Dilma diz que Brasil não está ‘doente’ e se declara ‘triste’ com críticas
A entrevista foi concedida na tarde desta sexta, na biblioteca do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, em Brasília. Na gravação, de mais de uma hora, a presidente classificou como momentâneos os “problemas e dificuldades” do país, e apontou o ajuste fiscal como necessário para uma rápida retomada do crescimento econômico.
No início do ano, o governo enviou ao Congresso Nacional medidas provisórias e um projeto de lei para reduzir o gasto público. No mês passado, o governo anunciou um corte de quase R$ 70 bilhões no Orçamento da União que atingiu todos os ministérios.
“Mesmo fazendo o ajuste, como o Brasil não passa por uma situação em que ele é estruturalmente doente – pelo contrário –, ele está momentaneamente com problemas e dificuldades. Por isso, é importante fazer logo o ajuste para a gente sair mais rápido da situação. Acontece que nós temos de simultaneamente ao ajuste fazer investimentos em infraestrutura e manter programas sociais para não voltar para trás”, disse a presidente.
Nos últimos meses, Dilma tem defendido o ajuste fiscal em eventos dos quais participa. Nesta quinta (11), por exemplo, ao participar do 5º Congresso Nacional do PT, em Salvador (BA), ela pediu apoio da legenda às medidas e disse que foi preciso “coragem” para adotá-las.
Inflação
Na entrevista ao Programa do Jô, a presidente também se disse “bastante agoniada” com a inflação, uma das coisas que, segundo afirmou, mais a preocupa. Ela afirmou que o governo fará “o possível e o impossível” para manter o índice de inflação dentro da meta.
“Fico preocupada porque acho que vamos ter de fazer um imenso esforço. Nós iremos fazer o possível e o impossível para o Brasil voltar a ter inflação bem estável, dentro da meta. Este processo que estamos vivendo tem um tempo, ele não vai durar”, declarou.
‘Pavio curto’
Ao responder a Jô Soares, que perguntou se ela é uma pessoa “de pavio curto”, Dilma afirmou que a qualificam como “muito dura e exigente”, mas que convive entre homens “meigos”.
“Eu quero dizer que eu tenho uma imensa capacidade de resistir. Aprendi isso ao longo da minha vida. Me prenderam e eu aprendi. Me botaram na cadeia e eu aprendi a resistir, a ter tranquilidade para você aguentar, sabendo que uma hora passa. Agora, eu acho que sou uma mulher dura no meio de homens meigos. Os homens são meigos e as mulheres, duras. Eu sou dura porque não posso ser uma presidente mole”, afirmou.
Críticas
A presidente afirmou que se sente “triste” com as críticas que recebe, mas disse que aprendeu a conviver com a situação. “É todo dia. Tem horas que exageram um pouco. Pegam pesado. Mas é da atividade pública”, afirmou.
“Eu tenho de aceitar que as pessoas não gostem do que eu faço. Tenho de aceitar. Eu não levo no pessoal. Agora, se você quer saber se eu fico triste? Fico, sim. Em algumas horas, eu fico bastante triste. Porque é aquele negócio: ninguém é de ferro”, completou.
Ministérios
Dilma também comentou as críticas motivadas pelo número de ministérios (39) e admitiu que a quantidade de pastas poderá diminuir.
Segundo ela, cada ministro tem um papel e algumas das pastas criadas recentemente foram “essenciais”. Ela citou as secretarias de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.
“Vou dizer: criticam muito porque temos muitos ministérios. Eu acho que teremos de ter menos ministérios no futuro”, disse. Questionada sobre o Ministério da Pesca, respondeu: “Se você tiver a Pesca com a Agricultura, acho até que no futuro você poderá ter uma situação assim.”
Michel Temer
Dilma elogiou a atuação do vice-presidente Michel Temer, do PMDB, na articulação política do governo.
Responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional, ele assumiu as funções da Secretaria de Relações Institucionais após a saída do ex-ministro Pepe Vargas (atualmente na Secretaria de Direitos Humanos).
Na avaliação da presidente, Temer “foi um grande parlamentar e tem muita experiência”. Segundo ela, Temer é “extremamente hábil é ótimo articulador político.”
G1 Brasília