MÍDIA E SOCIEDADE

Como lidar com a mídia na pandemia?

Mídia & Sociedade

Mídia & Sociedade – Por Wellington Pereira

O mundo enfrenta uma das piores pandemias de todos os tempos. Dos vírus conhecidos e mapeados pela ciência, até agora, o Coronavírus, em sua versão Covid-19, é o menos conhecido. Isto reflete, novamente, a perplexidade entre os desígnios dos deuses, a natureza e a evolução humana. Quanto menos informações científicas temos sobre o Coronavírus, mais informações com base no senso comum são produzidas buscando amenizar o cenário apocalíptico provocado pela Covid-19 – doença que mata com velocidade até então desconhecida. O problema está, justamente, no choque entre os níveis de informação que são agrupados nas diversas plataformas midiáticas sobre a Covid-19. Inicialmente, podemos pensar em três níveis de informações sobre a Covid-19 que são organizadas no campo jornalístico-midiático: 1) informações governamentais; 2) informações científicas; 3) informações jornalísticas. Para leitores, telespectadores, ouvintes e seguidores das redes sociais se faz importante demonstrar o que caracteriza cada nível de informação e o conflito existente entre eles. As informações governamentais são produzidas pelos governos federal, estadual e municipal. Elas têm como principal objetivo demonstrar as formas de organização do Estado diante do perigo que a Covid-19 representa para a população. Essas informações ‘oficiais’ são consideradas genuinamente políticas quando cuidam da Pólis – a arte de administrar as cidades, o que gerou o conceito de Política em Aristóteles. Mas em países como o Brasil e os Estados Unidos estamos assistindo a embates entre os entes da federação. Nesse sentido, as informações oficiais sobre o avanço da Covid-19 são eivadas de ‘arranjos ideológicos’ que, geralmente, obedecem às orientações do mercado financeiro, o que gera antinomias sociais entre os membros da república. As informações governamentais sobre a Covid-19 geram uma série de ardis contra às informações científicas, a partir de vieses caricaturais que procuram desacreditar quaisquer orientações que sejam contrárias à política dos líderes neopopulistas como Trump e Bolsonaro. Quando as informações científicas aparecem no campo midiático elas sofrem com dois problemas: a) o tempo de exposição de suas narrativas; b) a falta de interpretação adequada do discurso científico. O problema da exposição científica nas mídias, tão bem discutido por Pierre Bordieu, em seu livro, Sobre a Televisão – nos anos 1990- se materializa na ‘pressa’ exigida para que a fala do cientista não prejudique a audiência midiática ou na ‘tradução’ empobrecida de termos científico para a linguagem dos meios de comunicação. Por isto, é preciso ter muito cuidado com o discurso científico apresentado pelas mídias sobre a Covid-19, porque ele pode estar ‘embrulhado’ pela gramaticalidade da comunicação de massa. O discurso midiático sobre a Covid-19 pode se apresentar a partir de 03 modelos: a) enunciativos, b) anunciativos, c) opinativos. O discurso midiático-enunciativo (narrativo) é muito importante, porque se apresenta em geral no formato reportagem – gênero jornalístico no qual há a pluralidade de vozes e, geralmente, a diferença de opiniões. No discurso midiático-anunciativo (noticioso) temos apenas a exposição dos fatos como base nas técnicas de construção da notícia – gênero jornalístico que escolhe uma angulação do fato capaz de provocar uma melhor aceitação por parte dos receptores, o que  dramatiza os fatos sociais. A produção do discurso midiático-opinativo talvez seja uma dos mais importantes – apesar das observações de Bourdieu – porque no jornalismo opinião não é sinônimo de ‘opinião pessoal’, mas falar sobre o que se diz, ou seja, comentar, atribuir valor crítico ao fluxo de informações que circulam socialmente. Como toda técnica informacional é ideológica e toda informação tem um sujeito, o importante é que os ‘leitores midiáticos’ promovam uma circulação dos saberes entre si em um exercício de tese, antítese e síntese para testar a veracidade dos fatos midiatizados.

Redação DiárioPB

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