‘Bacalhau do Batata’ estica a folia em Olinda e arrasta os foliões resistentes
Orquestras de frevo, bonecos gigantes, estandarte e centenas de foliões nas ladeiras do Sítio Histórico. Esse era o movimento, na manhã desta quarta-feira (1º), em Olinda, no Grande Recife. Para quem ainda tinha fôlego, entrava em cena o Bacalhau do Batata, que há 55 anos estica a festa e desfila pelas ladeiras da Cidade Alta, para provar que o carnaval de Pernambuco não termina na Terça-Feira Gorda.
O bloco foi criado em 1962 pelo garçom Izaías Pereira da Silva, conhecido como Batata. Como trabalhava durante os quatro dias de folia, ele fundou a agremiação como uma maneira de esticar a festa e conseguir se divertir no finalzinho carnaval.
Batata faleceu em 1993, mas deixou uma missão para os amigos: “Ele me pediu muito para não deixar morrer essa brincadeira”, contou Antonio Lucena Rodrigues, 67 anos, porta-estandarte do bloco há 48.
Segurando o estandarte, feito com bacalhau fresco, batata, cebola, tomate, cenoura e cebolinha, seu Antonio disse que participa do bloco por amor ao amigo Batata. “Enquanto puder, estarei aqui, subindo e descendo ladeira e carregando o estandarte. Faço por amor, carinho e respeito ao meu eterno amigo Batata”, revelou.
Presidente e sobrinha de Batata, a professora Fátima Araújo falou sobre a emoção de colocar o bloco na rua. “É uma tradição de família. Todos os anos, quando o bloco sai pelas ladeiras fico lembrando com saudades do meu tio. É uma emoção imensa ver o Bacalhau desfilando por mais um ano”, contou.
José Felipe Lima tem 48 anos e há trinta trabalha como garçom. Em ação durante todo o carnaval, só consegue folga na Quarta-Feira de Cinzas e, desde então, acompanha o bloco. Com uma roupa elegante de garçom para homenagear os outros colegas de profissão, ele revela que nem o cansaço de trabalhar nos quatro dias de folia atrapalha. “Cheguei cedinho e vou brincar o carnaval até de noite. Quando acabar o Bacalhau, sigo para os Irresponsáveis”, disse.
Quem também trabalhou durante os quatro dias de folia foi o orientador de trânsito Antônio José Queiroz, 38 anos. Apaixonado por carnaval, ele fez questão de aproveitar a quarta, seu único dia de folga. “Foi um sacrifício trabalhar enquanto todos se divertiam, então não podia deixar de curtir o finalzinho da festa”, declarou.
Ele foi ao desfile acompanhado da filha , Emily Queiroz, e da esposa, Cristiane Queiroz, que revelou que todo esforço é válido para curtir a folia. “Estacionamos o carro longe e viemos andando até aqui. Tivemos que subir essa ladeira [da rua Bispo Coutinho], mas foi bom que já chegamos aquecidos para dançar o frevo”, revelou Cristiane.
A Militar Adriana Bandeira, 39 anos, está aproveitando o carnaval desde a sexta-feira (25) e quer mais. “Vou trabalhar hoje à tarde, mas mesmo assim não podia deixar de aproveitar o finalzinho do carnaval, que já está deixando saudades”, observou.
Todos os anos, ela acompanha o desfile do Bacalhau do Batata. “O bloco é irreverente, animado. E o que eu acho mais legal é que mesmo todos estando cansados da folia ou do trabalho, ainda conseguem fôlego e vem pular o carnaval na quarta de cinzas”, comentou.
Adriana veio acompanhada da sobrinha, Maria Eduarda Rodrigues, 13 anos. “Eu brinco carnaval com a minha tia durante todos os dias da festa, então na quarta de cinzas não podia ser diferente. É uma festa comemorativa muito legal”, disse a garota.
E enquanto alguns não querem que a festa acabe, outros já estão pensando no próximo carnaval. Carregando uma placa com a frase “Calma! Faltam apenas 347 dias”, o aposentado Sérgio Barreto confessou que está ansioso para o carnaval do ano que vem. “Mal acaba um carnaval e já estou pensando na outro. Sempre conto os dias”, disse.
E para “esticar” um pouco a festa, Sérgio todos os anos vem acompanhar o Bacalhau. “Gosto da liberdade e da autenticidade do carnaval de Olinda, e o Bacalhau é uma tradição disso, um dos principais blocos, então não posso deixar de acompanhar”, contou.
G1