TOCA DO LEÃO

Briga de foice no escuro no terreiro dos galegos

A guerra entre Rússia e Ucrânia repercute até no alpendre da casa de Zé Barata, influencer com bastante influência na produção de conteúdos na rede de arrasto da galhofa, diretamente de sua rede de dormir tipo Xingu, com massageador vibroterápico e varanda colorida de origem ameríndia, perfeita simbiose da modernidade supérflua e a inventividade indolente dos naturais. Essa arenga dos galegos europeus requer muita apreensão da humanidade. Como toda guerra, a crueldade e terror passam dos limites. O índio Mairiporã ensina que, se a pessoa soubesse o que é uma guerra e o que ela causa, não faria piadas, apenas pediria misericórdia a Deus e rezaria pelas almas dos falecidos nos campos de batalha. O mano Juliano acha que o Brasil vive sua guerra civil, batendo mais de 150 homicídios por dia. Uma baixa mais alta do que na guerra declarada. O Google cientifica que, “nos tempos em que o mundo era dominado pela Grécia Antiga, a técnica do humor foi primordialmente utilizada na área da medicina, basicamente como forma de tirar a tensão, entreter e aliviar o estado físico e mental dos indivíduos.” Seja como for, rir de nossas desgraças, que alguns chamam de humor tóxico, avacalhar o drama tem virado caso de polícia. Zombar do próprio infortúnio ou das tribulações alheias, entretanto, pode ser um jeito de suportar e resistir ao problema, mas sempre refletindo sobre ele.

Diante dessas considerações, nas minhas redes está liberada a chacota para desnudar o ridículo de certas situações do cotidiano neste mundo cheio de bafafá. E a concorrência é pesada no universo dos maloqueiros da “bixiga-lixa” dos sem noção. Humor involuntário? Temos, sim! O Primeiro Mandatário falando em suas lives é o exemplo de como uma tragédia pode ser ridícula. “Minha Nossa, essa vergonha é tua ou é nossa?”, vocifera o velho Ameba diante das insinceridades e lérias do chefe da mundiça brasileira. E acaba o Ameba fazendo, ele mesmo, o verdadeiro humor, que é a transformação de um contexto, surpreendendo com ideias inesperadas. Isso ajuda a rever conceitos e mudar o sentido das coisas, com altas doses de risibilidade.

Alegando insanidade temporária, o cronista sai das análises sobre a guerra, sem querer polemizar mais do que já é controverso o tema. Apenas me reservo a permissão de citar o escritor americano Kurt Vonnegut: “O Exército é uma escola que torna rapazes em maníacos homicidas para serem usados na guerra”. Nessa e em outras conflagrações, em certa altura as pessoas abandonam o hábito de raciocinar e se acostumam a serem aparelhos de reproduzir inverdades e caraminholas estúpidas nas redes sociais. Por isso eu fico em sossego, não opino. Porque estupidez é como brincadeira, tem hora. Agora vem o babaquara das quebradas nordestinas explicar a trama da guerra da Rússia para seus radiouvintes, depois de consultar entendidos no zap zap e nas sábias lives dos tais influencers. Ouçamos o popular:

“Sobre essa arenga aí da Rússia e Ucrânia, eu vou explicar pra quem é do Nordeste. É assim: a Rússia é aquele cabra metido a arrochado que quer porque quer baixar o lombo dos Estados Unidos da Arenga, e a Ucrânia é aquele amarelo cabuêta que gosta de dedurar os pareceiro e gosta de lamber sola dos ‘pé preto’ militar. Certo dia no sertão do Cabrobó que fica pro lado do oriente europeu, os disgramado dos americanos chamou a Ucrânia pra fazer parte do bando de cangaceiro deles e pra isso encheu a cuia dos ucranianos de munição e farinha quebradinha porque os ucranianos era metido a cunhão roxo e foi tirar graça com os russos que ficaram entufados e emburacaram na fazenda deles na baixa da égua, comeram o milho deles, mijaram no cacimbão deles, tudo com ordem do fí do cabrunco do tal do Putinho que é um infeliz das costa oca. Tudo isso se deu lá no calcanhar de Judas e agora os Estados Unidos dos Marreteiros ameaça começar o papoco do fim das era se os russos não pegar o beco e não deixar de pelejar com os ucranianos, mas os samangos da Ucrânia tão se amarrando e o sítio deles ta só o buraco e a catinga, ninguém sabe se escapa. E pra completar o fuzuê, um deputado do Brasil foi lá na Ucrânia e deixou seu tolete. É isso. Ta assim esse risca faca lá na Ucrânia. Ninguém quer pedir penico e a merda ta feita. Agora vou tomar minha talagada de remédio capa preta que o rapapé é grande. Inté mais…”

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Fábio Mozart

Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba. Autor teatral, militante do movimento de rádios livres e comunitária, poeta e cronista. Atualmente assina coluna no jornal “A União” e ancora de programa semanal na Rádio Tabajara da Paraíba.

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