Bolsonaro falava a verdade (ou A fábula dos 30 mil)
Uma história de como o Messias cumpriu sua profecia
“Bolsonaro cumpre o que promete”. Concordo plenamente. Não há frase mais perfeita para entender que o nosso presidente cumpre com seus objetivos maiores, acima de tudo e por cima de todos. Não é mentira, se todas as mentiras ditas depois daquele dia foram para sustentar uma verdade. E essa verdade está estampada há algum tempo.
Pode não fazer muito tempo. Aliás, nem faz esse tempo todo. O ano era 1999, e o Brasil vivia uma democracia em sua plena infância, com mecanismos que haviam sido extintos há cerca de uma década, apenas. Com a noção de pluralidade engatinhando no imaginário nacional, demos voz ao pitoresco e polêmico Jair.

Em uma entrevista concedida naquele ano, Bolsonaro afirmou categoricamente que o regime militar (ao qual ele se recusa a admitir como ditatorial) “matou pouco”. E que ele, se hipoteticamente fosse eleito presidente, começaria “fazendo o que o regime militar não fez: matando uns 30 mil”. Ele sequer admite as mortes cometidas pelos militares.
No intervalo de duas décadas vimos a figura de Jair ganhar, aos poucos, exposição na mídia: ora pelo ridículo, ora pelo polêmico. Superpop, CQC e outros programas alimentaram a figura caricata de Bolsonaro, explorando a audiência que Jair rendia quando dava entrevistas.
Jair manteve-se no Congresso. Trouxe seus filhos e aliados para o convívio em Brasília. Elegeu sua prole no meio da sua escalada de poder, sem sentir incomodado com as leis antinepotismo sendo aprovadas em meio aos seus mandatos na Câmara. Rodeou-se dos seus, alocando-os nas assessorias dos gabinetes.
Duas décadas se passaram. O ignóbil deputado Jair, que ainda aprendia como “a roda girava” em Brasília, hoje comanda o país a partir do Palácio do Planalto, que trocou os estofados vermelhos e remodelou a arquitetura interna, turbinando o gabinete da esposa Michele e dando uma sala para o Carluxo, a qual os militares apelidaram carinhosamente de “brinquedoteca”.
Encastelado em seu palácio, Bolsonaro distribui cargos para comparsas, militares e o membros do Centrão, enquanto morrem milhares por dia por Coronavírus. Inocentes (ou não) numa guerra ideológica, assolados pela omissão. Somos vitimados numa pandemia onde o melhor remédio é bater a cloroquina com leite de soja transgênica e beber tudo na mamadeira de piroca, repetidas vezes ao dia.
A sociedade brasileira à beira de uma convulsão social, com 75% da população tentando manter mínimas medidas sanitárias para combater a pandemia; enquanto 25% das pessoas insiste uma rede de mentiras que propaga uma narrativa: “o Brasil só vai melhorar quando nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. (…) Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”.
Hoje rumamos a 30 mil vidas ceifadas numa guerra que se traduz em outras guerras: a guerra contra o gabinete do ódio e a rede de mentiras, o combate ao financiamento dos propagadores de fake news, a fiscalização da aplicação dos recursos durante a pandemia, a pesquisa por remédios e vacinas na luta contra a ignorância.
Hoje rumamos a 30 mil mortos, e ainda não paramos. Hoje miramos 30 mil mortos, e Bolsonaro falava a verdade. Por ação e omissão, o Messias cumpriu sua primeira promessa de campanha presidencial, feita vinte anos antes, em tom profético. Não há como negar: o sangue de cada um dessa meta de 30 mil ensopa as mãos de Jair e de seus apoiadores. E não vamos parar de contar, nem de sangrar.