ENTRETENIMENTO

Auto majestoso – Quem não viu, vá ver!

Fotos: Acervo do Coletivo Porta Cênica

Opinião – Dalmo Oliveira.

A saga da manjedoura, com o fabuloso nascimento de Jesus Cristo, o “Rei dos Reis”, tem se tornado, há séculos, um roteiro surrado na cabeça dos teatristas do mundo todo. Encenado às vésperas do natal, a história do Nazareno, e todo o enrendo ao seu redor, acaba ganhando uma apelo emotivo a mais para as diversas plateias da cultura cristã ocidental. Mas o teatro, quando é bem-feito, consegue se reinventar e re-apresentar, de maneira surpreendente, as histórias mais batidas. É o que acontece agora com o singelo (e belíssimo) Auto do Rei.

Com uma sustentação de cena caprichada do Coletivo Porta Cênica (criado em 2011) o auto agrega ainda mais dois núcleos que se complementam harmoniosamente, na montagem da diretora (ela prefere ser chamada de “encenadora”) Kalline Brito. O delicioso Balé Popular da UFPB, sob a batuta do consagrado coreógrafo Maurício Germano, e um quarteto (quase armorial) montado pelo maestro, arranjador e compositor Bebé de Natércio.

A cena vai fluindo, primeiro com a dança, tendo como lastro principal cinco peças compostas por Natércio e pelo filho caçula, Xico Bizerra (Francisco Luís): “Gênesis”, “O bom Zacarias”, “Ave Maria da natureza”, “José e Maria” e “O meu rei nasceu”. Tocadas ao vivo, com interpretação de Meire Lima, e a participação de Raoni Barbosa, as músicas dão ao auto um clima de festa medieval (ou barroca), com os músicos e a cantante trajados a caráter, com o belo figurino, parte do acerco deixado por Roberto Cartaxo, fundador do Porta Cênica falecido em outubro, a quem, certamente, o espetáculo é dedicado.

O balé segue entrecortando a narrativa, acrescentando graça e leveza ao espetáculo. As pastorinhas dão um tom super-regionalista, quebrando a discursividade mais sacra do enredo.  Num dado momento, os dançarinos descem do palco e chamam a plateia para a festa, incorporando elementos das performances mambembes circenses, mixados com os folguedos da cultura popular do Nordeste. E haja frevo, maracatu, coco e forró no “cachimbo” pro Menino Jesus. A trilha do musical ficou por conta de André Luiz, um antigo conhecido da cena percussiva e da cultura afroparaibana local.

Limites do palco

 As dimensões e a qualidade acústica do palco instalado na Sala Vladimir Carvalho, que fica dentro do complexo da Usina Cultural Energisa, não colaboraram muito para que o espetáculo pudesse apresentar suas potencialidades cênicas. A plateia sentada linearmente em cadeiras de plástico também acaba sendo um ponto limitante. Mas nem por isso o Auto do Rei perde sua força. Destaque para a cenografia de Flávio Dantas, com composições acertadas utilizando referenciais nordestinos importantes como as costuras de retalhos.

Os adereços dos atores e atrizes contam com o toque luxuoso de Chico Viola, realçados competentemente pela maquiagem de Bruno Constantino. Na retaguarda tem ainda a assistência de produção de Heleno Campelo. No elenco principal, além da própria Kalline, e do Constantino, ainda estão Horieby Ribeiro, Bruno Fonseca, Hugo Salvador, Jô Costa e Sônia de Lourdes. O corpo de bailarinos traz Camila Palmeira, Fabiola Magalhães, Heleina Albuquerque, João Victor da Paz, Lidiane Albuquerque, Rafaela Cunha e Rogério Gomes.

No último domingo desse ano, 29, ocorre mais uma apresentação. Eles prometem que estarão ainda mais afiados. Eu só digo uma coisa: quem não viu, vá ver!!

 

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Redação DiárioPB

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