De volta ao mapa da fome: insegurança alimentar atingiu quase 85 milhões de brasileiros
O desmonte das políticas de segurança alimentar iniciado na gestão de Michel Temer (MDB), associado à precarização do trabalho e à queda da renda, colocaram o país de volta no mapa da fome.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, divulgada na última quinta-feira (17) pelo IBGE, aponta que 84,9 milhões de brasileiros foram atingidos por insegurança alimentar (IA), entre 2017 e 2018.
Nesse período, a IA subiu para 36,7%, o que quer dizer que tem mais brasileiros passando fome ou comendo menos. Este é o pior resultado desde o início do levantamento.
O percentual vinha registrando queda constante desde 2004, mas voltou subir em 2017.
Dos 68,9 milhões de domicílios do país, 25,3 milhões (36,7%) estavam com algum nível de restrição de acesso à comida.
Conforme a pesquisa, metade das crianças menores de cinco anos (6,5 milhões) viviam em domicílios com algum grau de insegurança alimentar.
Com o governo Bolsonaro, a situação piora.
“Essa realidade degradante anterior à chegada da pandemia revela o abandono e o descaso do governo com as políticas públicas desde 2016 e que se agrava com a chegada de Bolsonaro ao poder”, avalia o Dieese, em nota técnica.
▶️ Leia a íntegra da análise do Dieese aqui.
A disparada dos preços dos alimentos e o rebaixamento do auxílio emergencial para R$ 300, que cobre apenas metade (57%) do valor de uma cesta básica (R$ 528), tendem a levar o índice a níveis recordes neste ano.
Segundo o Dieese, a política de estoques públicos reguladores de grãos, como arroz e feijão, em momentos como esse, poderia frear as altas e garantir abastecimento.
A criação de políticas de proteção social e de fomento à produção agrícola articulada com o lançamento da Estratégia Fome Zero, a recriação do Consea e a institucionalização da política de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) tiraram o Brasil do Mapa Mundial da Fome, em 2014, segundo relatório global da Organização das Nações Unidas.
Níveis de insegurança alimentar
Os domicílios podem ser classificados em três níveis de insegurança alimentar: leve, moderado e grave.
Um domicílio é classificado com insegurança leve quando há preocupação com acesso aos alimentos no futuro e a qualidade da alimentação já está comprometida.
Nesse contexto, os moradores já assumem estratégias para manter uma quantidade mínima de alimentos disponíveis. Trocar um alimento por outro que esteja mais barato, por exemplo.
No segundo nível, de insegurança moderada, os moradores já têm uma quantidade restrita de alimentos. Já a insegurança grave aparece quando os moradores passaram por privação severa no consumo de alimentos, podendo chegar à fome.
Cabe ressaltar que o direito humano à alimentação adequada está fortemente relacionado ao conceito de segurança alimentar e nutricional e é um dos direitos fundamentais da humanidade, sendo contemplado no artigo 25 da Declaração dos Direitos Humanos de 1948, da qual o Brasil é signatário.
Por cpers.com.br