OPINIÃO

Democracia nunca existiu, mas governar sem maioria do povo é ultrajante

Apesar de tão disseminada e defendida, a democracia nunca existiu. Democracia significa “governo do povo” e nunca, na história da humanidade, existiu um governo digno deste nome. Não existiu na antiga Atenas, seu berço, pois a maioria do povo não participava das decisões. Não existe nos Estados Unidos, seu berço moderno, pois o voto, principal instrumento de decisão do povo, não é livre do poder econômico.

A questão da democracia sempre foi um calo para a esquerda porque, na tradição marxista-leninista clássica, a democracia moderna é, na verdade, uma ditadura do capital e a verdadeira democracia ainda não é conhecida, não existe um modelo. Apesar disto, há tempo que a maior parte da esquerda no mundo se diz democrática, aceitando grande parte dos valores da democracia moderna, como o voto universal e o respeito às escolhas da maioria. Isto porque, apesar dos pesares, o sistema deixa espaços para a disputa de poder, como provam as eleições de representantes da esquerda pelo mundo. O sistema político não é completamente controlado pelo poder econômico porque ele exige que os representantes tenham o voto do povo, e isto também é um calo para o poder econômico. Ou seja, o sistema é bruto para todo mundo, muito mais para a esquerda que tem a desvantagem de não ter o poder econômico, mas todos respeitam-no por ser o que existe para intermediar as disputas de poder.

Nos Estados Unidos as escolhas do povo se dão no espaço limitado de duas estruturas elitistas, os dois partidos hegemônicos, fortemente influenciados pelo poder econômico. Ainda assim, há disputas de interesses de classes dentro daquele espaço.

No Brasil, assim como nos Estados Unidos, as eleições são transparentes, mas a maior parte dos votos são comprados. A grande maioria dos parlamentares são eleitos por currais eleitorais onde o voto é controlado pelas máquinas das prefeituras. Por isto que a esquerda sempre elege apenas pouco mais de cem representantes na Câmara dos Deputados. O voto mais livre é o de presidente da república, por isto que a esquerda ganhou cinco das nove eleições deste período pós ditadura.

Nos Estados Unidos, no Brasil, assim como na maior parte do mundo, é este sistema político, que nem de longe pode ser considerado democrático, no sentido de governo do povo, que intermedia as disputas de poder.

E o que dizer das eleições da Venezuela? A diferença do caso venezuelano é que o sistema não é reconhecido por todas as partes envolvidas na disputa de poder porque não há transparência do resultado das urnas. Todas as manobras feitas por Nicolás Maduro, mesmo antes das eleições, incluindo prisões e impedimentos de candidaturas, são evidências de que ele não tem o apoio da maioria do povo e, portanto, perdeu a eleição. Por isso que não há transparência.

Não sou iludido com a democracia existente, acho até que seria capaz de apoiar uma ditadura de um governo popular, em caso excepcional, por exemplo, contra uma minoria violenta. Mas apoiar uma ditadura em nome do povo, mas que não tem o apoio da maioria do povo, para mim não dá.

O socialismo tem que ser democrático e construído pela maioria do povo.

Por Eziel  Inocêncio

Redação DiárioPB

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