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Com Bolsonaro, falta trabalho para 33 milhões de pessoas no país

IBGE identifica 14,8 milhões de desempregados, 7,4 milhões de subocupados e 10,8 milhões de pessoas na força de trabalho potencial no trimestre encerrado em maio.

Ministério da Economia Paulo Guedes e presidente Jair Bolsonaro. Imagem: MAURO PIMENTEL / AFP.

Mais uma vez, a realidade varre como onda um dos mais recorrentes castelos de areia do ministro-banqueiro Paulo Guedes: o “do ritmo acelerado de criação de empregos”. Menos de 24 horas após ele alardear os números do “novo” Caged, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostra que o índice de desocupados, subutilizados e fora da força de trabalho continua obsceno: 33 milhões de pessoas.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles apontam que no trimestre móvel de março a maio de 2021, mais 400 mil pessoas ingressaram no contingente da população desocupada, que era de 14,4 milhões até fevereiro de 2021 e agora é de 14,8 milhões de pessoas.

São mais 2,1 milhões de desempregados (ou 16,4%) frente ao mesmo trimestre móvel de 2020, quando já eram 12,7 milhões de pessoas.

A taxa de desocupação no período (14,6%) subiu 0,2 ponto percentual em relação à registrada entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021 (14,4%), ficando 1,7 pp acima do mesmo período de 2020 (12,9%).

É a segunda maior taxa de desemprego da série histórica, iniciada em 2012. A taxa recorde, de 14,7%, foi registrada nos dois trimestres imediatamente anteriores, fechados em março e abril.

“O desemprego do trimestre móvel de março a maio de 2021 foi de 14,6%, aumentando ainda mais em relação ao trimestre de dez/2020 a fev/2021 (14,4%) e mais 1,7% ante o mesmo trimestre de 2020 (12,9%). Tragédia social, provocada pelo Capiroto e seu ministro Guedes”, apontou o deputado distrital Chico Vigilante (PT/DF) em postagem no Twitter.

Para o IBGE, os novos índices indicam estabilidade diante dos períodos anteriores. “Estou comparando com março-abril-maio de 2020, quando estavam instalados os efeitos sobre a pandemia. Estou comparando ambiente pandêmico com ambiente pandêmico. Por isso que há essa reversão para um resultado de estabilidade”, ressalvou a gerente da pesquisa, Adriana Beringuy, ao portal G1.

Trabalho por conta própria é único que cresce

Segundo a pesquisadora, o desemprego ficou estatisticamente estável em relação aos dois trimestres imediatamente anteriores ao período levantado devido ao trabalho por conta própria, única categoria profissional que cresceu (3%) entre fevereiro e maio. Os trabalhadores por conta própria também tiveram a maior expansão, em um ano, entre a população ocupada.

Há 2 milhões de trabalhadores por conta própria a mais do que o registrado em maio do ano passado. Em contrapartida, na comparação com o mesmo período, o trabalho com carteira assinada no setor privado teve queda de 4,2%, ou 1,3 milhão de trabalhadores a menos, enquanto são mais 586 mil pessoas (ou 6,4%) entre os empregados no setor privado sem carteira assinada.

“Grande parte do crescimento da ocupação veio da informalidade, que é um movimento que a gente já vinha observando”, afirmou Adriana. Segundo ela, a taxa de informalidade no trimestre terminado em maio foi de 40%, ante 39,6% no trimestre anterior e 37,6%, um ano antes.

Mesmo assim, o trabalho informal ainda se encontra abaixo do nível pré-pandemia. Em maio, o país somou 34,7 milhões de trabalhadores informais, ou 2,4 milhões a mais do que há um ano. Mas na comparação com o trimestre pré-pandemia, entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, são 3,4 milhões a menos de trabalhadores informais.

“Ou seja, por mais que os informais venham aumentando sua participação na população ocupada nos últimos trimestres, o contingente ainda está num nível inferior ao que era antes da pandemia”, enfatizou Adriana.

No grupo dos trabalhadores informais estão empregados no setor privado sem carteira assinada, trabalhadores domésticos sem carteira, trabalhadores por conta própria sem CNPJ, empregadores sem CNPJ e trabalhadores que não têm remuneração.

No balanço geral, o levantamento do IBGE aponta que faltam oportunidades de trabalho para 33 milhões de pessoas.

São 14,8 milhões de desempregados, ou pessoas que não trabalham, mas procuraram empregos nos últimos 30 dias, mais 7,4 milhões de subocupados, que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais. O último número bateu recorde no final de maio. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, quando havia 5,8 milhões de trabalhadores nessa condição, a parcela saltou 27,2%.

Há ainda 10,8 milhões de pessoas na força de trabalho potencial. Elas estão divididas entre os 5,7 milhões de desalentados, que desistiram de procurar emprego, e 5,1 milhões que não têm disponibilidade no momento.

A gerente da pesquisa ressaltou que, no ano passado, o crescimento da subutilização estava muito relacionado às pessoas que poderiam trabalhar, mas não estavam buscando. A situação se alterou nos últimos trimestres.

“Hoje, quem está impulsionando o crescimento da subutilização é o crescimento da procura por trabalho e o daquelas pessoas que, embora estejam ocupadas, gostariam de trabalhar mais horas”, apontou.

Guedes quer “rever os procedimentos” do IBGE

Algumas horas após o IBGE desmentir os números duvidosos de Guedes, ele se apressou em questionar a metodologia do instituto. “Vamos ter que rever, acelerar os procedimentos do IBGE, porque o IBGE ainda está na idade da pedra lascada”, afirmou.

Guedes disse que a Pnad está atrasada porque o IBGE começou a adotar pesquisas por telefone durante a pandemia, enquanto o Caged trabalha com dados oficiais das empresas. À Folha de São Paulo, o instituto revelou que está retomando gradualmente as entrevistas presenciais.

Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) sofreu em janeiro do ano passado uma mudança radical em sua metodologia. A pesquisa passou a ser alimentada por informações provenientes do eSocial e agregou admissão e demissão de empregados temporários, aberração criada pela “reforma trabalhista” de Michel Temer.

“O trabalhador não tem segurança alguma. Você pode ficar contratado e passar o mês inteiro sem ser chamado para trabalhar”, disse o supervisor do escritório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em São Paulo, Victor Pagani, sobre o trabalho intermitente.

“O trabalhador não tem garantido nem o piso da categoria, podendo receber menos do que está convencionado coletivamente. Pode inclusive receber menos que um salário mínimo. Nesse caso, o tempo em que ele está contratado não é sequer considerado como tempo de contribuição para fins previdenciários”, acrescentou.

Segundo a Folha, o pesquisador Bruno Ottoni, do iDados e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), comparou um mesmo período (abril a dezembro de 2019) utilizando a série antiga e a nova do Caged. Encontrou uma diferença de 74% a mais para o resultado da nova metodologia.

Na prática, o Ministério da Economia induz o público ao erro ao divulgar os resultados do “novo” Caged como “recordes históricos”. “Desde o último trimestre do ano passado, estamos observando altas muito fortes do Caged. Nunca teve altas tão elevadas na série histórica toda, nem em 2010 (ano em que o PIB cresceu 7,5%)”, desconfia Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV.

Por via das dúvidas, é bom o IBGE inspecionar os dispositivos anti incêndio de suas instalações.

Fonte: https://pt.org.br/

Redação DiárioPB

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