá à disposição, do bairro nobre em que fica situado o imóvel, e até do valor do mesmo, no mínimo cinco milhões de reais… ufa! E em seguida deixou sangrar seu pesar por tal pessoa que fez cair, até agora, três ministros do governo Temer (Romero Jucá do Planejamento, Fabiano Silveira da Transparência, e Henrique Eduardo Alves, do Turismo, todos pegos com a boca na botija. E vários outros ministros estão envolvidos) o que significa desestabilizar o governo, derrubando de vez frágil máscara que, a muito custo, tentavam segurar à cara. E depois disso tudo, o responsável ficar com todas essas mordomias e pena tão leve… O tom do apresentador era de lamentação. É bom que se frise, todos esses caíram em vinte e poucos dias de governo.
Até aí tudo bem, eu também não concordo com alguém que de certa forma chefiava ou fazia movimentar tamanha quadrilha deva ficar livre e com uma vida nababesca, enquanto pessoas, que trabalham de sol a sol e se esforçam por serem honestas, vivam contado moedas, mas fazer o que? Este é o preço que pagamos por termos nascido num país invadido e colonizado por portugueses.
O que vale a pena ressaltar é que enquanto os outros ratos de esgotos denunciavam e faziam delações comprometedoras contra o PT e outras legendas de esquerda, o caro apresentador permanecia na moita com boca de siri. Nunca lamentou se pessoas eram enlameadas justa ou injustamente, nunca deplorou a pena mínima para quem fazia as delações, cometendo enorme estrago social. Nada! Para ele tudo isso estava muito bem feito! Inclusive, comentava-se à farta (sobretudo jornalistas da BAND) a possibilidade de extinguir o Partido dos Trabalhadores por causa de corrupção. Mas há que se lembrar a essa gente que se fosse extinguir partidos por corrupção e apropriação indébita do dinheiro público, seriam extintas com eles todas as instâncias de poderes desse país, inclusive desconfio que muito poucas empresas de comunicação sobreviveriam. É bom que tenhamos claro que esses jornalistas e essas empresas (conglomerados) de comunicação, que pertencem a famílias riquíssimas, só veem pobres, movimentos sociais e partidos de esquerdas porque não podem exterminar como se extermina formigas. Existe neste país, desde o início, uma ojeriza, uma intolerância, um ódio inaudíveis contra os pobres. As coisas por aqui funcionam assim: se o partido for de esquerda há que se denunciar, delatar, expor da maneira mais crua e abjeta possível; mas se os ladrões são da elite há que se abafar, camuflar e proteger os “afanadores”.
Quanto ao governo que ora ocupa o poder central do país, se se investigá-lo bem, ao menos 70% do que se está investigando o PT, ocorrerá o que profetizaram Ivan Lins e Victor Martins na canção Cartomante: “Cai o rei de Espadas/ Cai o rei de Ouros/ Cai o rei de Paus/ Cai, não fica nada//”. O primeiro a cair seria o usurpador-mor, cujo filho de sete anos possui um imóvel que vale dois milhões de reais. Este dinheiro por acaso caiu do céu?! Porque nem a Globo nem a BAND nem a Folha de São Paulo, falam disso? Será que é porque elas também comem do dinheiro público?! Isso também merece investigação, ou não?