Comemorações dos cem anos da Revolução Bolchevique leva milhares de pessoas às ruas
Dezenas de cidades registraram comemorações. Moscou concentrou a maior parte dos atos populares. Muitos idosos sempre participaram das comemorações de aniversário da Revolução de 1917, mas a descrença com a política, a crise econômica e o aumento das oposições ao governo, fizeram com que as comemorações deste centenário tivessem uma presença maior de jovens.
Putin e a negação da Revolução Proletária
A posição oficial do reacionário governo Putin é não promover de maneira positiva a memória de 1917, limitando-se a atos institucionais dentro do calendário de comemorações civis. Em seu discurso oficial, seguindo o protocolo, o presidente Vladimir Putin lamentou o colapso da União Soviética em 1991 classificando como a “maior catástrofe geopolítica do século 20″, mas também frisou que a revolução que destruiu o Império Russo também provocou uma guerra civil devastadora que matou milhões.
Em uma clara tentativa de ignorar os avanços sociais e tecnológicos que a revolução proletária trouxe para o povo russo, Putin lançou esta: “Perguntemo-nos: não era possível seguir um caminho evolutivo pacífico ao invés de passar por uma revolução?”
Putin não mencionou nenhuma outra palavra sobre a revolução nos demais atos oficiais desta terça-feira (07 de novembro), trabalhando em seu gabinete e seguindo agendas de reuniões como se fosse um dia útil normal, ao contrário dos tempos soviéticos quando este dia era marcado como o feriado principal da nação. A atitude de Putin é nada menos que o reflexo das atuais classes dirigentes russas, que desejam muito mais se espelhar na herança dos impérios czaristas do que no período soviético.
Várias tentativas governamentais têm sido implementadas para apagar a memória de 1917. As tentativas remover o corpo de Lênin do Mausoléu da Praça Vermelha, as remoções de estátuas e bustos do líder bolchevique de praças e locais públicos são algumas delas, embora tais medidas enfrentem sempre a resistência em pequenas cidades e vilas onde tais monumentos tornam-se locais de peregrinação quando no aniversário de morte de Lênin (21 de janeiro).
Entretanto, segundo as agências de notícias divulgaram no mesmo dia, Putin ainda não aboliu do calendário civil a comemoração da Revolução Russa porque muitos membros do próprio governo e uma massa de jovens e trabalhadores ainda reverenciam a data como a principal data do calendário russo. A TV Estatal Russa exibiu uma série de documentários e filmes sobre o centenário da revolução, enquanto os canais privados pouco ou quase nada noticiaram.
O povo saiu as ruas
Mesmo o Kremlin ignorando o centenário da revolução, milhares de membros e simpatizantes do Partido Comunista marcharam no centro de Moscou, carregando retratos dos líderes soviéticos Vladimir Lenin e Josef Stalin. Cartazes com dizeres revolucionários e milhares de bandeiras com a foice e o martelo eram empunhados. Flores foram depositadas nas proximidades do cais onde está ancorado o navio-museu Aurora, encouraçado de guerra usado para sinalizar o início da tomada do Palácio de Inverno, sede do governo provisório em 1917.
O 7 de novembro deixou de ser feriado nacional em 1992. Mesmo assim, aqueles que reivindicam o comunismo e simpatizantes continuaram a homenagear a data. Este ano, temendo protestos e manifestações políticas, o governo permitiu que as massas marchassem perto do Kremlin para marcar o aniversário, mas os mantinham fora da Praça Vermelha, com um grande contingente policial de prontidão, caso a passeata se transformasse em um ato anti-Putin. O medo de 1917 ainda paira sobre as classes dirigentes em 2017.
Entretanto, tais marchas de cunho apenas comemorativo refletem o caráter traidor do Partido Comunista Russo que mesmo tendo nas mãos uma ampla massa de trabalhadores e jovens que atendem aos seus chamados para tais manifestações, se recusam a organizar o povo contra o capitalismo russo, limitando-se à uma luta parlamentar de oposições ao atual governo.
Enquanto o 7 de novembro (aniversário da Revolução Bolchevique, na Rússia) foi marcado por festividades, o dia 8 de outubro (aniversário de Vladimir Putin) foi marcado por protestos em todo país. Ondas de protestos varreram a Rússia em outubro, motivados por denúncias de corrupção nas entranhas do governo. A maioria dos manifestantes eram jovens. Um dos mais populares gritos de guerra da juventude russa tem sido “Por um futuro sem Putin”. O Partido Comunista Russo ao invés de aproveitar a ocasião e chamar “Por um futuro sem capitalismo”, aposta suas fichas no processo eleitoral de 2018 com a candidatura de Gennady Zyuganov, reformista e atual dirigente do partido.
Putin respondeu com repressão severa, violência, prisões e processos judiciais as mais de 80 manifestações registradas na data de seu aniversário. Ao mesmo tempo, o Partido Comunista Russo limitava-se a critica-lo no parlamento ao invés de convocar estes jovens a destruir o parlamento, como fizeram há 100 anos.
A popularidade de Putin enfrenta queda entre a população jovem e cada vez mais o período soviético desperta atenção da geração nascida após o colapso da URSS. Esta geração não têm parâmetros para comparar a vida antes e depois de 1991. O capitalismo russo não lhes oferece emprego nem boas condições de vida, ao contrário de seus pais que viveram a experiência sob um Estado Operário ainda que degenerado, esses jovens enxergam o passado soviético como uma alternativa para o presente sem futuro do capitalismo.
Fonte: Esquerda Marxista