Bolsonaro prejudicou vacinação contra covid-19, diz ex-coordenadora do PNI
Francieli Fantinato foi exonerada do cargo, na última quarta-feira, a pedido. Segundo ela, as evidências científicas mostram os benefícios da vacinação, mas politização da vacina promovida pelo presidente traz dúvidas à população.
(crédito: Pedro França)
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira (8/7), a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) Francieli Fontana Fantinato afirmou que deixou o cargo diante da politização da vacina, e afirmou entender que esta politização, promovida pelo presidente Jair Bolsonaro, prejudica a campanha de vacinação, em meio à pandemia. Francieli foi exonerada, a pedido, na última quarta-feira (7).
“Pela politização do assunto da vacinação, resolvi seguir meus planos pessoais”, afirmou. Em seguida, a ex-coordenadora disse ser prejudicial essa politização “por parte do líder da nação”, ressaltando que existem evidências científicas que mostram os benefícios da vacinação. “Espera-se que as pessoas falem em prol da vacinação. Quando termos todas as evidências favoráveis, qualquer pessoa que fale contra vai trazer dúvidas à população brasileira. É preciso que haja uma comunicação única”, disse.
Francieli frisou que, enquanto coordenadora, precisava de um apoio favorável à vacinação. “Quando o líder da nação não fala favorável, a minha opinião é que isso pode trazer prejuízos. Enquanto coordenadora, eu precisava de um direcionamento único”, pontuou.
Essa questão é amplamente comentada desde o ano passado por especialistas, que frisam a necessidade de o governo ter uma comunicação única no âmbito da pandemia, tanto nas orientações das medidas não farmacológicas, quanto no âmbito da vacinação. Entretanto, mesmo quando o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prega o uso de máscara de proteção, de distanciamento social, o presidente Jair Bolsonaro faz ações contrárias. Os sinais “trocados”, segundo especialistas, deixa a população sem saber o que fazer.
À medida que as vacinas contra covid-19 foram surgindo, o presidente as descredibilizou; afirmou que não via motivo para pressa da vacina e disse que não iria se vacinar. Depois, diante de grande repercussão negativa, começou a dizer que vai se imunizar depois que o último brasileiro for vacinado. Soma-se a isso a disputa travada pelo presidente contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vinha trabalhando em prol da vacina Coronavac, do Instituto Butantan, que fica em SP. Bolsonaro chegou a dizer que a “vacina chinesa de João Doria” não seria adquirida pelo governo federal.
Neste cenário, a CPI apura a demora do governo federal em comprar vacinas. Até o momento, elementos mostram que o governo atuou com ampla demora nas negociações de imunizantes como o da Pfizer, que fez a primeira oferta de vacinas ao Brasil em agosto do ano passado, com previsão de início de entrega em dezembro, mas cujo contrato só foi fechado em março deste ano, em meio a pressões, com vacinação mais acelerada em outros países.
Grupos prioritários
A ex-coordenadora disse ainda que as pressões de diversos segmentos para serem incluídos nos grupos prioritários de vacinação também atrapalharam a campanha. De acordo com ela, a definição desses grupos se deu diante do cenário de escassez de vacinas, com a definição de objetivos para a vacinação: primeiramente, pensando na manutenção da força de trabalho do setor saúde; na sequência, as pessoas que mais morriam “por morbidade e mortalidade”; por fim, e a manutenção do funcionamento dos serviços essenciais.
“Colocamos esses grupos prioritários, e tivemos pressões de diversos segmentos para mudar esses grupos, que foram definidos dentro de uma lógica, dentro de uma discussão da câmara técnica, que é formada pelas diversas sociedades científicas. São pessoas que estudam o tema, que entendem o conjunto epidemiológico e fazem a orientação junto a nossa equipe técnica deste protocolo. Sofrer pressões de todos os segmentos para entrada de grupos trouxe uma dificuldade na execução da campanha. Se tivesse vacina suficiente, não precisaria fazer essa fragmentação e nós evitaríamos toda essa pressão”, disse.
Fonte: Correio Braziliense