Dirceu: todo governo que lutou pelo povo foi atacado como ‘corrupto’
247 – Em sua coluna no Metrópoles, publicada nesta terça-feira (24), o ex-ministro José Dirceu diz que o “uso e abuso da luta contra a corrupção na disputa política pelo poder tem sido uma constante em nossa história” e cita exemplos emblemáticos.
Começando por Getúlio Vargas e o suposto “mar de lama” que envolvia o Palácio do Catete, a vassourinha de Jânio Quadros e sua falsa campanha de moralização e combate à corrupção na sucessão de JK, a derrubada de João Goulart e o golpe de 1964 para “livrar o Brasil da corrupção e do comunismo”, e, claro, até um triplex, mas em Ipanema, que seria a prova da corrupção de Juscelino Kubitschek, presidenciável com mais de 40% de intenção de votos para a eleição de 1965.
“Em resumo, todos os presidentes que fizeram governos genuinamente nacionalistas e com medidas pró-trabalhadores foram atacados por campanhas anticorrupção”, diz.
Para Dirceu, a operação Lava Jato, que serviu de instrumento para o golpe parlamentar judicial que derrubou Dilma e levou à prisão de Lula após condenação mais que ilegal, é apenas mais um capítulo do mesmo enredo.
“Não restam dúvidas de que Moro e Dallagnol conspiravam à sombra e contra a lei e a Constituição, sob o olhar complacente do STF e, com raras exceções, com o apoio total da mídia. A luta contra a corrupção, mais do que necessária, só foi possível graças aos governos Lula e Dilma, que reestruturaram o MPF e a PF, fortaleceram o Coaf e a Receita Federal, deram à CGU condições de fiscalização e aprovaram, no Congresso Nacional, todo o arcabouço legal que a viabilizou, apesar dos abusos e uso político”, diz.
O ex-ministro lembra que “nunca houve tanta corrupção como nos anos de ditadura militar e ninguém podia denunciar”, mas agora os tempos são outros: “Por que nunca se foi à fundo na relação de grupos de comunicação com os casos de corrupção na Fifa e no futebol em geral? E os bilhões de reais que circulam sem passar pelo sistema bancário? Isso sem falar nas privatizações do sistema de teles no governo tucano ou a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique”.
Citando nomes recentes que ganharam os holofotes sob a bandeira do combate à corrupção e foram alçados do Judiciário à arena política, como Sérgio Moro, Demóstenes Torres e Pedro Taques, Dirceu conclui dizendo que “ostentar tal bandeira mexe com egos e projeta a construção de heróis nacionais, personagens que trazem, infelizmente, mais danos do que benefícios para a democracia”.